Ada

“Oi pequenininho.” Escuro e cortante, uma voz irrompeu contra meu lóbulo da orelha, seu tom sinistro prometendo mil agonias. “Não acredite que vou deixar você escapar de mim.” Um escárnio estridente, seguido por um estranho chiado de ar. “Você está acorrentado a mim para sempre, e a morte será sua coleira.”

Corpo entorpecido, paralisado, apenas minha mente cambaleava com as palavras ameaçadoras enquanto eu ficava boquiaberto, sem piscar, para o que quer que aparecesse. Uma luz suave banhava meus arredores com lampejos de laranja. Eles se fixavam nos fios dourados bordados em centenas de travesseiros em uma pilha diante de mim, todos envoltos em damasco vermelho escuro e verde floresta. Membros emaranhados e rostos sorridentes apareciam entre eles, onde pessoas nuas descansavam, rindo enquanto me encaravam.

Todos, menos um.

Uma mulher nua balançava por um laço em uma viga. Ela se contorcia e se jogava na ponta de uma corda entre a moldura de pedra de uma janela alta e arqueada. Uma fila delas tinha vista para algum tipo de jardim extenso, onde pássaros vermelhos e amarelos tão grandes quanto corvos gritavam e assobiavam em árvores de formatos estranhos. Céus, que tipo de lugar era esse? Um hospício?

“É isso mesmo”, um homem sussurrou em meus pensamentos, a ressonância gentil em sua voz como uma isca prometendo salvação. “A loucura molda os pilares da minha corte, e a insanidade, suas paredes. Desculpe Leandra e suas más maneiras... enforcando-se na frente dos meus visitantes sem nem mesmo cumprimentá-los primeiro. Tão cansativa, a predileção dessa mulher por drama, como se ela não pudesse simplesmente cortar os pulsos silenciosamente. Mas eu deveria ser grato pelo enforcamento. Não é tão bagunçado, é mais fácil para meus tapetes, com certeza.”

Tribunal? Que tribunal?

“O Tribunal Entre Pensamentos.”

Não, isso não pode ser.

A última coisa de que me lembrava era… um chapéu de feltro escuro. Pa parado na moldura da nossa cabana. Luz refletindo em algo. Metal, talvez? E então… nada.

O que aconteceu?

Eu estava deslocado, e meus olhos pousaram em tapetes exuberantes que cobriam pedras amarelas, o rico tecido bege manchado de vermelho em grandes poças aqui e ali, com manchas menores ao redor. Sangue?

Como cheguei aqui?

Tentei olhar ao redor, mas a apatia fria congelou meu corpo inteiro em imobilidade. Por que eu não conseguia me mover?

“Terrível, não é, pequena?” Um sussurro ameaçador fez cócegas em volta da minha têmpora, sua familiaridade distorcida por um arfar barulhento, como ar sugando um fole quebrado. “Este estado crepuscular de meia-existência, consciente o suficiente para sua alma agonizar sobre ele, mas... Ah! Muito separado de sua forma para escapar dele.”

Eu não reconheci tanto a voz quanto a cadência suave que ela tinha, e como ela sustentava sua compostura fina enquanto rasgos de pavor se enterravam em meu corpo imóvel. Pertencia ao tipo de homem cujo rugido assustava, mas o verdadeiro terror estava em seu silêncio imperturbável.

Enos.

Meu Deus.

Meu marido.

Meu… mestre?

O frio cravou suas garras mais fundo em minha carne. Por que essa palavra ressoava em meu âmago como o eco de uma prece persistente? Isso importava? Abalada e desorientada, eu só queria que ele me colocasse em um ninho de peles e penas, se enrolasse em volta de mim como uma armadura e acariciasse a concha da minha orelha.

Rainha da Podridão e da Dor (A Corte Pálida #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora