Capítulo 3: Oi, Billie Eilish

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Pov: s/n

Já se passara uma semana. Era a segunda, e a garota do banheiro, que descobri por nome de Billie Eilish quando os professores perguntaram por ela a semana toda, não apareceu mais nas aulas. Eu tentava me concentrar na rotina da escola, nas matérias, mas sempre que olhava os alunos entrando e não via ela, me perguntava o que havia acontecido. Talvez o que vi no banheiro fosse só a ponta do iceberg. Nate e Vitória pareciam continuar com suas vidas, rindo como se nada tivesse acontecido. Mas eu sabia o que tinha visto, e não poderia simplesmente ignorar.

Enquanto eu andava pelos corredores, o som abafado dos risos ecoava, e por mais que eu tentasse afastar a memória, a cena voltava à minha mente como um replay incômodo. A expressão de Eilish, os olhos vermelhos, a cabeça baixa, o medo que ela tentava esconder... e o prazer cruel estampado nos rostos de Nate e Vitória.

Não dava para fingir que estava tudo bem. Eu não poderia assistir calada enquanto eles esmagavam alguém daquele jeito. E me aliar a eles? Nem pensar. Eu nunca fui de fazer parte dessas panelinhas venenosas, onde a crueldade é uma moeda social.

No fundo, eu sabia que aquela escola, por mais organizada e perfeita que parecesse, era só um espelho do que eu sempre via: pessoas sendo pisadas por não se encaixarem nos padrões que alguém, em algum lugar, decidiu que eram os certos.

Naquele dia, no intervalo, eu andava distraída pelo pátio, observando os grupos espalhados pelas mesas e tentando não me envolver com ninguém. Só que algo dentro de mim não me deixava em paz. Eu precisava saber o que tinha acontecido com Billie Eilish. Não porque ela fosse minha amiga - na verdade, eu nem a conhecia. Mas a sensação de que eu havia participado de algo maior, só por ter defendido ela, ainda me incomodava.

A semana passava, e agora era quinta-feira. A sala de aula estava quieta quando entrei, ocupando meu lugar habitual no meio da sala. Nate e Vitória estavam no fundo, como sempre, cochichando entre si, provavelmente conspirando alguma nova provocação. Eu os observei de relance, sem dar muita importância. Meu foco estava em outra coisa.

Pouco tempo depois, a porta da sala se abriu devagar. Billie Eilish entrou. A mudança nela era perceptível à primeira vista. Suas roupas largas ainda escondiam a maior parte do corpo, como se ela quisesse desaparecer dentro delas. O cabelo, antes um pouco bagunçado de um jeito despretensioso, agora parecia mais desleixado, sem o menor cuidado. Mas o que mais me chamou a atenção foi o olhar. Havia algo apagado ali, uma tristeza tão profunda que parecia ter construído um muro ao redor dela, isolando-a do resto do mundo.

Ela caminhou até sua mesa com passos lentos e automáticos, como se estivesse ali apenas por obrigação, não por vontade. Não fez contato visual com ninguém. Nate e Vitória trocaram um olhar carregado de significado, aqueles sorrisos disfarçados de crueldade pura surgindo em seus rostos. Eles não precisavam dizer nada - a tensão no ar falava por eles.

Eilish, no entanto, parecia não notar, ou se notava, preferia ignorar. Seus olhos estavam baixos, fixos no chão, e ela se encolheu na cadeira como se quisesse se tornar invisível. Era como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros, e ela estivesse se arrastando por cada segundo da noite.

Eu a observei em silêncio. Queria falar algo, talvez perguntar se ela estava bem, mas o silêncio dela me manteve afastada. Era como se ela estivesse em um mundo só dela, tão distante do nosso que qualquer tentativa de aproximação seria inútil. Naquele momento, percebi que o que havia acontecido no banheiro talvez fosse mesmo a ponta de algo muito maior e mais sombrio.

E assim a aula começou, com ela ali, fisicamente presente, mas emocionalmente em algum lugar muito distante.

***

Eu não consegui prestar mais atenção na aula. As palavras do professor pareciam soar sem sentido, enquanto minha mente estava presa em pensamentos sobre o comportamento de Billie Eilish. A forma como ela havia entrado na sala, com os ombros curvados e o olhar distante, ainda pairava na minha mente.

O sinal do intervalo tocou, quebrando meu torpor. Enquanto os outros alunos se levantavam, conversando e rindo, percebi que Billie não se movia. Ela continuou sentada, absorta em seus pensamentos, como se estivesse em um mundo à parte. Um impulso me atingiu: essa poderia ser a minha chance de falar com ela.

Assim que a sala se esvaziou, hesitei por um momento, mas a determinação tomou conta de mim. Levantei e fui em direção à mesa dela, respirando fundo para acalmar os nervos.

- Oi, Billie Eilish - comecei, tentando soar casual, apesar do coração acelerado. - Você... não vai sair para o intervalo?

Ela olhou para cima, e por um segundo, nossos olhares se cruzaram. O rosto dela estava sereno, mas havia uma tristeza que eu não conseguia ignorar.

- Eu... não tenho muita vontade de sair - ela respondeu, a voz suave, quase como um sussurro.

Essa simples frase me fez perceber o quanto ela estava fragilizada.

- Eu entendo. Às vezes, é difícil estar rodeada de tanta gente, não é? - tentei me conectar.

Billie assentiu levemente, desviando o olhar para a janela.

- Uhum...

O silêncio se instalou entre nós, e eu sabia que tinha que fazer algo para quebrar aquela barreira.

- Sei como é não se sentir à vontade. Se você quiser, posso ficar com você. Não sou a maior fã de aglomerações também - ofereci, com um sorriso encorajador.

Ela olhou para mim novamente, parecendo ponderar minhas palavras. O ambiente ao nosso redor parecia um pouco menos opressivo agora.

- Obrigada. - ela murmurou, um leve sorriso surgindo em seus lábios.

Eu me senti aliviada por ter conseguido quebrar um pouco da barreira.

- Então, o que você costuma fazer durante o intervalo? - perguntei, tentando puxar conversa.

- Ah, normalmente fico por aqui mesmo, tentando evitar situações que não me interessam muito - Billie respondeu, seu olhar voltando-se para o chão.

Meu coração gelou, parecia nítido o que ela estava querendo dizer, como se já fizesse tempo que ela sofre algum tipo de bullying, mesmo sendo a segunda semana de aula e ela ter vindo apenas nos dois primeiros dias parece que o que aconteceu no banheiro não foi a primeira vez.

- Ah... Na minha antiga escola eu ficava com minhas amigas, agora que voltei pra essa cidade e to estudando aqui, como não conheço ninguém eu tenho passado os intervalos lendo - comentei.

Nosso diálogo fluiu naturalmente, e a tensão no ar começou a se dissipar um pouco. A cada palavra, sentia que estávamos criando um espaço seguro, longe dos olhares críticos de outros alunos.

- Então... A professora de geografia passou uma atividade em dupla essa semana, como eu tô sem dupla e você faltou esses dias, eu pensei agora se... Você não gostaria de ser minha dupla na atividade.

Pergunto e ela me olha com uma certa surpresa, como se aquela pergunta não fosse natural o suficiente pra ela, como se fosse anormal, incomum.

- É. Pode ser - Ela responde.

- Também posso te passar os conteúdos da semana passada e dessa semana que já tá quase acabando - Dou um sorriso acolhedor e o rosto dela parece corar. - A gente pode marcar esse final de semana se você tiver disponível...

Alguns alunos começaram a voltar pra sala e alguns olham minha proximidade com ela como se ninguém nunca chegasse perto dela pra se comunicar, sugiro que podemos nos encontrar pra fazer o trabalho na biblioteca mais próxima ou na casa dela, eu jamais a chamaria pra minha casa onde o babaca meu irmão deixaria o ambiente talvez um tanto desconfortável.

Um Brilho Por Trás Do Bullying - Billie Eilish & S/NOnde histórias criam vida. Descubra agora