Capítulo 4

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PIETRO SANTINELLE

Abro a porta do escritório com toda a força que tenho e jogo o cadáver dentro. Meu pai olhou para o morto como se não fosse mais que uma mancha indesejada no carpete, Luca me olha com interesse, Ettore levanta as sobrancelhas em surpresa e Barone se levanta da cadeira ao identificar o desgraçado.

-O que é isso?! - Barone olha para mim com puro ódio nos olhos. Faço meu caminho para dentro e bato a porta atrás de mim, usando a manga do meu terno para limpar um pouco de sangue no meu queixo.

-Isso. - Aponto para o corpo, ainda estou segurando minha adaga ensanguentada na mão - É o que acontece quando alguém toca faz o que não deve no território que não é dele.

-Mas Giovanni...

-E isso. - Jogo a mão decepada de Giovanni no colo do capo canadense - É o que acontece quando alguém toca em algo que é meu. Valentina agora é minha esposa e se você acha que eu toleraria esse monte de merda vir até o nosso território tocar em minha esposa então você perdeu seu maldito cérebro.

-Ele era seu segundo, não? - Meu pai pergunta e Ettore acena, respondendo por seu pai - Bem, sugiro que encontre outro agora.

-Espero que não exija uma reparação. - Luca flexiona os olhos na direção do homem - Antes de ser esposa do meu irmão, Valentina é sua filha e se um homem a toca indevidamente você deveria ter mais sede de sangue que ele neste momento.

-Decidam o que será. - Não consegui esconder meu desprezo, não é como se eu tivesse tentado também - Se Barone prefere seu segundo a própria filha e exige reparação em confronto me avisem. Até lá estou tirando minha esposa daqui.

-Nossos convidados estão escandalizados? - Meu pai pergunta, não demonstrando tanto interesse assim.

-Não, usei a passagem lateral. Não quero o sangue dele manchando o chão de pétalas do meu casamento.

Saio de lá e vou para o antigo quarto de Luca tomar um banho. Saímos de casa há anos, mas mama insiste em manter nossos antigos quartos, não por acaso Valentina usou do meu para se aprontar para o casamento. Eu sabia que havia algo errado, eu sabia que deveria checá-la porque não confio em nenhum desses bastardos perto dela. Simplesmente enlouqueci quando o vi arrastando Valentina pelo braço. Rodeei a casa pela vegetação escura do jardim, puxei uma de minhas adagas e lancei em suas costas. Foi libertador picar alguém depois de tanto tempo sob o juramente médico.

Me livrando do cheiro de sangue com um sorriso no rosto, apresso meu banho e descartando as roupas sujas, me troco rapidamente e sigo para encontrar Valentina. Bato à porta, esperando por um comando de entrada, mas ela mesma a abre.

-Hey, pronta para irmos?

-S-sim. - Ela movimenta a cabeça e volta a caminhar para dentro do quarto, a sigo e fecho a porta atrás de nós - Pa-para onde v-va-vamos?

-Rancho da família em Wyoming. É um lugar tranquilo e seguro, será bom para começarmos nossa vida de casados, não acha?

-O q-que acon-aconteceu com Gi-Giovanni?

-O puni por tocar em você. - Respondo simplesmente - Você é minha esposa agora, Valentina. Minha para honrar, proteger e cuidar. Isso inclui evitar que qualquer um a faça mal, inclusive eu mesmo.

-O-o que q-quer dizer?

-Quero dizer que não há motivos para me temer. Na minha família levantar a mão para uma mulher significa colocar suas bolas em risco e não queremos isso, certo?

-B-bolas?

-Você não sabe sobre bolas? - Ela balança a cabeça, realmente perdida no assunto. Cazzo ela é mais inocente do que eu achei - Teremos a oportunidade de conversar sobre isso depois. Eu sei sobre as coisas que seu pai fez, não acho que tudo, mas tenho uma boa noção e não vou deixar que isso se repita. Foi o principal motivo por seu irmão arranjar nosso casamento.

-Et-Etto-Ettore fez o arran-arranjo?

-Sim e ele não avisou ao seu pai. Fiz uma oferta por sua mão dizendo que queríamos estreitar os laços na Famiglia, mas a verdade é que fizemos tudo isso para te trazer a um lugar seguro.

-M-meu irmão co-confiou em vo-você para estar com-comigo, mas v-você não... - Ela toma seu tempo, respirando fundo e escolhendo com cuidado as palavras que quer pronunciar - S-seu interesse n-nun-nunca foi em m-mim, não é?

É uma coisa interessante que estivesse reparando por todo o momento em que fomos felicitados pelos convidados. Ela gagueja muito quando está nervosa, mas ainda sim tenta se controlar e escolher as palavras com cuidado para não gaguejar muito. Talvez... Se trabalhássemos em sua autoconfiança Valentina pode aprender a controlar a gagueira.

-Eu tentei procurar algo sobre você, quase pedi a Bianca para hacker os sistemas da Famiglia para conseguir uma foto sua. Nós mal nos conhecemos e não posso prometer amor eterno, Valentina, mas quero que esse casamento dê certo. Você é uma mulher belíssima e me sinto particularmente agraciado por tê-la como minha esposa, só não quero que me compare ao seu pai. Minha família e eu não somos assim.

-A-acho que só p-pre-preciso de um tempo. É m-muita coisa no-nova para me ac-acostumar.

-Tudo bem, vamos deixar as coisas acontecerem naturalmente. Suas malas?

-Ali no c-canto. - Valentina aponta para uma pequena mala de rodinhas e uma bolsa de ginástica aparentemente cheia.

-Alguém levou o restante para o carro?

-N-não, é tu-tudo que eu te-tenho.

-Tudo bem. - Coloco a alça de sua bolsa em meu ombro e pego a alça da mala, dispensando as rodinhas. Passo meu braço livre sobre os ombros de Valentina e dou-lhe meu melhor sorriso - Hora de nos divertirmos, passione mio.*

-E-eu não d-dev-deveria conhecer o re-restante da sua fa-família?

-Podemos fazer isso na volta, tenho certa pressa em sair daqui. Logo todos estarão bêbados e irritantes. Tudo bem por você?

-S-sim. - Ela abre a porta do quarto e saímos juntos, faço questão de manter meu braço ao seu redor. Quero que Valentina saiba que está protegida e que estou com ela - Po-poderei manter cont-contato com m-meu irmão?

-O que você quiser, passione.

*****

Passione mio* - Minha paixão em italiano.


O Mestre - Contos Santinelle 02Where stories live. Discover now