Ele sabia que era errado. Quando ingressou como diácono, o mundo parecia claro e bem definido: sua missão era servir ao Senhor e guiar almas na direção da salvação. Naqueles anos, você era apenas uma adolescente, sempre ao lado dos seus pais durante as missas dominicais, doce e atenciosa. Ele jamais te olhou com intenções impuras, pois sua vocação estava acima de qualquer desejo terreno.
Com o passar dos anos, você cresceu. Ouvia-se pelos corredores da igreja e nas conversas rápidas entre fiéis que você havia deixado a cidade para estudar. Nanami notava sua ausência com uma pontada discreta, que logo afastava como parte do ciclo natural da vida. Gradualmente, os olhos que, sem perceber, te buscavam na multidão deixaram de procurá-la. Você se tornou apenas uma lembrança distante, quase como uma prece esquecida. Ele seguiu em frente, cada vez mais comprometido com sua vocação, até que, após anos de serviço, decidiu dar o próximo passo e se tornar padre. Sua fé nunca vacilou — não quando enfrentou a solidão, nem nos momentos mais difíceis de dúvida espiritual.
Então, sem aviso, você voltou.
No começo, ele apenas ouviu comentários casuais sobre o seu retorno. "Sim, ela voltou, os estudos no exterior acabaram", disseram, como qualquer outro assunto casual. Durante a semana, a mente dele varreu novamente seu nome para baixo do tapete.
Mas, no domingo, você apareceu na igreja. E bastou um sorriso simples, cordial e sem nenhuma pretensão além da educação para que algo nele se agitasse. Foi uma onda de calor que começou no peito e se espalhou pela pele, deixando-o desconfortavelmente consciente de cada batida acelerada de seu coração. Aquilo era errado. Absolutamente inadequado. Era como uma fissura que surgia na superfície da devoção dele.
Ele tentou racionalizar. Era apenas uma surpresa, uma emoção breve que o pegara desprevenido. Mas, à medida que a tarde se estendia, ele percebeu que a sensação não desaparecia.
Ele resistiu o quanto pôde. A cada domingo, a cada missa, você estava lá, sentada nas primeiras fileiras, as mãos cruzadas em oração, o rosto sereno iluminado pelas velas. E ele, do altar, se obrigava a manter o olhar fixo nas escrituras, como se os textos sagrados pudessem proteger seu coração das emoções que se insinuavam.
Por semanas, ele observou você em silêncio. Nunca diretamente, sempre através dos pequenos gestos que captava sem querer: o jeito como você colocava o cabelo atrás da orelha, o brilho contido dos seus olhos quando cantava os hinos, a forma tranquila com que se despedia dos fiéis depois da missa.
Era uma tortura lenta, uma penitência imposta pelo próprio coração. Ele sabia que não deveria alimentar esses pensamentos, mas a cada vez que te via, a fissura em sua devoção parecia se alargar um pouco mais. Ele se agarrava às orações com a força de um homem à beira do naufrágio, tentando desesperadamente afogar aquele impulso novo. Mas era inútil. A imagem de você pairava em sua mente até durante as noites insones.
Então, certo dia, você se aproximou após a missa. Seu sorriso era delicado, e ele mal conseguia sustentar o olhar.
— Padre, posso marcar uma confissão? — Você perguntou, a voz baixa e gentil.
Ele engoliu em seco. A mente dele girou numa espiral vertiginosa.
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✓ | 𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄, animes.
FanficCenários onde sua imaginação te permite estar com o seu personagem favorito. A imaginação é a realidade ausente, que permite a existência da liberdade de espírito. Explorando essa liberdade, eis aqui uma coletânea de imagines.