CAPÍTULO 22 - PARANÓIA

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A voz de Jenna ecoava pela cozinha com uma pontada de irritação.

- Onde está o pó de café!?

Permaneci em pé no meio do ateliê, rodeada pelas telas, algumas inacabadas, outras apenas esperando que eu tivesse coragem de começar.

- Armário de baixo, à sua esquerda. - respondi, tentando controlar a inquietação que surgia de forma inesperada.

Houve um breve silêncio até eu ouvir Jenna comentar, satisfeita:

- Ah! Achei.

Mas algo estava errado. Eu sabia que tinha. Conhecia cada detalhe do meu trabalho, cada pincelada, cada tela e seu lugar na sala. E agora faltava uma... Justamente o retrato de Jenna, aquela tela despedaçada que encontrei na casa dela.

Jenna voltou, segurando uma xícara de café que entregou para mim.

- Você está aí parada feito uma estátua desde que acordou. Aqui, toma. - a preocupação era evidente em seu tom. - O que foi dessa vez?

Tomei um gole do café e, sem saber ao certo como começar, finalmente perguntei:

- O que você está vendo aqui? Nessa sala?

- É... um monte de telas?

- Sim, um monte de telas... só que está faltando uma.

Ela suspirou, confusa.

- E como você sabe que está faltando uma? Tem várias espalhadas por essa sala.

Respirei fundo, querendo que ela entendesse.

- Eu conheço o meu trabalho, Jenna. Posso não enxergar, mas sei quantas telas eu fiz e onde cada uma delas está. - me afastei, pegando uma pintura. - Essa, por exemplo, é sobre a primavera. Pintei há alguns meses.

- Tá... mas e daí?

- E daí que a tela que está faltando é justamente a mesma que encontrei em pedaços na sua casa... Alguém entrou aqui e escolheu o retrato que fiz de você, Jenna. Alguém está tentando me assustar.

Senti o ar se tornar mais tenso quando Jenna soltou um suspiro pesado, se afastando de mim.

- De novo isso, Julia? Não tinha tela nenhuma em cima da mesa. Você não estava segurando nada. - disse ela, e percebi a impaciência em sua voz.

- Eu não sou maluca. Eu sei o que senti, sei o que estava lá.

- Eu não disse que você é maluca. Só... tenta esquecer isso, tá? - ela colocou as mãos nos meus braços, tentando me acalmar. - Faz poucos dias que você me deu um pedaço de você... isso deve ser estresse. Talvez você não lembre onde colocou.

Um nome surgiu na minha mente como um raio.

- Claire. - murmurei, relembrando o dia em que ela me ameaçou. - É claro... Como eu não percebi antes?

Jenna hesitou.

- Claire? O que tem a Claire?

- Aquela sua amiga louca me ameaçou no dia em que você teve alta.

- Ela te ameaçou? A Claire não faria isso.

- Pois fez, Jenna. Aquela mulher... Como ela ousa entrar no meu apartamento, mexer nas minhas coisas e tentar me intimidar? - falei, sentindo a raiva crescendo.

- Ei, ei, ei! Espera aí... Você não pode sair por aí acusando as pessoas só porque não gosta delas. E nem faz sentido! Como ela entraria aqui?

- Eu não sei, mas sei que ela está jogando comigo. E isso não é nada bom!

AMOR EM CORES VIVAS - JENNA ORTEGA / GP!Onde histórias criam vida. Descubra agora