Anos depois, após os acontecimentos em Duskwood, Alejandra Mendonza decidiu mudar de vida e se afastar de seus amigos.
Ela sempre teve uma personalidade mais solitária e independente, e embora tenha se apegado a Jessy, Richy e Jake durante o tempo que passaram juntos, a perda de Richy e a separação forçada de Jake a fizeram entender que, para ela, a solitária era o melhor caminho a seguir.
Ela alugou um pequeno apartamento em Foulerton, uma cidade conhecida por sua beleza natural e paisagens floridas.
Embora não fosse uma pessoa muito atenta à beleza das flores, a paisagem da cidade a acalmava e lhe dava uma sensação de paz. A vizinhança era acolhedora e amigável, o que facilitou sua adaptação.
Há uma ano atrás, um trágico incêndio em uma escola infantil havia abalado a cidade. Muitas vidas foram perdidas, e desde então, os moradores pareciam mais cautelosos e fechados. As ruas ficavam vazias à noite, e as pessoas se trancavam em suas casas antes do anoitecer.
Alejandra entendia o motivo da cautela excessiva dos moradores, pois o culpado do incêndio nunca havia sido encontrado e a investigação parecia estar empacada.
No entanto, ela não era alguém que se interessava muito por fofocas e rumores, então não prestava muita atenção ao medo coletivo que pairava sobre a cidade.
Ela preferia aproveitar a paz e a tranquilidade que Foulerton oferecia e seguir sua vida de forma mais reservada e independente.
Enquanto olhava pela janela de seu apartamento para os jardins do bairro, ela pensou no quanto sua vida havia mudado nos últimos anos.
Embora ainda sentisse uma pontada de saudade dos seus amigos de Duskwood, ela sabia que seguir em frente era a melhor escolha. Afinal, ela sempre fora uma forasteira, e a solidão era algo que ela aprendeu a lidar desde cedo.
Sentindo a brisa da noite entrar pela janela, Alejandra suspirou e sorriu para si mesma, agradecendo pela força que ela desenvolveu após todas as provações enfrentadas.
Talvez, quem sabe, um dia ela encontrasse um emprego que duraria mais que os outros. Mas até lá, ela estava feliz em ser apenas ela mesma, apreciando a paz que Foulerton oferecia e seguindo seu próprio caminho na empresa que trabalhava servindo cafés.
Ela suspirou satisfeita enquanto erguia seu corpo do sofá, o dia havia sido longo e cansativo, e toda a tensão acumulada em seus ombros agora pediam por um momento de relaxamento.
Ela caminhou lentamente até a cozinha, o piso de madeira fazendo um barulho suave a cada passo, e preparou uma caneca de chocolate quente, sua bebida favorita para momentos como esse.
A casa era pequena mas confortável, com paredes roxas que se harmonizavam perfeitamente com os detalhes azuis da mobília, dando ao ambiente uma atmosfera aconchegante.
Enquanto o chocolate esquentava, Alejandra olhou pela janela da cozinha, admirando o bairro florido que a cercava. Os jardins eram uma explosão de cores, com flores de todos os tipos e tamanhos adornando os canteiros e as árvores que sombreavam as calçadas. O cheiro fresco e a sensação de paz que a cidade transmitia a fizeram se sentir em casa desde o primeiro dia em que chegara.
Apanhando a caneca quente e envolvendo-a com ambas as mãos, ela saiu para a varanda, sentindo o ar frio da noite a acariciar o rosto. Olhou para o céu, admirando a lua cheia que se destacava entre as estrelas.
Sentou-se no banco de madeira, ouvindo o som suave das folhas dos bambus que cresciam nas redondezas, e começou a beber seu chocolate quente, degustando cada gole, cada gota.
Enquanto ela aproveitava esse momento de calma, um táxi parou na rua, ao lado de sua casa, chamando sua atenção. A porta do veículo se abriu, e sua vizinha, Kaya, saiu.
Kaya era uma mulher gentil, que havia sofrido uma grande perda. Seu marido e seu filho haviam sido vítimas do terrível incêndio que devastou a escola infantil ano antes. Apesar da tragédia, Kaya ainda tentava manter sua força e seu sorriso, em homenagem às lembranças do marido, que tanto gostava de vê-la feliz.
