Capítulo 15

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VALENTINA SANTINELLE

Quando vi as sombras quebrarem o vidro da janela, gritei assustada e corri para o banheiro o mais rápido que minhas pernas conseguiram. Tive um rápido vislumbre de homens com roupas escuras invadindo o quarto, mas não parei para observá-los, como iria? Estava ocupada demais trancando a porta e fugindo para o canto mais longe do banheiro.

Escuto os passos pesados se aproximando do banheiro e seguros as armas que Pietro me deu com força. Uma adaga em uma mão e uma pistola na outra, não que eu saiba me defender muito bem. Esfaquear uma pessoa deve exigir força e não tenho ideia de quanto; atirar em alguém não deve ser tão fácil também, exige mira e precisão. Como Pietro faz parecer tão fácil é um mistério.

As pancadas na porta atraem minha atenção, um som grave e forte como se um chute pesado acertasse a madeira. Tentei recuar mais, mas minhas pernas se chocaram contra a banheira e ofego, lutando contra o crescente desespero dentro de mim. A barreira que me separa dos invasores cai, a porta fica torta e pendurada por uma única dobradiça para que dois homens entrem.

Ergo a pistola para eles, apertando o gatilho apenas para ouvir o som de trava. Nenhum disparo aconteceu. Posso ouvir um bom mais abafado de tiro vindo do quarto e uma nova sequência de disparos em seguida. Enquanto isso deixo a adaga cair no chão e tento puxar uma parte da arma como vi Ettore fazer antes. Um dos homens já avançava em minha direção quando minha arma fez um novo clique.

Desesperada e trêmula eu puxei o gatilho. Foi tudo tão rápido e o barulho tão alto que fiquei momentaneamente surda e só dei-me conta do que aconteceu quando o invasor que avançava em minha direção colocou a mão em sua perna, a calça escura rapidamente molhando e seus olhos raivosos focados em mim.

Ele segura sua arma com mais força e o outro começa a se aproximar de mim. Seguro minha pistola com as duas mãos e começo a atirar sem um foco, somente querendo afastá-los de mim. A cada tiro a arma ameaça voltar com força em meu rosto, o disparo é mais forte do que pensei que seria e preciso manter meus braços firmes para evitar um machucado.

O som de trava soa alto novamente e o barulho de móveis sendo quebrados no quarto chama minha atenção. O invasor que eu havia ferido havia levado mais alguns tiros, incluindo um no rosto que não parece estar nada bem e o sangue jorrando da ferida faz meu estômago embrulhar.

Não percebi a aproximação do outro até que ele havia me estapeado no rosto e arrancado a arma sem munição das minhas mãos. Quando seus dedos seguram com força o meu cabelo meu cérebro desligou, como sempre fez nos acessos de raiva de papa. É como se eu não estivesse mais aqui, apenas meu corpo ficou para lidar com os estragos causados.

Também, o que estive pensando? Entrar para a família que lidera a Famiglia e agir como se fosse igual a eles? Todos sabem o poder e o potencial que os Santinelle têm, o sobrenome é um peso por si só. Eu sou só uma garota gaga e tímida que lidou com um pai violento toda a sua via, viveu isolada nas montanhas e aprendeu a se acostumar com a solidão. Fui inocente de pensar que pegaria em uma arma e faria grandes feitos como as mulheres Santinelle fizeram. Dona Mellania e a senhora Melissa são verdadeiras lendas, eu não sou assim.

Agora aqui estou eu, vendo o homem socar meu rosto mais uma vez e não conseguindo sentir nada. Foi bom ter conhecido a felicidade com Pietro, ele é um homem muito bom, mas talvez tenha chegado a hora de me juntar a mamma. Será que ela sabia que eu teria um fim assim quando decidiu se libertar de nossa tormenta e me deixar para trás? Ela pensou no que poderia ter acontecido comigo ou só queria acabar com sua própria infelicidade? Bem, meu olho esquerdo já não está enxergando direito de qualquer forma.

Assim é a vida na Famiglia, não é? Longe de ser o paraíso, desfrutando de luxos para encobrir os riscos. Nunca saber se sobreviverá mais um dia. Agora, como esposa de Pietro, tendo minha cabeça a prêmio também.

Meu olho direito focava no rosto do meu atacante, vendo em primeira mão como ele está bravo e não parece ter pena do corpo que golpeia. Ele estava rangendo os dentes, algumas gotas do meu sangue pintava aleatoriamente sua face e seu punho se ergueu mais uma vez no ar, mas não desceu dessa vez.

Ao contrário, o homem voou para longe de mim e vi Pietro de pé. Ele analisava meu rosto com um olhar frio e cheio de ódio. Seu lábio está cortado, assim como um pequeno rasgo em sua bochecha e ele está coberto de sangue, mas isso não parece um impedimento quando ele ergue a cabeça do meu atacante do chão e começa a golpeá-la contra o vaso sanitário. Meu marido parece diferente, sua postura mudou e seus olhos parecem brilhar como nunca vi antes. Apesar da raiva o cercando, posso ver que no fundo ele parece aproveitar da situação enquanto esmaga o crânio do invasor contra a privada, que agora está bem ensanguentada. O homem, que no início tentou lutar, já havia perdido a consciência há muito tempo e pela quantidade de líquido vermelho ao seu redor não acho que ele voltará a acordar um dia.

-Eu deveria ter sido mais rápido. Perdone, passione mio. - Pietro me ergue em seus braços, tirando-me daquela cena sangrenta no banheiro e pude confirmar com meus olhos que o quarto não estava muito diferente. Móveis quebrados e sangue para todo lado, havia um último invasor pendurado na janela quebrada, a parte superior de seu corpo pendurada para fora e uma adaga fixa no meio de suas costas.

-E-Eu s-si-sint-sinto m-mu-muito.

-Sou eu quem sente muito. - Pietro entra em outro quarto e me coloca sobre a cama - Eu deveria protegê-la.

-V-vo-você m-me s-sa-salvou, P-Pietro.

-Eu deveria estar lá antes. Dio, eu fiquei louco quando o vi em cima de você, Valente. Eu não sou um bom homem, mas eu juro que me esforçarei para ser um ótimo marido para você. Cazzo, eu te amo. Não vou deixar que algo assim aconteça outra vez.

O brilho assassino em seus olhos apaga, é como se aquela aura perigosa que o cercava desaparecesse e a preocupação o consumisse. Ergo minha mão e coloco minha palma em sua bochecha, só então percebo que minha mão está ensanguentada também, devo ter tentado me defender dos golpes sem perceber. Agora estou sentindo meu olho latejar, quase fechado e meu lábio arder.

-E-Eu ta-tam-também t-te a-amo.


O Mestre - Contos Santinelle 02Where stories live. Discover now