Juliette estava em observação e claramente sentia muito pelo diagnóstico tão recente. Diante disso, pediu que sua psicóloga vinhesse te ver.
Margareth Jones não exitou a ir ver sua paciência e também foi informada do diagnóstico que a sua paciente recebeu.
Juliette já estava fazendo terapia com Margareth a algum tempo, mas a médica sentia que ela era superficial demais. Ela buscava mais a terapia para ter alguém com quem conversar e não exatamente para tratar seus traumas ou desilusões.
- Olá Juliette. Como se sente?
- Nunca estive tão mal. Senta aqui. - Margareth sentou próximo a cama de Juliette. - Eu descobri que estou morrendo. Tenho um aneurisma cerebral.
- Eu sinto muito. Mas a medicina avançou muito. Há sempre esperança.
- Não sei. Até a cirurgia é arriscada.
- Suponho que agora a sua vida vai mudar drasticamente.
- Eu vou embora para o Brasil assim que for possível. Não quero morrer aqui sozinha.
Juliette secou algumas lágrimas do rosto.
- Margareth eu estou pagando o preço pelos meus erros. Não fui uma boa amiga para ninguém. Não fui uma boa filha e nem tão pouco boa irmã. Como namorada eu fui horrível e como mãe a mais desnaturada que Deus já fez.
Margareth olhou para Juliette com estranhamento.
- É... Eu fui mãe por pouco tempo, mas fui.
- Me explique esse fato. Nunca me falou sobre ele.
- Só existem no mundo quatro pessoas que sabem disso. Minha mãe e eu, Rodolffo e o seu Elias.
- Engravidou do seu primeiro namorado?
- Sim. Rodolffo é o pai do meu anjinho. Na verdade eu não sabia que estava grávida. Sofri um aborto espontâneo e estava com três meses. - ela fez uma pausa e ficou mexendo nos dedos. - Eu tinha feito 16 anos não tinha muito tempo e depois que aconteceu a nossa primeira vez... Aaaah nós queríamos mais e sempre mais um do outro. Éramos irresponsáveis e apaixonados. Minha menstruação nunca foi muito regular e eu não me preocupava com ela. Na verdade eu achava o máximo não menstruar.
- Então foi uma surpresa?
- Eu amanheci me sentindo muito mal naquela manhã de quarta-feira, então minha mãe me deu chá. Na minha cabeça, tinha sido comida que tinha feito mal. Assim fiquei por um bom tempo do dia, até começar a sentir as piores dores do mundo. Meu pai fretou um carro e minha mãe foi comigo para o médico. Inicialmente acharam que poderia ser apêndice e eu fiz uma ultrassonografia de emergência. Nesse exame o médico constatou que não era apêndice. Eu tinha um feto dentro de mim.
Margareth ouvia atenta.
- Minha mãe chorou muito, ela não sabia que eu tinha perdido a virgindade. Enquanto eu estava revoltada. Soa ruim, mas é a verdade. Eu fiquei furiosa com o diagnóstico e os médicos tentaram me medicar para tentar interromper aquele aborto, mas não deixei de jeito nenhum. Sofri e chorei muito pelo incomodo daquela situação, mas não pelo meu filho que eu segurei entre os meus dedos.
- E isso te faz sofrer?
- Sim. Eu me sinto culpada. Se a medicação tivesse sido feita, talvez ele tivesse vindo ao mundo.
- As vezes não seria eficiente. O aborto já estava acontecendo.
- Eu contei a meu pai que tinha sido uma crise de gases. Minha mãe nunca mentiu para ele, mas fez isso por mim. Já a Rodolffo eu disse uma parte da verdade, ele não sabe que me recusei a tomar a medicação. A tristeza no olhar dele foi tanta que nunca saiu da minha mente. As vezes eu sonho com aquele olhar triste e distante dele. Naquele dia eu prometi que nós teríamos um filho no tempo certo, mas no meu íntimo já sabia que se passasse no vestibular eu iria embora.
