Epílogo

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Christopher

Dois anos se passaram desde que tomei a decisão mais audaciosa da minha vida. Acordo todas as manhãs ao som de risadas infantis que ecoam pela casa e pelo aroma envolvente do café fresco que Dulce Maria prepara com tanto carinho. Ao abrir os olhos, sou saudado pela visão dela, sentada na cama, com nossa filhinha, Luna, de dois anos e meio, nos braços. É uma cena que nunca imaginei viver: o brilho nos olhos de Dulce, cheio de amor, e o sorriso inocente da nossa filha iluminam meu mundo.

As memórias dos dias pesados e confusos após a nossa fuga ainda estão vivas em mim, mas agora elas fazem parte de uma história de superação. Cada dia era uma luta interna para deixar para trás o peso do passado e as sombras que me seguiam por tanto tempo. A vida na igreja, com sua apatia e suas exigências rígidas, parecia uma prisão, e agora, ao olhar para o nosso lar, vejo que finalmente encontrei a liberdade que sempre busquei. A vida que construímos juntos, longe dos muros frios, é a verdadeira vocação da minha alma, e nada, nem mesmo as regras mais severas, poderia me privar dessa felicidade.

Os primeiros meses após a nossa fuga foram tumultuados. Luís, consumido pela culpa e pela pressão, decidiu se entregar à polícia, assumindo a responsabilidade pelo assassinato de Paco. A verdade, finalmente revelada, trouxe um alívio inesperado. A vida de Dulce Maria agora é livre do fardo do passado; ela pode viver sem o medo constante que a acompanhou por tanto tempo. A sensação de segurança que sentimos agora é indescritível, como se um peso enorme tivesse sido tirado de nossos ombros.

O delegado Herrera, que tanto se envolveu nas investigações, desapareceu de nossa vida como uma sombra que se dissipa ao amanhecer. O que realmente aconteceu com ele? Nunca mais ouvimos falar de suas ações, e os rumores que circulavam na cidade indicavam que ele havia sido preso por acusações de pedofilia. Talvez tenha sido a justiça divina se manifestando de alguma forma. A sensação de que a verdade prevaleceu me traz um certo alívio, como se o ciclo de dor finalmente tivesse se encerrado.

Enquanto observo Luna, que agora corre pela casa com a energia típica de uma criança da sua idade, sinto um misto de alegria e orgulho. Seus olhos curiosos brilham ao explorar o mundo ao nosso redor. Dulce se tornou uma mãe extraordinária; sua dedicação em cuidar de Luna e a capacidade de construir um lar cheio de amor é uma visão que me enche de gratidão. Juntos, aprendemos a valorizar as pequenas coisas: os almoços em família, as noites em que nos perdemos em conversas e risadas, e as manhãs em que ficamos enrolados na cama, aproveitando a companhia um do outro.

A vida agora é uma nova história, e eu me permiti viver cada capítulo com intensidade. As memórias do passado não desaparecem, mas aprendi a olhar para elas com compreensão e compaixão. Cada lágrima derramada, cada momento de dor, foram partes fundamentais da jornada que nos trouxe até aqui. E aqui, nesse presente repleto de amor e esperança, encontramos a nossa verdadeira felicidade.

Hoje é um dia especial. Enquanto o sol brilha pela janela da cozinha, vou até a mesa do café da manhã, onde Dulce e Luna já estão sentadas. Dulce me olha com um sorriso radiante, e não consigo evitar retribuir. O simples ato de estarmos juntos, compartilhando um momento tão cotidiano, é o que me faz sentir completo. Enquanto a luz da manhã entra pela janela, percebo que não há lugar melhor do que este.

— Que tal irmos ao parque hoje? — sugiro, tentando deixar o clima ainda mais leve.

— Ah, isso seria maravilhoso! — Dulce responde, seus olhos brilhando de entusiasmo.

– Sim, papai! – Luna falou animada enquanto pulava.

— Vamos, então! — digo, levantando-me para preparar um lanche. Enquanto coloco algumas frutas e biscoitos em uma mochila, minha mente vagueia para o futuro. Que tipo de pessoa Luna será? Que sonhos ela irá sonhar? Cada dia ao lado delas é uma nova descoberta, e estou ansioso para ver como cresceremos juntos como família.

A sombra do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora