CAULY

105 0 5
                                    

Em uma tarde abafada de clássico Ba-Vi, Cauly, o habilidoso meia do Bahia, preparava-se para mais uma partida decisiva. O clima era tenso, como sempre. Na arquibancada do Barradão, Aurora, uma apaixonada torcedora do Vitória, gritava com fervor ao lado da torcida organizada, o rosto pintado de vermelho e preto. Para ela, Cauly era o inimigo do dia, mas nem imaginava que, em breve, suas emoções iriam se confundir de uma maneira inesperada.

O jogo foi intenso. Cauly, inspirado, marcou o gol da vitória nos últimos minutos. Na comemoração, ele correu para a lateral do campo, quando seus olhos cruzaram com os de Aurora. O olhar dela era uma mistura de raiva pela derrota e uma curiosidade que ela não conseguia explicar. Ele sentiu algo estranho também, um calafrio. Seria apenas adrenalina do jogo? Talvez, mas algo naquele olhar ficou gravado.

Dias depois, por acaso, eles se encontraram numa festa organizada por amigos em comum. Aurora não podia acreditar quando o viu entrando, sorridente e descontraído. "Logo ele", pensou. Decidiu se aproximar, movida pela provocação.

— Você é o Cauly, né? — Aurora disse, fingindo desdém. — Aquele que destruiu o meu sábado no último Ba-Vi.

Cauly, sem perder o bom humor, sorriu de lado. — E você é aquela torcedora que quase me matou com os olhos. Ainda bem que estou aqui inteiro.

Aurora riu, surpreendida pela resposta. — Pode apostar, minha vontade era te ver no chão naquele dia.

— Pois é, ainda bem que eu estava rápido — ele piscou para ela.

Entre provocações e risadas, a tensão inicial se dissolveu. O charme de Cauly logo conquistou Aurora, e ela, com sua língua afiada e seu espírito competitivo, mexia com ele de um jeito que nenhuma outra mulher havia feito. Aos poucos, a conversa ficou mais leve, e o tempo passou sem que percebessem.

— Nunca imaginei que passaria a noite conversando com alguém do Bahia — brincou Aurora, mas seu olhar era mais suave agora.

— Eu também não esperava me divertir tanto com alguém do Vitória — respondeu ele, aproximando-se um pouco mais.

Aurora sentiu o coração acelerar. Não era só o fato de ele ser do time rival; era algo mais. Ele era diferente, e ela se via cativada por aquele jeito confiante, porém humilde.

— A gente devia parar por aqui — disse ela, meio sem jeito. — Se alguém nos vê, estamos ferrados.

Cauly a olhou profundamente nos olhos, e sem dizer nada, se aproximou ainda mais, agora a centímetros de distância. — Ou talvez... devêssemos continuar.

Aurora hesitou por um segundo, mas logo cedeu. Os lábios de Cauly encontraram os dela, num beijo inesperado, mas cheio de intensidade. As faíscas que eles sentiram no campo se transformaram em um fogo impossível de apagar.

--------

— O que acha que nossos amigos diriam se soubessem? — perguntou Aurora, deitada ao lado dele em um dos encontros secretos que tiveram em uma praia isolada.

— Que eu sou louco por estar com você — Cauly respondeu, sorrindo. — E eles estariam certos.

Aurora riu, mas a preocupação no fundo não desaparecia. — E se isso não der certo? Se um dia a torcida descobrir, se... nós não conseguirmos lidar com isso?

Cauly segurou o rosto dela com carinho, seus olhos fixos nos dela. — Eu não me importo com o que as pessoas dizem. O futebol é o que eu faço, mas você... — ele sorriu antes de beijá-la de novo, suavemente — ...você é quem eu escolhi.

Os encontros clandestinos continuaram, e a cada clássico Ba-Vi, as provocações entre eles só aumentavam. Certa vez, Aurora brincou:

— Se marcar gol de novo no meu time, pode esquecer de me ver essa semana.

— E se eu não marcar, você vem me ver? — Cauly perguntou, com um sorriso travesso.

Ela riu. — Veremos.

No campo, a rivalidade entre os clubes só acirrava os sentimentos entre eles. Aurora ia aos jogos com o coração dividido: a paixão pelo Vitória e o amor por Cauly, que crescia a cada dia. E ele, apesar de vestir a camisa tricolor com orgulho, sabia que seu coração pertencia à garota de vermelho e preto.

Um dia, o inevitável aconteceu. Um torcedor do Bahia flagrou Cauly e Aurora almoçando juntos em um restaurante e, rapidamente, as fotos se espalharam nas redes sociais. As críticas vieram de todos os lados. "Traidor" era o comentário mais brando que Cauly recebia, enquanto Aurora era ridicularizada pelos próprios torcedores do Vitória.

— Talvez devêssemos terminar com isso... — disse ela, abatida, num dos encontros. — Eu não aguento mais essas críticas.

Cauly, com o olhar firme, balançou a cabeça. — Não vou deixar o que a torcida pensa ditar o que a gente sente. — Ele a beijou de novo, dessa vez com mais força, quase como uma promessa silenciosa de que eles enfrentariam aquilo juntos.

No jogo seguinte, logo após um empate eletrizante no clássico, Cauly tomou uma decisão. Durante a entrevista pós-jogo, ao ser perguntado sobre a rivalidade, ele resolveu falar:

— A rivalidade é o que faz o futebol ser emocionante, mas fora de campo, as coisas são diferentes. Eu amo o Bahia, mas estou apaixonado por uma pessoa que torce para o Vitória. E isso não muda nada sobre quem eu sou ou o que sinto pelo meu time. Amor é algo maior que qualquer camisa.

Aurora, assistindo à entrevista, sentiu o coração acelerar. Cauly estava disposto a enfrentar o mundo por ela, e naquele momento, ela soube que nada mais importava. Eles estavam juntos, prontos para encarar o que viesse pela frente.

Com o tempo, a pressão diminuiu, e o casal encontrou seu espaço. Aurora e Cauly descobriram que o amor deles era mais forte que qualquer rivalidade, e entre beijos e risadas, aprenderam que, no jogo da vida, o coração sempre sabe para qual time jogar.

Fim.

IMAGINE JOGADORESOnde histórias criam vida. Descubra agora