Estou com você

Capítulo 44 - DR

Violet

Não consegui salvá-lo, ao invés disso, o assisti cair do prédio, parecia estar em câmera lenta, até atingir o chão com o baque que pode ser ouvido de onde eu estava. Fiquei congelada no lugar, sentindo minhas mãos tremerem, não sabia se era de impotência ou tristeza, mas sabia que um dos motivos era ódio. Como ela pode?

Vi meu pai e meus dois irmãos morrerem em minha frente anos atrás, e agora, mais uma vez, a cena se repetiu. O único amigo que me sobrará daquela época morreu na minha frente e, mais uma vez, não pude fazer nada para salvá-lo. Senti vontade de socar algo e foi o que fiz, só alguns socos no chão, como se pudesse tirar todos os sentimentos de dentro de mim dessa forma.

Teria socado mais se a Cait não tivesse colocado a mão em meu ombro, uma tentativa de me trazer de volta à realidade, infelizmente funcionou. Levantei-me ainda trêmula, não tive coragem de olhar para ela, não só por não saber o que falar ou fazer, mas também porque temia olhar minha namorada e notar a semelhança que ela tinha com a assassina.

Com um suspiro e sem dizer nada, comecei a andar para a saída do terraço, precisava chegar ao chão, precisava chegar no Ekko. Minha companheira pareceu entender que eu queria de espaço, pois também não disse nada e apenas me seguiu, mas sabia que ela estava atenta a mim, como se esperasse que a qualquer momento eu desabe, o que realmente era uma possibilidade.

O caminho até chegar ao chão me dava a impressão de que eu estava sonhando, mas a sensação passou quando entrei no beco em que se encontrava o corpo dele. Seus olhos estavam fechados, sua camisa encharcada do próprio sangue e uma de suas pernas em uma posição que não deveria ser possível.

Ajoelhei-me ao seu lado e coloquei a mão em seu pescoço, querendo encontrar pulsação, tinha plena consciência de que era impossível ele sobreviver ao golpe e a queda, mas precisava ter certeza. Obviamente, não havia mais nada, nem a mais fraca pulsação ou sequer um último suspiro. Foi só nesse momento que finalmente permite que as lágrimas viessem à tona.

Lembranças de outros tempos inundavam minha mente, momentos não só com o Ekko, mas com toda a minha família. Eu era a única que sobrou daquele tempo, todos estavam mortos, Mylo, Claggor, Vander e agora Ekko. Até mesmo a Powder, pois por mais que doesse admitir, Jinx podia ser minha irmã, mas não era aquela mesma menininha que conheci e cuidei.

Chorei por bons minutos até ouvir as sirenes de um veículo chegando perto do nosso local. Em algum momento, sem eu perceber, a Cait saiu de perto e chamou a emergência. Me recompus minimamente quando um grupo de técnicos do IML entrou no beco guiados pela minha namorada. Junto com a Cait, observei eles realizarem todo o procedimento para levarem o corpo do meu amigo embora.

Não haveria necessidade de transformar isso em uma investigação e cena de crime, pois a Xerife já havia testemunhado tudo e não é como se tivessem soldados livres para isso agora. Então, o trabalho deles era apenas levar o corpo e talvez fazer algumas análises nele. Quando finalmente se foram, percebi que teria que falar com os fogolumes e explicar o que acontecera e ver como iriam querer a despedida dele. Afinal, os fogolumes haviam se tornado sua família e amigos nos últimos anos, e o mínimo que podia fazer era eu mesma explicar o que aconteceu com seu líder e deixá-los decidir seu enterro.

Cait deve ter me guiado para fora, pois não percebi que já estava dentro da nossa viatura até começarmos a andar pelas ruas novamente, em direção à nossa casa. Parecia que eu estava no modo piloto automático, sem estar realmente presente, talvez só observando minimamente em terceira pessoa, enquanto me perdia na própria mente.

Sentia uma dor quase física pela perda, mas nem se comparava com a raiva que dominava. Raiva totalmente direcionada àquela maldita assassina, cuja qual também era irmã da minha namorada e companheira da minha irmã, minha cunhada de um jeito ou de outro. Sentia também um toque de hipocrisia da minha parte, pois Jinx não era muito diferente dela.