- Você não tem vontade de procurá-lo e contar a verdade? Os sonhos vem da nossa consciência, a sua deve estar pesada.
- Eu vou fazer isso assim que estiver na nossa terra, mas acho que se contar a verdade nunca vou conseguir o perdão dele. Sou consciente que Rodolffo me tem muito rancor. E olha que ele nunca foi rancoroso com ninguém.
Margareth chegou mais perto de Juliette e segurou sua mão.
- Não te aconselho comi profissional, mas como pessoa humana. Tente se redimir dos seus erros, só assim conseguirá paz para a sua alma.
- Eu não quero morrer e isso é um pensamento egoísta, por que eu sempre fui assim.
- Quais são os seus sonhos? Se não houvesse mais tempo, o quê você queria que acontecesse com a sua vida agora?
- Eu queria só poder voltar no tempo. Eu queria ser como a minha mãe é. Incrivelmente hoje eu sou uma mulher importante para uma grande empresa multinacional e tenho bastante dinheiro, mas não chego aos pés da minha mãe. Ela é uma mulher simples, estudou pouco, nunca foi muito longe, casou-se cedo, teve seis gestações, mas ela é rica de tudo que o dinheiro não compra. Sinto muito a falta dela, mas não a ligo com frequência por que eu sinto que isso me torna fraca.
- Ligue para sua mãe e para os seus de modo geral. Externe os sentimentos e tente não abandonar a terapia quando voltar ao Brasil. Confie que tudo ficará bem e que esse diagnóstico não é o fim. Vá viver como a sua mãe ou como uma grande profissional, mas abandone as mentiras e as manipulações.
Margareth abraçou Juliette e não cobrou a consulta, a deixando sozinha.
Com o smartphone em mãos, ela ligou para a mãe e conversaram por minutos, porém Juliette não falou que estava no hospital.
- Mamãe... Eu quero saber se posso voltar a morar com vocês por um tempo...
- Ainda me pergunta? Claro que sim minha filha. É o quê mais sonho é ter você perto de nós. Já pedi tanto a Deus por isso.
- Ele atendeu suas preces. Não volto mais aos Estados Unidos.
- Juliette, posso te contar um ocorrido?
- Conta mamãe...
- Rodolffo esteve aqui com seu pai. Veio medicar um cavalo que tava bem doente. O bicho está muito bem, acredita?
- Acredito. Mamãe, me fale do Rodolffo. Eu nunca perguntei, mas agora tenho curiosidade. Ele é casado, é pai?
- Eu nunca contei por que você nunca quis ouvir. Rodolffo é divorciado. Ele casou com a filha do Valdomiro.
- Não sei quem é. Por que separaram?
- Por que ela sempre foi danada. Ele não soube escolher bem. Tão bom rapaz que ele era filha. Raquel traiu ele e ainda deixou o coitado. A vizinhança inteira comentou na época que ela saia com um vaqueiro de nome Vanderlei.
- Mas ele não casou novamente?
- Até agora não, mas ele é muito bonito para viver sozinho filha. Com certeza há alguém, não é?
Juliette não respondeu.
- E o seu Elias, a senhora tem o visto?
- Filha, o seu Elias partiu tem mais de dois anos.
- E a senhora nunca me disse isso, por quê?
- E te interessava?
- Meu Deus... O seu Elias mamãe... Ele era tão bom comigo. Como foi?
- Ele sempre saia para o plantio, já era um costume antigo, mas nesse dia demorou muito e não foi almoçar. A Ana estranhou e pediu ao filho que fosse vê o quê aconteceu. Rodolffo o achou sem vida embaixo da mangueira.
Juliette começou a chorar.
- Não chore minha filha. Ele morreu igual um passarinho.
- Que Deus o tenha. Foi um homem incrível. Mamãe eu te amo muito. Estou voltando.
- Venha minha filha. A mãe também te ama muito.
A ligação foi encerrada e Juliette ficou envolta da sua tristeza.
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