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Dulce Maria

Foi muito difícil manter qualquer tranquilidade ou pensamento coerente enquanto era levada para a delegacia, algemada, humilhada e ciente de que a minha vida tinha acabado de vez naquele momento. Não me sobraria mais nada, nem a liberdade. Eu não fazia ideia do que tinha acontecido para que delegado Herrera resolvesse me prender de vez, mas ele deveria estar preparado e, eu tinha certeza, não deixaria brechas.

Aquela gente conseguiu, enfim, me incriminar pelo que fizeram. Apesar de não saber quem de fato matou Paco, muita gente possuía motivos, e pessoas influentes, cheias de dinheiro, que poderiam comprar tudo, inclusive a justiça fraca daquela cidade. Eu não passava de uma mulher sozinha, abandonada e, aos olhos de todos, rancorosa, uma psicopata esquisita. Presa fácil. Era muito simples jogar toda a culpa em mim.

No fundo, sabia que aquele instante chegaria, cedo ou tarde. Talvez por isso tenha me afastado de Christopher, sugerido que pensasse direito, que não agisse por impulso. Eu sabia que nossa história ficaria no passado e que meus problemas nos afastariam para sempre. Tudo foi apenas um sonho. Um pequeno oásis no meio de um deserto escaldante.

Foi diante de minhas lágrimas incontidas que o delegado me levou diretamente para a sua sala. Fez com que me sentasse numa cadeira dura, desconfortável, e fechou a porta atrás de si. Em silêncio, sentou-se à sua mesa de trabalho, enquanto eu mantinha o rosto para baixo, envergonhada, desamparada, quebrada em milhões de cacos e sem a mínima esperança de recuperação.

— Suponho que não tenha dinheiro para um advogado. — Não o respondi, apenas dei de ombros. De que adiantaria me defender, se aquela gente viria com tudo para cima de mim? Eu não tinha grana, status e menos ainda um álibi. — Hoje é domingo e não vou conseguir ninguém da defensoria pública para você, só amanhã. Enquanto isso, vai permanecer detida.

Novamente, meus ombros relaxaram. Eu não me importava. Que me prendessem e que eu mofasse na prisão. Deveria ter fugido quando tive a chance, mas não fiz isso, como a estúpida que era, então nada mais poderia ser feito. Antes tivesse ficado na casa de Christopher, vivendo um romance proibido e delicioso, longe de tudo.

— Você tem direito a saber por que está aqui. Não quer saber? — Delegado Herrera prosseguiu, numa seriedade gritante.

Achei que ele ficaria feliz com minha prisão, mas parecia realmente estressado, irritado, como se algo estivesse errado, fora do lugar e de seu entendimento.

Talvez se sentisse mal por mancomunar com o verdadeiro assassino. O pingo de vergonha na cara que sobrava nele fazia com que não me zoasse?

Continuei muda.

— Tudo bem, amanhã nós conversamos com o advogado presente. Suas coisas foram guardadas. Aliás, fiquei feliz em saber que você, ao menos, está se precavendo. — Riu de leve, com certeza mencionando os preservativos que trouxe dentro da sacola.

Ergui o rosto tomado pelas lágrimas, ciente de que eu estava transformada pela profunda tristeza e derrota. Encarei-o severamente.

— Está contente? — resmunguei, com a voz falhando, mas mantive o olhar firme na sua direção. — Quanto está ganhando com esse circo, delegado? Espero que valha a pena. Que deite a cabeça no travesseiro e tenha paz para dormir.

Ele se empertigou, movendo-se na cadeira do outro lado de sua mesa de trabalho, que estava repleta de papéis e objetos nos quais não prestei atenção. Meu foco permaneceu naqueles olhos muito castanhos, que contrastavam com a pele morena, como se tivessem sido colocados ali por acaso, na pessoa errada.

— Quer ver o meu contracheque? Lá tem descrito exatamente o que ganho para fazer o meu trabalho.

Bufei, soltando uma risada de escárnio. Ela veio acompanhada de mais lágrimas, que simplesmente escorriam, eu não as percebia totalmente nem me esforçava para soltá-las ou segurá-las.

A sombra do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora