Lembrando que esse conto NÃO faz parte da cronologia principal. Os livros passaram por reformas, então pode haver divergências nas informações apresentadas neste conto e na série principal. Para mais informações, surtos aleatórias e fofocas esporádicas, me segue lá no instagram
Beijinho, Ana.
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PIETRO SANTINELLE
Há certas coisas com a qual uma pessoa pode sonhar, liberdade seria uma delas. Ao menos pensei que poderia ter tempo para algo que eu gostasse de fazer, algo que eu mesmo tenha escolhido. Mesmo sabendo que os dias eram contados eu me dediquei, me esforcei e passei horas debruçado sobre os livros para conseguir o curso que eu queria. Me formei como médico e tive a glória de passar na residência, mas nada disso importa agora. A Famiglia precisa de mim, meu pai está se aposentando e tenho obrigações a assumir.
É por isso que estou parado no altar neste exato momento, com as mãos unidas em minhas costas, esperando pacientemente a noiva que nunca vi fazer seu caminho pela estrada de pétalas para se casar comigo. Não há nada sobre Valentina Barone, nem uma mísera foto da mulher, mas sabe-se que ela tem vivido trancafiada em casa pelo pai e sofre nas mãos dele. É tocante que eu deseje afundar uma de minhas lâminas no olho do meu sogro e farei, não no dia do meu casamento, mas farei.
Se tem algo que meu irmão e eu fomos criados para saber, é que a Famiglia vem em primeiro lugar. Abandonei a medicina, estou assumindo como o segundo no comando, sendo o braço direito do meu irmão e estou pronto para o trabalho. Não preciso mais cumprir o juramento de Hipócrates, aquele que todo médico faz e promete preservar a vida. Voltarei a assumir as torturas para a Famiglia e todas as demais funções.
Não que eu esteja reclamando. Minha família é importante para toda a Organização, somos os Santinelle afinal. A medicina foi uma boa experiência, mas eu sabia que era passageira e que estava destinado a liderança com meu irmão. É claro que não sou uma parede de músculos como ele, Luca aprecia a força bruta e o uso de armas de fogo. Sou tão alto quanto ele, mas mantenho meu corpo na forma necessária, definida e sem exageros, aprecio a agilidade e velocidade, as lâminas me atraem muito mais que os calibres. É por isso que somos um bom equilíbrio um para o outro.
A marcha nupcial começa a tocar e sou trazido de volta à realidade. Fileiras e mais fileiras de convidados diante de mim, membros da Famiglia dos Estados Unidos, Canadá e um pequeno punhado da Itália. No outro extremo do corredor de pétalas brancas surge minha noiva de braços dados com seu pai, não me passa despercebido o olhar atento de seu irmão Ettore para os dois. Seria o momento perfeito para o ver o rosto da mulher, mas aparentemente há certa piada em escondê-la porque mantiveram o mantido véu sobre seu rosto.
Meu lado carnal e inapropriado não deixa de notar como ela tem uma corpo bonito e bem desenhado, para alguém aprisionada em casa ela deve passar um bom tempo se exercitando. O vestido se prende a ela como uma segunda pele, ao menos o que consigo ver já que o tecido se estende por sua face até abaixo do busto. Qual mistério é esse sobre a garota? Eu já estou parado no altar com minha mãe a poucos passos de mim, realmente acham que eu fugiria havendo chance da minha progenitora atirar em minha direção? Um homem tem amor a sua vida.
Já me sinto impaciente quando pai e filha finalmente chegam ao altar, Barone retira a mão da filha de seu braço e a entrega para mim. A mão fria e trêmula não me passa despercebida, se seu nervosismo é pelo casamento ou pela presença próxima de seu fodido pai, não tenho certeza.
-Santinelle.
-Barone. - Contendo a careta de nojo para ele, forço-me a um movimento rápido de cabeça antes que ele se afaste e eu termine de guiar a noiva para até o padre.
Paramos diante do servo de Dio e Valentina se vira para mim, dando-me a deixar para levar o maldito véu. Normalmente sou um homem paciente, mas tanto mistério desnecessário me deixa irritado. Seria errado queimar o maldito tecido para aliviar o estresse? Talvez picá-lo? Sou um homem de palavra e se disse que me casaria com ela... Bem, estamos aqui agora, não é?
Eu só não estava preparado para o sensação de soco no estômago quando coloquei o tecido para trás de sua cabeça. A mulher é linda. Cazzo dall'inferno, a mulher parece um anjo renascentista. O que diabos está fazendo ainda solteira? Pior, casando-se comigo? Quem seria louco de rejeitá-la como sua esposa, per l'amor di Dio?!
O cabelo loiro está contido em algum penteado elaborado e escondido pelo véu, seus olhos esverdeados me observam temerosos, quase aterrorizados. Há uma cicatriz em seu rosto, um formato de meia lua que vai da lateral da sobrancelha direita até a maçã do rosto. Ganhar essa queimadura deve ter doído como o inferno e saber que seu fodido pai fez isso só alimenta minha vontade de furar seus olhos. Foda-se que eu não a conhecia antes, não se levanta a mão para uma mulher e definitivamente não se levanta a mão para minha esposa. Cazzo.
-Senhor, podemos começar? - O padre chama minha atenção em voz baixa e finalmente percebo que estive a avaliando por um longo tempo.
Valentina parece ter se encolhido um pouco. Ela acha que a agredirei de alguma forma? Dio Santo, prefiro cortar meu próprio braço antes de levantar uma mão para ela. Eu me mataria se pensasse sobre isso e sem contar o que minha mãe faria se sonhasse com a possibilidade. Não, um homem deve honrar suas bolas.
-Claro. - Nos viramos para o padre e mantenho sua mão gentilmente sobre a minha. Não quero apertá-la para mostrar encorajamento porque não se se ela interpretaria isso como uma ameaça, também não posso acariciá-la para que pense que sou um pervertido pensando apenas no leito conjugal.
Posso ser um idiota de várias maneiras possíveis, mas há algo sagrado para mim é o casamento. Você sabe que seu dever, como marido, é cuidar, proteger e honrar sua esposa então deve estar disposto a qualquer coisa para fazê-lo. Valentina agora é uma Santinelle e me encarregarei pessoalmente de cortar a garganta de qualquer um que tente contra ela. Nem conto com seu pai na ameaça pois para mim ele já é um homem morto. Não hoje, mas logo será.
-Estamos reunidos hoje, neste dia tão especial... - O padre começa seu sermão e meu cérebro desliga. Preciso pensar em como abordar minha esposa sem que ela me considere um bastardo tirano como seu pai. Valentina precisa entender que está segura conosco e que as coisas serão diferentes agora.
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O Mestre - Contos Santinelle 02
RomancePietro Santinelle não é o mais compreensível dos homens. Seu humor afiado, charme pecaminoso, olhar avaliativo e alma sombria são capazes de corromper até a mais pura das almas. Se preparando para assumir como o braço direito de seu irmão, Pietro pr...