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Padre Christopher

— Eu prometo que, depois de você, não haverá mais ninguém.

Acordei sobressaltado, com aquela frase reverberando tanto em minha mente que foi capaz de invadir até os meus sonhos. Eu morria de calor e estava todo ensopado de suor, grudento, e demorei a compreender que havia uma mulher toda nua adormecida em meus braços, enlaçada como se eu pudesse transmitir alguma segurança.

Ao contrário de mim , que tive um sono atribulado, parecia dormir calmamente, feito um anjo. Como se não tivesse acontecido nada intrigante. Eu não sabia se a consciência de Dulce Maria doeria tanto quanto a minha, embora acreditasse que não, porém, não poderia exigir isso dela. Afinal, fui eu quem fiz votos e promessas.

Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa.

Fui tomado pela angústia como alguém que atravessa a rua sem olhar, bem na hora em que está passando um caminhão. Sabia que seria destruído depois que me deixasse levar. Estava ciente de que teria que recolher os cacos, mas naquele momento não fui capaz de organizar nenhum pensamento que me ajudasse.

Caí no desespero, por isso me levantei sem muito cuidado, porque precisava me afastar urgentemente. A mulher resmungou e girou no colchão, em seguida voltou a dormir. Suspirei, evitando olhá-la despida. Já bastava de pecados. O arrependimento me sobrecarregava o suficiente para o resto da vida.

Paralisado e nu no meio do ambiente que eu considerava o meu lar, analisei a cruz na minha parede. Guiei os olhos pelas velas e santos, estacionando no sorriso de Sofia. Eu tinha feito tudo errado. Deus não foi o único a quem decepcionei com aquele comportamento perverso, repleto de imundície.

Parecia que tudo ao meu redor desmoronava, toda a base que me mantinha convicto sobre o que era certo ou errado. Não pude evitar que uma lágrima de desespero escorresse, mas a enxuguei por acreditar piamente que eu não merecia nem mesmo chorar. Clamar pela autopiedade era injusto, uma atitude covarde de quem se isenta das responsabilidades.

— O que eu fiz? — murmurei, olhando o relógio na cozinha e constatando que não tinha muito tempo para me preparar para a missa.

Sendo bem sincero, não sabia se um dia voltaria a estar apto para realizar uma celebração tão sagrada. Mas era domingo e eu sabia que o pátio da igreja já estava lotado de fiés. O povo me aguardava, o que me fez entender que Dulce precisaria tomar muito cuidado ao deixar a minha casa. Alguém poderia vê-la e então o resto do que sobrara de mim se transformaria em pó.

Peguei uma batina limpa dentro do armário e corri para o banheiro a fim de tomar um banho rápido. Não tinha tempo nem para pensar, e um atraso de minha parte levantaria questionamentos, que poderiam se tornar suspeitas com facilidade.

Vesti aquele traje me sentindo a pior pessoa do mundo, um falso, hipócrita, traidor. Evitei olhar no espelho e só voltei para o quarto quando já estava pronto. A melhor hora para Maria sair dali seria quando a missa já tivesse começado. Eu precisava avisá-la, por menos que quisesse vê-la naquele instante.

Cobri-a com um lençol e só então a chacoalhei, murmurando seu nome em tom baixo. Ela se sobressaltou em pouco tempo, piscando os olhos para mim, ainda desnorteada. Olhou ao redor como se não soubesse onde estava, depois me encarou e pareceu recordar do que tínhamos feito.

Pulei qualquer saudação matinal. Não estava com cabeça alguma para formalidades.

— A missa vai começar daqui a pouco — alertei, num tom sério e até meio frio. Não pude evitar certa aspereza. — Vista-se e coma alguma coisa da geladeira. Deixe a porta sem trancar mesmo e, por favor, não seja vista.

A sombra do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora