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Padre Christopher

Eu não via a hora de me livrar daquelas pessoas. O pátio da igreja demorou demais a ser evacuado, pois os fiéis gostavam de conversar aos arredores depois da missa, mesmo sendo a última do dia e estando tarde. O assunto que rondava era apenas um: a prisão de Dulce Maria. Alguns diziam que já sabiam que ela era a assassina, outros se mostravam surpresos, pois acreditavam na sua inocência. De uma forma ou de outra, fui obrigado a ouvir cada palavra e sentir a pressa me dominar.

Precisava estar com ela, não ali. Os meus pais já estavam cientes a respeito da venda do imóvel, porém só conseguiriam avançar o trâmite legalmente na segunda- feira. Soube que o possível comprador aceitou a proposta no mesmo instante, pois ainda se mantinha interessado no terreno que me pertencia. Se Deus permitisse, logo conseguiria dinheiro para refazer a minha vida e ajudar Dulce.

Encontrei forças não sabia de onde para realizar cada uma das tarefas e celebrações, sentindo que Deus me abandonava a cada segundo. Encontrava-me perdido, desesperado e aflito, temendo que o Luís fizesse alguma coisa com Dulce Maria antes que eu retornasse à delegacia. Não tive paz e nem tempo de juntar as coisas para levar para ela; precisei me virar com roupas e itens doados para a igreja, colocando-os em algumas sacolas e rezando para que ajudasse, para que fosse o suficiente.

Quando todos os funcionários se foram e precisei fechar a paróquia, sozinho, porque infelizmente Toninho não retornou, visualizei uma única pessoa se aproximando, caminhando lentamente pelo pátio na direção da entrada da igreja. Semicerrei os olhos, tentando identificar quem era, pois eu havia desligado os refletores. Só consegui enxergar Dulce Maria quando ela já estava quase na minha frente.

Sua presença me deixou aliviado, contente, porque significava que tinha dado certo. Aquele homem a havia libertado da prisão e ela, apesar de ter que responder em liberdade, não precisaria mais permanecer naquele lugar. Eu a protegeria até o fim, ajudaria a encontrar o assassino, daria todo o suporte e a tomaria para mim pelo resto dos meus dias. Tudo ficaria bem, afinal.

Emocionado e trêmulo, esperei que se aproximasse mais e, só então, puxei seu braço e a coloquei dentro da igreja. Fechei a porta grande, de madeira pesada, logo em seguida, dando-nos certa privacidade. Não hesitei em puxá- la para os meus braços, envolvendo-os ao seu redor com alegria, espanto e êxtase. Uma exasperação que me fez derrubar algumas lágrimas e implorar a Deus para que a protegesse nos momentos em que eu não fosse capaz.

— Graças a Deus — murmurei, tentando conter a emoção. Dulce Maria apertou os braços ao meu redor com muita força, afundando o rosto no meu peito. — Eu já estava indo para a delegacia. — Afastei-a apenas para conferir seu rosto. Contudo, o que vi me deixou imediatamente em alerta. A mulher estava com os olhos muito vermelhos e a expressão tão dolorida que me comoveu de verdade. Ela não se sentia bem. Alguma coisa estava muito errada. — O que aconteceu? O que aquele homem fez?

Meu resmungo ecoou pela igreja, e meu desespero foi tanto que me afastei em direção à saída, porém Dulce me segurou pela mão. Eu não sabia que faria, não ainda, só tinha certeza de que encontraria o Luís e ele pagaria pelo que quer que tivesse feito à Dulce Maria. Um segundo depois, achei tudo aquilo muito estranho.

Não haveria uma fiança? Como ela tinha saído tão rapidamente, se deveria pagar uma quantia alta para ter sua liberdade? Meus pensamentos não se encaixavam e meu nervosismo aumentava diante de seu silêncio.

Olhei para ela, confuso e aflito. Dulce estava séria, com ar derrotado, e me analisou por alguns segundos antes de dar as costas e seguir pelo centro da igreja, rumo ao altar. Caminhou vagarosamente, pé ante pé, como uma noiva que fazia o percurso até seu noivo sob o olhar dos convidados. Fiquei imóvel, observando sua retaguarda, impressionado com o cenário sombrio.

A sombra do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora