Capítulo 4

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Jerônimo olhava atento para Rodolffo ainda dentro do carro e sua cabeça imaginou que ele lembrou de Juliette.

Juliette é a sua quinta filha, depois dela houve outra menina que infelizmente morreu ainda recém nascida. De todos os filhos, ela foi a única que se dedicou e destacou nos estudos, mas ao mesmo tempo foi a que se distanciou demais da família nesses anos todos.

Há quase 20 anos atrás, quando Juliette ainda ali vivia, ela e Rodolffo tinham uma amizade de infância, que ela também partilhava com Gisele. Quando a mocidade chegou, Jerônimo suspeitava que os jovens tinham algum envolvimento amoroso, porém isso nunca foi declarado, até o dia que ficou inevitável negar.

Rodolffo tinha 18 anos, Juliette tinha recém feito 17 anos e tinha acabado de prestar vestibular. Tudo parecia igual como sempre, eles eram amigos e Juliette afirmava ao pai que tinha Rodolffo como um irmão, mas não era assim de fato.

As duas famílias eram amigas e na ceia de Natal daquele ano, o jovem casal se aventurou além da conta e Jerônimo os flagrou em uma situação clara de um envolvimento entre um homem e uma mulher.

Foi o maior escândalo. Jerônimo ficou furioso com o flagra. Rodolffo tentou explicar e afirmou que casados com Juliette, mas foi dela a palavra final: "eu não quero casar com você."

Até mesmo o próprio pai assusta-se quando lembra do modo como ela disse aquelas palavras. Então cogitou que era impossível que Rodolffo não recordasse.

Depois disso, tudo foi desfeito. As famílias antes amigas, viraram quase inimigas e Rodolffo nunca mais quis saber de Juliette depois que ela o expulsou de sua vida naquele fatídico natal. Errado ele não estava, então Jerônimo o compreendia.

Mesmo o compreendendo, nunca entendeu a filha. Juliette era fria demais. Quem a visse falando da irmandade que tinha com Rodolffo jamais ia imaginar que ela faria o quê fez com ele. Há homens que humilham mulheres, mas também há mulheres que humilham os homens.

Meio perdido nos pensamentos, Jerônimo observou Rodolffo descendo do carro.

- Vamos até o cavalo?

- Sim.

Seguiram a pé e Rodolffo percebeu que era observado por Tereza, esposa de Jerônimo, mas não a cumprimentou.

- Esse é o animal. - Jerônimo disse ao chegar no estábulo.

Rodolffo era muito alisador e sua consulta era um pouco demorada. Ele tinha muito cuidado com o diagnóstico.

- É uma má digestão severa. O cavalo está sentindo muita dor e até a temperatura corporal está alterada. Estou preocupado. Mas vou lhe  medicar agora mesmo.

Ele aplicou duas injeções e uma dose na boca do animal. Enquanto fazia carinhos na cabeça do cavalo.

- Eu espero que ele fique bem. Mas vou receitar mais medicação oral. O senhor mesmo pode dá e hoje nada de ração para ele, mesmo que tenha melhora. Amanhã, se ele estiver disposto, apenas ração sem milho.

Jerônimo olhava para Rodolffo e lembrava de Juliette.

- Quanto é o seu trabalho?

Rodolffo não demorou a dizer e Jerônimo não demorou a pagar.

- Eu posso te procurar em caso de dúvidas?

- Sim. Estou a disposição. O senhor sabe onde me encontrar.

Rodolffo ia saindo do estábulo com Jerônimo e Tereza abordou os dois.

- Tem café e bolo quentinho. Vamos lanchar? - ela convidou animada.

- Muito obrigado senhora. Tenho outros compromissos. Melhoras ao cavalo.

Rodolffo saiu sem olhar para trás e Tereza ficou junto de Jerônimo vendo o partir.

- Ele parece que não nos conhece.

- Ele não disse meu nome uma vez sequer, mas não me tratou mal.

- Lembro que ele gostava tanto do meu bolo e a Juliette também. Tudo podia ter sido diferente.

- Não o culpe. Já me perguntaram várias vezes por que eu não fiz justiça. Achavam que eu deveria matar ele por que minha filha se perdeu. Nunca imaginei isso. Fiquei chateado por que fui enganado, no mais respeitei a decisão de Juliette e não tem mais o quê fazer.

- Nossa filha não casou. Ele casou e não deu certo. Eu ainda o quero como genro Jerônimo.

- Vai sonhando mulher... Vai sonhando. Juliette é alta demais e ele nunca sairia do país. O jeito dele é esse aí a vida toda, nossa filha mudou demais.

...

Enquanto isso Rodolffo ia guiando seus carro sem pressa.

Sua lembrança lhe trouxe uma recordação de uma tarde de sábado. Onde era sagrado ele ir visitar a amiga de infância. Nessa época ela tinha 13 anos e ele 14 anos.

"- Vem Rodolffo, a minha mãe fez bolo.

- Hum... Eu quero. Mas...

- O quê?

- Xuliette...

- xiiiii!! Mais tarde.

Ele segurava a mão dela.

- Não esqueça que promessa é dívida.

- Eu vou te ajudar na tarefa. Só estou com preguiça agora. É para segunda ainda.

- Mas amanhã eu não venho aqui. Tenho que ajudar ao pai.

- Sempre isso. Nunca vem me ver no domingo.

- Eu preciso ajudar o meu pai. Entenda.

- E se eu fosse visitar vocês?

- Então vai...

- Eu sinto a sua falta. Ainda mais agora que estamos separados de turma. Isso é injusto.

- Mas você nem quer saber de mim na escola. Só quer ficar com aquelas chatas.

- Não é verdade.

- Você sabe que é.

- Meninos venham... O café vai esfriar. - Tereza gritou por eles.

Juliette deu um beijo no rosto de Rodolffo e lhe disse:

- Eu sempre vou querer saber de você, bobinho. Eu te gosto um montão assim. - ela fez uma abertura com os braços.

- Eu já gosto de você do tamanho que ninguém sabe medir.

Juliette sorriu e ele segurou seu rosto com as mãos. Eles estavam sozinhos na área externa da casa e ninguém poderia vê-los.

- Eu quero fazer uma coisa... - ele disse baixinho.

- O quê? - ela disse quase num sussurro.

- Não se mexe.

Ele uniu seus lábios ao dela de forma rápida e inesperada. Ela levou a mão aos lábios.

- Não posso fazer isso...

- Só comigo... Por favor não conta.

Tereza chegou junto deles e Juliette desconversou. Juntos foram comer o café da tarde."

- Você nunca gostou de mim. As suas palavras me iludiram, mas as suas atitudes diziam tudo. - ele disse em voz alta, mesmo estando sozinho.

...

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