CAPÍTULO 1 - ESBARRÃO NO DESTINO

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As ruas estavam silenciosas naquela noite, com apenas o som distante de alguns carros passando, o que sempre me trazia uma certa tranquilidade. Mesmo com a ausência da visão, minha mente desenhava o mundo ao meu redor em tons de sons e cheiros. Desde o acidente, esse era o meu novo normal. Minhas mãos, antes tão habilidosas em capturar o mundo em telas vibrantes de cores, agora encontravam consolo no toque e nas texturas.

Pintar virou o meu refúgio, uma maneira de continuar expressando o que sentia, mesmo que meus olhos não pudessem mais ver as cores. Ouvindo músicas ou podcasts, minhas mãos navegavam as telas com a confiança que ainda residia dentro de mim. Meus cabelos ruivos, sempre indomáveis, estavam soltos hoje, e as sardas que cobriam meu rosto e braços pareciam mais presentes quando me olhava no espelho-mesmo que apenas no reflexo da minha memória.

Saí da conveniência, a bengala me guiando com toques leves contra o chão. Era uma sensação estranha, dependente, mas já havia me acostumado a isso. No entanto, minha mente sempre se perdia em pensamentos, e hoje não era diferente imaginando novas formas e composições para os quadros que nunca veria, mas que, de alguma forma, podia sentir.

Estava focada nisso quando, de repente, meu corpo esbarrou contra o de alguém. Fui levada de volta à realidade pela força do impacto, e a bengala quase escorregou das minhas mãos.

- Desculpa! - ouvi uma voz feminina, ligeiramente ofegante. Ela parecia estar com pressa, mas havia um tom de preocupação. - Eu não vi você...

Soltei um suspiro leve, tentando disfarçar o susto.

- Tudo bem, acontece... - murmurei, erguendo a mão num gesto automático, sem saber exatamente para onde estava apontando. - Aparentemente, esbarrar é uma habilidade minha também.

Houve uma pequena pausa, como se a pessoa à minha frente estivesse hesitando em continuar.

- Você está bem? - a voz dela soou novamente, agora mais próxima.

- Estou, sim. - Sorri de leve, um hábito de tentar parecer sempre calma, mesmo quando o coração acelerava por um simples esbarrão.

- Sou Jenna, aliás... Jenna Ortega. - a introdução foi rápida, mas o nome era inegavelmente familiar. Minha curiosidade acendeu imediatamente. Não era como se eu estivesse completamente desconectada do mundo após perder a visão; eu ainda ouvia sobre ele, lia sobre ele com audiolivros e podcasts.

- Jenna Ortega? - perguntei, a hesitação em minha voz evidente. - Eu conheço esse nome.

Ela riu suavemente, e o som dessa risada reverberou mais forte nos meus ouvidos do que eu esperava.

- Talvez você tenha visto algum filme meu? - ela brincou, o tom amigável, mas com uma leve pitada de humor.

- Bem, antes... antes do acidente, talvez. - minha voz saiu mais baixa do que pretendia, e senti o sorriso em meu rosto desaparecer por um instante.

Houve um breve silêncio entre nós, o tipo de silêncio que poderia ser constrangedor, mas não foi. Havia algo reconfortante na presença dela, algo que, estranhamente, me acalmava.

- Desculpe. Eu... - ela começou, talvez arrependida pela brincadeira.

- Não se preocupe, eu costumo fazer piada disso o tempo todo. - disse, tentando aliviar a situação. - É a vida, né? A gente segue em frente.

- Sim, seguimos. - ela respondeu, ainda em tom leve. - Quer ajuda com alguma coisa? Estava indo a algum lugar específico?

- Não, na verdade, estava só voltando para casa... - mudei a direção da bengala, indicando o caminho. - Meu apartamento é aqui perto. Só precisava pegar algumas coisas.

AMOR EM CORES VIVAS - JENNA ORTEGA / GP!Onde histórias criam vida. Descubra agora