Rodolffo estava sem jeito e não fazia contato visual. Seus dedos mexiam na aba do chapéu e Juliette sentiu que ali estava o seu Rodolffo de tantos anos atrás.
- Meu pai sempre me dizia que se Jesus tinha perdoado Judas, nós devíamos perdoar os nossos inimigos. Mas não é fácil conceder e nem pedir o perdão.
- Eu sinto muito pela partida do seu pai. Que Deus o tenha, seu Elias gostava de mim. Na última vez que vim aqui nos encontramos.
- Sério?
- Sério. Ele não te disse?
- Não. Mas o meu pai era muito coração, porém eu puxei mais a minha mãe.
- Não concordo com isso.
Juliette e Ana sempre tiveram diferenças, a relação sempre foi amistosa.
- Eu já tentei justificar mil vezes o quê você me fez. Não pense que foi por que não quis casar comigo. É que a forma como você me olhou doeu tanto.
- Eu queria ser convincente, mas chorei tanto depois.
- Não acredito. Infelizmente não tem como eu acreditar que você chorou.
- Não acredita que havia amor em mim?
- Não. É isso que também dói muito. Você dizia olhando nos meus olhos que me amava, mas não sentia isso. Por que fazia isso?
- Eu senti muito a sua falta. Que acredite ou não, abrir mão do seu amor foi a coisa mais dolorosa que já fiz. Tudo o quê vivemos não pode ser rasgado ou apagado... Você é o pai do meu anjinho.
- Não fale... Por favor. - ele disse fechando os olhos.
Juliette continuou a falar.
- Quando houve a reunião da família na casa dos meus pais, foi inevitável não lembrar que se ele tivesse vivo era a neta ou neto mais velho. Mas eu sei que não fui boa com ele.
Rodolffo olhou fixamente para Juliette.
- Talvez não tivesse jeito, mas o médico me disse que eu poderia tomar uma medicação e tentar impedir o aborto.
- Você não tomou a medicação?
- Não. Me perdoa por não ter te dito isso na época.
- Você tomou alguma coisa para abortar? Seja sincera.
- Não. Juro pela minha vida que não fiz isso. O médico disse que não garantia que eu conseguiria segurar por que o trabalho de parto já estava em andamento, a dilatação acontecia.
- Acredito que não haveria medicação que segurasse nesse caso.
- Hoje eu convivo com a dor de não ter tentado. Mas sinto que estou pagando caro pelos meus erros. - Juliette se pôs a chorar, algo muito incomum de acontecer na frente de qualquer pessoa.
- Não adianta chorar...
- Eu me arrependo dos meus erros de forma sincera. Esses anos todos não me trouxeram a felicidade que jurava que conseguiria. Dinheiro e dinheiro foi apenas o quê eu consegui.
- Eu preciso ter paz e com você perto isso é mais difícil...
- Ainda me ama Rodolffo?
Ela ficou mais perto dele.
- Não. Eu já fui casado com outra mulher. Já tive várias experiências depois de você.
- E por acaso isso significa que não haja mais sentimentos por mim?
- Essa conversa saiu do rumo nesse momento.
- Se eu te perturbo tanto é por que ainda mexo com os seus sentimentos. - ela colocou a mão no peito de Rodolffo. - E se ainda há algum carinho por mim sei que já tenho o seu perdão.
Eles se olharam e Rodolffo tirou a mão de Juliette.
- Não me procure nunca mais e eu juro que vou tentar te perdoar. Isso é importante para mim também. Eu preciso ter paz, me libertar dessa dor.
- E eu quero você na minha vida de novo.
- Não diga o quê nunca vai acontecer...
- Se é tão convicto de que não quer que eu te procure mais, então diz o meu nome...
- Juliette eu não quero você na minha vida. Te perdoar não significa que voltaremos a ser amigos.
- Não quero ser sua amiga...
- Acabou de dizer o contrário, está vendo como é você? Nunca soube o quê quer da vida.
- Eu vou lutar para reconquistar você. Eu te quero comigo. Nem que isso seja a última coisa que eu faça na vida.
- Você não está falando sério...
Juliette umedeceu os lábios e olhando nos olhos de Rodolffo lhe disse:
- Eu quero ser sua mulher de novo...
- Nunca vai acontecer.
- Vai sim. - ela atrevidamente deslizou as pontas dos dedos na barba de Rodolffo e ele a parou. - Eu sei que você foge por que tem medo de me amar ainda mais.
- Que loucura é essa? Acha que vai voltar depois de anos e eu vou te querer? De jeito nenhum e a nossa conversa acaba aqui. Para o carro agora.
- Por hoje é só Rodolffo... Por hoje...
Ele abanou a cabeça e entraram no carro. Logo deixava Juliette na casa dos pais e seguia para a sua. Se estava confuso no início da manhã, agora estava completamente surpreso com a proposta de Juliette.
- Deus me livre... - ele disse em voz alta.
...
Tereza e Jerônimo ficaram na expectativa de alguma novidade vindo de Juliette.
- Conversamos e nos acertamos. Está tudo bem e sem mágoas.
- Isso é sério? - Jerônimo tinha a mão na boca.
- Não estranhem se em breve Rodolffo aparecer aqui. Por hoje é só.
Tereza sorriu e juntou as duas mãos. Jerônimo estava muito surpreso.
...
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