Quarta vez na noite que olhava meu celular em busca das horas, oito da noite era o horário marcado, mas já se passavam das nove e quarenta, as mesas a minha volta encheram e esvaziaram algumas vezes e meus pés ainda batiam constantemente no chão pela ansiedade a cada vez que alguém entrava pela porta. Este era o sexto ou oitavo jantar que ele me prometeu? Para ser honesta comigo mesma eu sequer lembro a última vez que ele me deu flores ou disse eu te amo como costumava.
Mais uma olhada para a tela acesa do celular e se quer uma notificação. O garçom que há tempos atrás trouxe-me água agora olhava de soslaio do outro lado do salão do restaurante. A roupa colada no meu corpo agora começava a me irritar e minha bunda a doer pelo tempo perdido sentada no mesmo lugar, os sapatos de salto apertando meus dedos, tudo isso para me parecer bonita para ele. A maquiagem no meu rosto antes tão bonita agora me fazia sentir suja — mais uma vez a porta abria-se e meus olhos viajavam para a entrada, esperando um vislumbre de seu cabelo grisalho. Senti minha garganta contrair e queimar.
Da última vez não foi diferente, uma promessa de que faria diferente e chegaria mais cedo, me trataria como eu merecia. Não que no dia a dia ele demonstrasse isso, pois ele constantemente chegava tarde do trabalho, com um perfume que não o pertencia, e mais uma vez minha cabeça dizia-me para deixar de lado, por trabalhar em um lugar cheio de pessoas, e que esse cheiro poderia ser de qualquer um, então na hora de dormir eu me deixava chorar, chorar porque eu sabia que merecia mais, chorar porque eu me sentia negligenciada física e emocionalmente, e por fim dormir com a cabeça latejando, olhos inchados e pele manchada pelas lágrimas. Enquanto Kokonoi dormia pacificamente ao meu lado.
O lugar se esvaziou à medida que o tempo passava e agora eu estava praticamente sozinha no estabelecimento, a não ser pelos funcionários e alguns poucos clientes que rondavam as mesas. E pela última vez, olhando a tela limpa do celular, levantei-me deixando sobre a mesa a gorjeta para o garçom e sai pela porta. Agora eu parecia mais miserável que lá dentro, o frio batia em meus braços como cacos de vidro e eu me arrependia de ter usado ele novamente essa noite. Minhas mãos foram até meus sapatos, tirando eles para aliviar as dores nos pés, por mais que me custasse a dignidade e ter que andar descalça até minha casa. Senti lágrimas salpicarem meus olhos e meus pulmões apertarem, meu peito afundou em frustração.
Enquanto andava pela calçada, os passos descalços ecoando no silêncio da noite. O brilho das luzes da rua fazia minhas lágrimas brilharem, e eu lutava para segurar o choro. Cada passo parecia pesado, como se eu estivesse carregando o peso de todas as promessas quebradas e esperanças desfeitas.
Ao chegar em casa, me sentia esgotada. O vazio da sala me envolveu, e eu me joguei no sofá, deixando os sapatos caírem ao chão. A frieza do couro contra minha pele serviu como um lembrete de tudo o que eu suportara e de tudo o que eu continuava a suportar. As promessas vazias, as ausências, os cheiros que não pertenciam a ele... Talvez fosse hora de ir embora. Ele sequer perceberia se sumisse?Lembrei-me das vezes que ele prometeu mudar, das noites em que me segurou em seus braços e disse que eu era tudo para ele. Essas memórias, tão doces e dolorosas, eram como uma âncora que me mantinha presa. Mas também havia as noites solitárias, os olhares vazios, as mentiras disfarçadas de desculpas.
Levantei-me e fui até o espelho do banheiro. Olhei para o meu reflexo, o rosto cansado e triste. As costas da minha mão esfregou meus olhos, espalhando a maquiagem e manchando meu rosto, meus dedos foram até meus cabelos, bagunçando enquanto eu me permitia chorar novamente.
A cada lágrima que escorria pelo meu rosto, sentia desespero. Os soluços vinham em ondas, enquanto as lembranças de promessas quebradas e noites de solidão pesavam no meu peito. A maquiagem, antes meticulosamente aplicada, agora estava completamente borrada, refletindo o caos interno que eu sentia.Olhei para o espelho, vendo minha expressão deformada pelo choro. Era como se a pessoa que eu via ali não fosse eu, mas uma versão de mim mesma que eu não reconhecia mais. Uma parte de mim queria gritar, liberar toda a dor acumulada, enquanto outra parte só queria desaparecer, fugir de tudo aquilo.
Apoiei-me na pia do banheiro, respirando fundo para tentar me acalmar. As palavras de Kokonoi ecoavam na minha mente — aquelas promessas de mudança, as declarações de amor. Eu queria acreditar, queria que tudo aquilo fosse verdade, mas as ações dele não correspondiam às palavras. E era isso que doía mais: a dissonância entre o que ele dizia e o que ele fazia.
Algo estalou dentro de mim naquela noite, e sem pensar mais, eu fui embora, não deixei bilhetes ou mensagens. Não o bloqueei ou lhe mandei mensagens.Simplesmente saí. Peguei minhas coisas mais essenciais e saí pela porta, sem olhar para trás. Não me importava com o que Kokonoi poderia pensar ou sentir quando descobrisse que eu havia ido embora. Algo dentro de mim esperava uma mensagem, eu queria que ele viesse até mim, que me implorasse, que ele mudasse de verdade. Mas nada disso aconteceu.
Entendi o motivo quando, em uma tarde, meu horário de almoço no novo trabalho havia acabado de começar, eu estava saindo quando o vi, Kokonoi estava lá abrindo a porta do carro para outra mulher. A visão dele, tão atencioso e cuidadoso, causou um aperto em meu peito. A mulher era loira, muito bonita e delicada, com uma aparência quase angelical.
Por um momento, o mundo ao meu redor pareceu parar. O som da conversa se afastou, e tudo o que conseguia fazer era fixar o olhar na cena à minha frente. Kokonoi, sempre tão ausente e distante comigo, estava ali, exibindo uma gentileza e uma atenção que há muito tempo eu não via. Foi um golpe duro, como se toda a realidade das suspeitas e medos se materializasse diante de meus olhos.
Ele já havia seguido em frente, ou talvez nunca tivesse estado verdadeiramente presente para mim. O silêncio de Kokonoi após minha partida, a ausência de qualquer tentativa de reconciliação, tudo fazia sentido agora. Ele estava ocupado com outra pessoa, dando a atenção e o carinho que ela tanto desejava a outra mulher. Eu não estava mais com ele, e mesmo assim, ele conseguiu me quebrar novamente.
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✓ | 𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄, animes.
FanfictionCenários onde sua imaginação te permite estar com o seu personagem favorito. A imaginação é a realidade ausente, que permite a existência da liberdade de espírito. Explorando essa liberdade, eis aqui uma coletânea de imagines.