CAPÍTULO 16 - O QUE VIER DEPOIS

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Na manhã seguinte, o primeiro raio de sol atravessou a janela do quarto, mas tudo o que senti foi o calor que ele trazia. A noite havia sido inquieta; pensamentos sobre Jenna, sobre o que Beth dissera, e sobre o futuro que parecia tão incerto. Virei-me na cama, tocando o travesseiro vazio ao lado, lembrando-me do quanto eu precisava enfrentar o dia que estava apenas começando.

Beth me ajudou a me preparar, pegando minha bolsa e guiando minha mão até a alça, onde a segurei com firmeza. Senti seu toque leve e constante enquanto descíamos as escadas e esperávamos pelo táxi. Era um conforto saber que ela estava ao meu lado. No entanto, naquele momento, eu sabia que a maior parte desse caminho eu teria que percorrer sozinha, com o coração dividido entre sentimentos antigos e novos desafios.

- Então... Quem é esse cara que quer roubar você de mim?

- É só um carinha que vai todos os dias lá na lanchonete. - disse ela soltando um riso.

- Vocês estão saindo juntos?

- Só nos conhecendo... Ele é muito gentil.

- Se ele te magoar eu juro que mato ele.

- Você não faria isso. - disse rindo. - E a Jenna? Você e ela...

- Ah... Eu não sei... - digo ouvindo o táxi parar na minha frente. - Bom, é isso Beth... Boa sorte. - abracei ela me despedindo.

- Me mantém informada. - disse

- Pode deixar.

[...]

O trajeto até o hospital foi tranquilo, mas minha mente estava um caos. Quando cheguei, uma enfermeira me ajudou a ir até o quarto de Jenna. Ela abriu a porta com cuidado, e eu ouvi os sons familiares de máquinas e monitores, misturados ao respirar suave de Jenna. Cada passo que eu dava se misturava com o cheiro sutil de álcool hospitalar, algo que, curiosamente, trazia um tipo de paz.

- Julia? - ouvi a voz de Nathalie, que parecia estar ao meu lado. Ela segurou minha mão, conduzindo-me para mais perto da cama.

Fiquei em silêncio por um instante, apenas escutando a respiração de Jenna, que estava adormecida. Não precisava ver para imaginar seu rosto pálido, os olhos fechados em um descanso que eu sabia ser necessário, mas que parecia tão doloroso.

- Posso... posso tocá-la? - perguntei, hesitante.

Nathalie guiou minha mão até o braço de Jenna, e o toque dela me trouxe uma onda de lembranças e sentimentos. Por um momento, parecia que tudo entre nós ainda estava ali, como um segredo sussurrado que nunca chegou a desaparecer completamente. Senti a pulsação dela, fraca, mas presente, e aquele simples toque me deu a certeza de que eu estava pronta para o que viesse.

- Jenna. - murmurei, como se ela pudesse me ouvir. - Eu estou aqui, e vou fazer tudo o que puder para que você fique bem.

De repente, senti uma leve pressão na mão, e percebi que ela havia acordado, mesmo que ainda estivesse fraca. Sua voz, embora trêmula e rouca, era a mesma que eu conhecia.

- Julia... - ela sussurrou, com dificuldade. - Não precisava...

- Shhh. - interrompi, segurando sua mão com firmeza. - Não diga isso. Eu quero estar aqui. Você nunca esteve sozinha, Jenna.

O silêncio entre nós foi preenchido por tudo o que ficou não dito, tudo o que parecia estar guardado há tanto tempo. Sabia que aquele era apenas o começo, que a cirurgia traria desafios, mas, ali, senti que estava no lugar certo, finalmente pronta para enfrentar tudo o que aquele reencontro poderia significar.

- Nós vamos passar por isso juntas, Jenna. Eu prometo.

[...]

As horas que seguiram foram marcadas por uma mistura de ansiedade e determinação. Eu sabia o que precisava fazer. Enquanto esperava o momento da cirurgia, busquei cada lembrança que me conectava a Jenna e me apeguei a elas, como se fossem a energia de que eu precisava para enfrentar o que estava por vir. Decidi que não diria a ela que eu era a doadora. Ela não precisava saber, não ainda. Para Jenna, eu queria apenas que ela tivesse uma nova chance, sem o peso de uma dívida ou a pressão de entender o que significava para mim.

AMOR EM CORES VIVAS - JENNA ORTEGA / GP!Onde histórias criam vida. Descubra agora