Capítulo 7

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Ja em casa, enquanto Lily se questionava, o pensamento de Scarlett também voltava repetidamente àquela jovem que cruzava seu caminho de maneiras inconvenientes. Lily era talentosa, sim, mas havia algo mais. Algo que Scarlett não sabia lidar. Cada vez que a via, sentia uma raiva inexplicável misturada com outra coisa que se recusava a nomear. 

Scarlett percebia em Lily uma força que ela mesma havia sufocado durante anos. A paixão e o idealismo que emanavam daquela jovem faziam Scarlett se lembrar de si mesma em uma época mais inocente, quando sonhava com um futuro brilhante e se permitia sentir. Cada sorriso de Lily era como um reflexo do que ela havia perdido, e isso a deixava furiosa consigo mesma.

Mas o que incomodava ainda mais era que Lily lembrava Scarlett de outra pessoa — alguém de seu passado que ela havia enterrado há muitos anos.

Na juventude, Scarlett não era como agora. Havia sido uma garota sonhadora, impulsionada por ambições, mas também por sentimentos que, com o tempo, aprendera a suprimir. Durante a faculdade, conheceu uma garota chamada Clara, alguém que a desafiava, que a atraía de uma maneira que Scarlett não conseguia controlar. Elas tiveram um relacionamento breve, intenso, repleto de promessas e de um desejo que pulsava entre elas. Quando estavam juntas, Scarlett se sentia viva, como se estivesse exatamente onde deveria estar. Mas conforme as expectativas em sua carreira começaram a crescer, Scarlett tomou uma decisão fria e dolorosa: deixou Clara para trás, focando unicamente em sua ascensão profissional.

Essa decisão a marcou profundamente. O eco das risadas e dos momentos íntimos com Clara frequentemente a assombrava. Nunca mais se permitiu sentir de forma tão intensa. A vulnerabilidade emocional foi substituída pela rigidez, e o sucesso veio às custas de qualquer laço pessoal. A vida de Scarlett se tornou um mural de conquistas, mas também de solidão, e cada vez que Lily estava por perto, Scarlett sentia uma faísca que a lembrava daquela fraqueza que havia trancado dentro de si.

Ela odiava isso. E talvez fosse por isso que tratava Lily com tanta frieza — porque, de alguma forma, sentia-se ameaçada por algo que não conseguia controlar. O olhar admirado de Lily, sua determinação e a maneira como se esforçava a cada dia a lembravam de uma Scarlett que ela havia deixado para trás. Aquela jovem era um lembrete constante de que ela poderia ter escolhido outro caminho, um onde a conexão emocional fosse tão importante quanto o sucesso profissional.

Naquela noite, após um dia particularmente estressante, Scarlett decidiu sair para uma caminhada. As luzes da cidade iluminavam seu caminho, mas seu coração estava pesado. Ao passar por um café que costumava frequentar com Clara, uma onda de nostalgia a atingiu. Lembranças de risos, de olhares cúmplices e de uma paixão que a consumia vieram à tona. A dor da perda, que havia sido cuidadosamente enterrada, agora parecia à beira de emergir.

Scarlett se sentou em um banco na praça, observando as pessoas passarem. Casais rindo, grupos de amigos compartilhando segredos, e ela sozinha, com os olhos perdidos no passado. Um casal de jovens, muito parecidos com ela e Clara, passou ao seu lado, e Scarlett sentiu um aperto no peito. O que ela realmente queria? Poderia algum dia abrir mão do controle e se permitir sentir novamente?

Quando voltou para casa, a mente de Scarlett estava em tumulto. O que ela sentia por Lily era diferente; era mais complexo e, de certa forma, mais ameaçador. Não era apenas uma questão de atração, mas de reconhecimento. Lily parecia carregar o mesmo fogo que Clara tinha, uma chama que a fazia questionar suas próprias decisões.

Enquanto se preparava para dormir, Scarlett olhou para o espelho e se questionou: até que ponto estava disposta a deixar o passado ir? O que teria acontecido se ela tivesse escolhido Clara? A liberdade que agora buscava em sua carreira vinha acompanhada de um preço alto — o custo de uma vida emocional reprimida. A visão de Lily, com seu espírito vibrante e sua tenacidade, acendia um desejo profundo por conexão, mas também um medo de se abrir novamente para a dor.

Scarlett apagou a luz e se deitou, mas o sono não veio. As lembranças de Clara, entrelaçadas com as de Lily, giravam em sua mente como um ciclo interminável. O que ela realmente queria? Era hora de encarar seus sentimentos ou mais uma vez se esconder atrás da barreira que havia construído? A resposta ainda estava envolta em sombras, e Scarlett se viu presa em um dilema que poderia mudar sua vida para sempre.

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