Consultório de Psicologia da médica Margareth Jones, Atlanta, Estados Unidos, dias atuais.
Margareth havia saído para ir ao banheiro e assim que voltou, sua paciente Juliette Diniz já a aguardava.
- Bom dia querida. - ela disse cordial como sempre.
- Bom dia.
- Como está você nessa segunda-feira?
- Estou indo.
Juliette gostava de fazer terapia. Para ela era importante externar suas emoções sem ser julgada.
Ela falou sobre o seu dia a dia, mas um assunto sempre vinha a tona: a vontade de voltar ao Brasil e a solidão no país estrangeiro.
- Eu já tenho 35 anos e confesso que também tenho estabilidade financeira construída com anos de dedicação, mas são três anos que não visito o Brasil. Nos primeiros anos para mim tudo era suficiente, mas agora eu sinto que a vida pode ir além, entende?
- Terminou sua faculdade e logo veio para Atlanta?
- Não. Eu ingressei na engenharia da computação aos 17 anos e aos 23 anos recebi a proposta de vir para Atlanta, não pensei duas vezes e embarquei nessa. Estou aqui a 12 anos.
Juliette tirou da bolsa uma foto e mostrou a psicóloga.
- Eu tenho saudades dessa Juliette aqui. Desse lugar. Eu sou goiana e como é bom sentir o cheiro do mato e estar perto da natureza. Sabe qual o meu sonho atual?
- Me fale dele...
- Comprar uma fazenda. Criar uns animais e ser feliz no campo. Estou bem exausta de horas afinco de trabalho.
- É da vida do campo que sente saudade ou é do seu namorado de adolescência?
Juliette fechou os olhos e relembrou momentos.
- Meu namorado de adolescência... Nós não fomos nem isso. Foi uma aventura amorosa. - ela sorriu. - Havia sentimento, mas eu fiz a minha escolha. Espero que ele seja feliz hoje em dia.
- Nunca teve notícias dele?
- Não. Mas também nunca as busquei. Acho que não me faria bem saber.
- Ele deve ter uma família.
- Tomara que sim. Ele era um homem honrado. - ela sorriu fraco. - Ele queria pedir minha mão em casamento ao meu pai, só por que perdi minha virgindade com ele.
- Não permitiu?
- Claro que não. Eu não queria casar naquele momento. Os meus sonhos não iam ser interrompidos por que a gente transou escondido. Mas essa atitude deixou ele muito magoado. No fundo, ele acreditava que eu tinha vergonha dele.
- E tinha?
- Tinha. Eu era louca por ele, mas quando ele começava a falar e a sonhar alto demais aquilo me irritava. Não fomos adiante por que éramos muito diferentes.