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Dulce Maria

Saí da igreja correndo, como se fosse um mal sendo exorcizado de território divino. Passei pelo coroinha à toda velocidade, e apesar de perceber seu estranhamento, não ousei parar nem com o objetivo de disfarçar minha atitude. Estava assustada, frustrada e absolutamente excitada com o que tinha acontecido dentro da sacristia.

Desejei ser tomada pelo padre ali mesmo, sem qualquer pudor ou respeito.

Só consegui parar quando entrei em casa, com a respiração ofegante e o coração acelerado pelo exercício e pelas recentes emoções. A clareza foi me atingindo e me sentia ainda mais culpada por tudo que fiz. Não devia ter ido lá. No fundo, desejava ver padre Christopher de novo, o restante foram apenas desculpas que dei a mim mesma para justificar o fato de ter acordado cedo para assistir a uma missa, sendo que nem me considerava a melhor das católicas.

Rememorar cada olhar que trocamos me matava por dentro. Ainda que não tivesse sido minha pretensão, a curiosidade falou mais alto e foi como se uma entidade amaldiçoada o tivesse tocado na maior vulgaridade.

Acariciei e o apalpei por causa de um desejo gritante de conhecer o que existia por baixo daquela batina.

Eu desconfiava que ele era forte, musculoso. Padre Christopher sem dúvida nenhuma malhava, o que por si só já era algo impressionante. Não imaginei que padres poderiam ser sarados. Havia um homem enorme ali, escondido por várias camadas de tecidos religiosos, sagrados. Agarrar a sua ereção me fez comprovar o quanto aquele ser camuflado era grande. E muito grosso. Sinceramente, um verdadeiro desperdício, pois aquele pau todo faria um estrago, em condições normais.

Chacoalhei a cabeça para me livrar de tanto pecado, tanta heresia. Já não bastava ter me masturbado pensando nele, cometendo um sacrilégio apenas dentro de minha cabeça; naquele instante, precisei lidar com uma atitude que o envolvia diretamente, e que com certeza o deixara perturbado, desconfortável.

O coitado era um santo. Até cogitou uma denúncia, coisa que gente de caráter duvidoso jamais faria. Sua bondade, gentileza e educação me encantavam e, infelizmente, deixava-me louca de tesão. Não consegui conter os pensamentos libidinosos a cada palavra bonita que saía de sua boca. Imaginava-o com aqueles lábios cheios envolvendo minhas carnes mais ocultas, e aquela barba resvalando entre as coxas.

Por outro lado, o fato de ele não me afastar no primeiro instante me intrigava. Por um mísero tempo, insuficiente para me trazer qualquer saciedade, porém o bastante para me atordoar, ele aceitou aquilo tudo e até demonstrou sentir prazer através de gemidos que me tiraram do sério, fizeram com que eu perdesse, de vez, a compostura.

Não queria continuar pensando em padre Christopher e naquela loucura toda, por isso me concentrei, pelo restante do dia, em juntar e embalar os pertences de Paco. Tudo o que me incomodava dentro daquela casa foi colocado para doação, e no fim descobri que vivia rodeada por coisas que me afetavam negativamente. A casa ficou meio vazia.

No fim da tarde, reconheci o coroinha da igreja, que todos chamavam de Toninho, batendo palmas no portão. Ele avisou que estava com um carroceiro e que recolheriam as coisas de Paco, portanto deixei que entrassem e me ajudassem com as caixas.

– É tudo isso, dona Dulce? — ele perguntou, meio espantado, olhando para dentro da minha casa com curiosidade. A sala estava tomada, quase não se via o chão.

–Sim... São lembranças que não quero ter. Outras pessoas farão proveito do que já não preciso mais.

– Entendi. — Ele sorriu com bondade. — Padre Christopher pediu que eu agradecesse pela doação. Será de grande valia para os necessitados.

A sombra do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora