Dulce Maria
Eu estava no meio de uma crise de choro quando ouvi ruídos perto da cela. Reconheci algumas vozes e me coloquei em alerta, ansiosa pela possibilidade de ver o Christopher mais uma vez. Sua presença foi um alívio imediato ao meu espírito. Abraçá-lo me trouxe calma, uma energia incrível e até certa fé de que tudo daria certo, mas quando se foi, meu mundo voltou a ruir e me encontrei perdida de novo, num labirinto.
Levantei-me e andei até as grades, a fim de conferir quem se aproximava. Simplesmente congelei ao visualizar o Luís caminhado lado a lado com o delegado Herrera, falando baixo coisas que não consegui ouvir, mas que tinha certeza de que não podiam ser boas. Além de ser amiguinho do prefeito, o delegado estava mancomunado com o meu vizinho? Fiquei espantada, mas não surpresa e, sobretudo, ciente de que eu tinha me fodido de vez. Jamais sairia dali.
Delegado Herrera chacoalhou a chave da cela na minha direção, abrindo um sorrisinho que me deu vontade de esganá-lo.
— Boas notícias, seu advogado chegou.
O choque foi ampliado consideravelmente. Como assim, meu advogado?
Olhei para o lado e percebi meu vizinho com um sorriso aberto. Fiquei confusa por longos instantes, até rememorar algumas conversas que tivemos no passado. Sim, Luís era formado em Direito, só não exercia a profissão porque tomava conta de uma antiga fábrica pertencente ao seu pai. Ele tinha esperanças de herdar a empresa.
— Você... — murmurei, atônita, dando vários passos para trás. O delegado abriu a cela, mas nem assim fui capaz de sair. Eu não sabia o que pensar, as informações se enroscavam na minha mente. — Eu... N-Não. Não quero esse homem perto de mim.
Olhei para o delegado Herrera, que estava tão sério como nunca.
— Dulce... — Meu vizinho maluco começou, porém o delegado o interrompeu.
— Só vou conseguir outro amanhã — resmungou, impaciente, com a expressão bastante afetada. Não ver resquício de malícia ou deboche em seu semblante me deixava confusa demais. — Quer dormir aqui?
— Prefiro. — Ergui o nariz, mantendo um orgulho fora de hora. Contudo, não me via sendo defendida por alguém completamente suspeito.
— Posso falar com ela a sós, delegado? — Luís questionou, amansando o semblante como se sentisse pena de mim. Como se eu fosse uma coitadinha. Bom, eu era, porém nunca mais seria burra a ponto de confiar nele.
— Só se ela quiser.
— Não quero.
— Dulce... Prometo não te importunar após essa conversa. Ao fim dela, se não quiser que eu seja seu advogado, irei entender. — Luís deu um passo para frente, olhando-me no fundo dos olhos, com uma firmeza de impressionar. — Só me dê uma chance de te ajudar. Você não tem motivo para ficar aqui por mais tempo.
Prendi os lábios e olhei para o delegado. Ele estava na minha frente e de costas para Luís, por isso estranhei quando fez um leve aceno com a cabeça, como se dissesse para que eu escutasse o vizinho, para que não objetasse. Seu comportamento estava muito esquisito, tanto que me vi aceitando aquela merda. Eu não tinha para onde ir ou o que fazer, portanto ouvir a ladainha de Luís ao menos me ajudaria a passar o tempo.
— Tudo bem, mas não crie esperança alguma.
— Vou colocar os dois numa sala privativa. — Delegado Herrera puxou minhas mãos e voltou a me algemar. Olhou para mim atentamente, como se tentasse ler meus pensamentos, depois se virou e nos guiou para a tal sala.

VOCÊ ESTÁ LENDO
A sombra do pecado
RomansaUma viúva intrigante desperta em padre Christopher desejos proibidos, colocando sua fé e seus votos em risco. Em busca de paz após uma perda dolorosa, ele encontra refúgio na igreja, mas a chegada de Dulce Maria, com seu passado misterioso e olhos q...