Kaya cumprimentou Hadassa enquanto pagava o taxista:
— Boa noite, Alejandra! Você sabe que já é hora do toque de recolher, não sabe?
Alejandra sorriu e respondeu:
— Boa noite, Kaya. Sim, eu sei, mas não acredito em lendas nem boatos. Aprendi que os verdadeiros monstros estão dentro de nós mesmos, e dependem da forma como lidamos com as situações que enfrentamos.
Kaya acenou com a cabeça, parecendo entender o ponto de vista de Hadassa.
— Tenha uma noite tranquila. - Disse, antes de entrar em sua casa.
Alejandra esperou até terminar sua caneca de chocolate quente e, depois de desfrutar da quietude da noite um pouco mais, decidiu entrar na casa e fechar a porta atrás de si.
Dirigiu-se para o quarto, preparando-se para dormir e descansar em paz depois de um longo dia de trabalho na conceituada empresa no centro de Foulerton.
...
A luz do sol, que normalmente despontava suavemente no quarto de Alejandra, foi interrompida por uma série de ruídos ensurdecedores que vinham da rua. O som das sirenes das viaturas de polícia e ambulâncias, junto com o barulho dos motores dos carros de bombeiros, inundou o bairro tranquilo, causando um grande tumulto.
As vozes distantes e alarmadas dos vizinhos, exclamando "Meu Deus!", atingiram os ouvidos de Alejandra, que, despertada repentinamente, sentiu uma pontada de ansiedade percorrer seu corpo.
Com urgência, ela pulou da cama, rapidamente enfiou os pés em seus chinelos e, sem se preocupar em se arrumar, saiu correndo para a rua, querendo descobrir o que estava acontecendo.
A cena que se apresentou diante de seus olhos a deixou perplexa: várias viaturas policiais, uma ambulância, e um carro do IML, todos estacionados em frente à casa de sua vizinha, Kaya. Policiais tentavam controlar a multidão de curiosos, pedindo que se afastassem e delimitando a área com fita amarela.
O que realmente chocou Alejandra não foi apenas a movimentação excessiva naquela manhã, mas o fato de que tudo estava acontecendo em frente à residência de Kaya.
Sem hesitar, ela saiu de sua casa, ainda vestindo seu robe, e dirigiu-se à uma das vizinhas, que parecia tão perplexa quanto ela.
— O que aconteceu? - Perguntou Alejandra, com a voz trêmula.
A vizinha, com o rosto pálido e os olhos arregalados, respondeu:
— Kaya foi encontrada morta.
Alejandra ficou em choque, incapaz de compreender como isso poderia ter acontecido. Ela havia visto Kaya bem na noite anterior.
Como poderia ter morrido tão subitamente?
Enquanto tentava processar a notícia, ela ouviu um policial, a alguns metros de distância, dizendo que havia encontrado um desenho macabro infantil ao lado do corpo de Kaya.
A vizinha, ao seu lado, sussurrou em tom de histeria:
— Ele a encontrou. E vai pegar todos nós.
Confusa, Alejandra perguntou:
— Quem vai pegar a gente?
A vizinha, agora mais apavorada, respondeu:
— O incendiário. Ele matou as crianças na escola, mas ele quer mais. Ele sempre quer mais. Kaya era mãe da Fiorella, e seu marido era professor na escola incendiada.
Alejandra ficou paralisada, sua mente inundada de perguntas.
Aterrorizada com a possibilidade de um incendiário em série estar à solta em Foulerton, ela não conseguia deixar de sentir que sua vida pacata na pequena cidade havia sido inesperadamente interrompida, e que agora tudo parecia estar ameaçado pelo perigo.
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MOONWOOD- The last drawing
FanfictionAnos após os eventos em Duskwood, Alejandra tenta reconstruir sua vida. No entanto, um pedido de ajuda a leva a descobrir que sua cidade atual é cercada por mistérios e mortes cercadas por desenhos macabros de crianças. Impulsionada por seu instinto...