Capítulo 2: Bullying

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A escuridão lá fora era quebrada apenas pelas luzes fracas dos postes. O relógio na parede marcava 18h45. Eu estava no meu quarto, lutando contra a vontade de deitar de novo. Coloquei a blusa larga e amarrei o cadarço do tênis com uma lentidão deliberada, tentando esticar o tempo, mas sabendo que não tinha escolha.

Desci as escadas com a mochila jogada no ombro e encontrei Finneas na cozinha, mexendo no celular enquanto bebia algo quente. Ele parecia sempre saber exatamente como seguir em frente, enquanto eu me arrastava pela rotina como se estivesse com os pés afundando em areia movediça.

- Finalmente pronta? - ele perguntou, sem tirar os olhos da tela.

- É, tanto quanto dá pra ficar - murmurei, jogando a mochila na cadeira.

Peguei um pão na bancada e comecei a comê-lo sem pressa, mas Finneas pigarreou, como se quisesse dizer algo importante. Levantou os olhos para mim com uma expressão meio culpada.

- Então... Preciso te avisar: não vou poder te levar hoje.

Eu congelei por um momento, o pedaço de pão ainda na mão.

- O quê? - falei, já sentindo a irritação subir.

- Tenho que sair pra um ensaio, e vai ser do outro lado da cidade. Você vai ter que pegar o ônibus.

Apenas o pensamento de entrar em um ônibus já me deixava desconfortável. Meu corpo ficou tenso quase que automaticamente.

- Eu odeio ônibus - resmunguei, esperando que ele mudasse de ideia.

Finneas suspirou e me lançou um olhar firme, aquele que dizia: "Você sabe que não tem escolha".

- Eu sei, mas não tem outro jeito. É só uma viagem rápida. Vai dar tudo certo.

Eu bufei, jogando o pão de volta na bancada.

- Posso faltar hoje? - perguntei, mais na esperança do que acreditando que ele diria sim.

- Billie, você sabe que não. Se faltar aula, você vai pra lista negra escolar. Além disso, você já tem um histórico impressionante de faltar sem motivo.

- Bom motivo eu sempre tenho - rebati, meio de brincadeira, meio séria.

Ele sorriu, sem se deixar abalar.

- Só vai. Entra, senta e finge que não tem ninguém ao seu redor. Antes que perceba, você já chegou.

Suspirei, derrotada. Quando ele insistia, eu nunca tinha muita escolha.

- Tá. Mas se eu for atacada por algum maníaco, a culpa é sua.

- Lido com isso depois, prometo - ele respondeu, pegando as chaves e jogando a mochila dele no ombro. - Vejo você mais tarde. Se cuida, Billie.

Ele saiu pela porta da frente, e eu fiquei ali parada, tentando encontrar energia para sair também. Coloquei os fones de ouvido, como uma armadura para me proteger do mundo lá fora.

O ar da noite era frio e úmido quando abri a porta e dei o primeiro passo para fora. A rua parecia até mais silenciosa, mas ao mesmo tempo mais inquietante.

A caminhada até a parada de ônibus era curta, mas cada passo fazia meu estômago apertar. Eu tentava focar na música que tocava nos meus fones, mas o desconforto com o que me esperava no ônibus não me deixava em paz.

Quando virei a esquina e avistei a parada, senti um alívio momentâneo ao ver que havia pouca gente. Só uma senhora de casaco escuro e um adolescente mexendo no celular. Melhor assim. Menos pessoas para lidar.

Encostei na estrutura metálica da parada e respirei fundo. Só mais um obstáculo para sobreviver, eu pensei, enquanto o vento frio da noite soprava meu cabelo para longe do rosto.

Um Brilho Por Trás Do Bullying - Billie Eilish & S/NOnde histórias criam vida. Descubra agora