PIETRO SANTINELLE
-Estou aqui. - Anucio ao entrar no galpão, o subsolo de um dos nossos prédios debaixo da Times Squares onde o constante movimento e o barulho encobrem os gritos de horror que saem daqui de baixo - Onde ele está?
-Nas celas. - Luca responde.
-O que aconteceu no rancho? - Meu pai pergunta.
-Um banho de sangue. - Confesso, guardando minhas mãos nos bolsos da calça - A sala, cozinha e meu quarto foram destruído. Há corpos por toda parte no celeiro, as paredes precisarão de nova pintura, o piso precisa ser troca e as vidraçarias substituídas. Ah! E meu banheiro também, posso ter esmagado a cabeça de um dos invasores contra a privada.
-Você... esmagou? - Luca questiona, um misto de incredulidade e diversão.
-Eles entraram pela cozinha, pedi para Valentina me esperar dentro do quarto com a porta trancada, mas enquanto eu estava ocupado com o grupo na sala e na cozinha eles entraram pela janela do quarto. Quando eu entrei... eu vi vermelho. Fiquei puto.
-E como isso chegou a você esmagando um crânio? - Meu pai pergunta muito interessado.
-Troquei tiro com um dos invasores que estava no quarto, quando finalmente consegui atravessá-lo na janela com uma faca em suas costas fui para o banheiro. Havia um cara morto no chão e um outro filho da puta do caralho socando Valentina. Eu fiquei puto, muito, muito puto com a cena. Ela parecia semiconsciente e ele a socando. Puta merda. Só o puxei pelo pulso e o joguei no chão. Uma verificada rápida para garantir que Valentina estava bem e tudo o que eu conseguia pensar era em me livrar dele. Não sei de onde saiu a ideia, mas segurei seus cabelos e o bati contra o vaso até toda a minha raiva sumir. Quando voltei a mim já estava banhado de sangue e havia um mar vermelho no banheiro.
-Que belo estrago. - Luca movimenta a cabeça, parecendo quase admirado.
-E como ela está? - Meu pai pergunta.
-Com um olho roxo e bem inchado, um lábio cortado e muitos hematomas pelo tronco. Vocês podem ver como estou necessitado para terminar com o fodido pai dela.
-Temos que esclarecer algumas coisas antes. - Meu pai diz - É bom ter tudo sobre a mesa.
-Lorenzo aceitou nossos argumentos e nos deixou lidar com Barone para que ele assuma a responsabilidade por qualquer merda depois, comunicamos sobre o atentado e Lorenzo pediu que tentemos arrancar uma confissão dele. - Luca dá de ombros com descaso - Será um pouco difícil, ele é um homem das antigas e pode ser um pouco difícil. Ao mesmo tempo temos a idade a nosso favor e seu corpo não é mais tão resistente.
-Como fica o Canadá?
-Assim que oficializarmos a morte do Barone, Lorenzo ligará para Ettore e o parabenizará pela promoção. Todo o conselho será avisado e depois disso Ettore ficará por conta própria para cuidar dos problemas internos. Se ele quiser acionar os italianos já é problema dele, não mais nosso. - Meu pai explica.
-Tudo bem, podemos começar. Preciso resolver uma última coisa antes de ir para casa.
Sinceramente não acho que a imagem de hoje saíram da minha mente algum dia. Encontrar aquele homem sobre Valentina a socando foi... Porra, foi como se eu me transportasse para o Canadá e visualizasse anos de violência ao qual Valentina foi submetida. Encontrá-la parada, semiconsciente e olhando para o homem enquanto ele descia seu punho sobre ela. Minha adaga caída no chão perto dos dois. Valentina poderia ter furado o filho da puta, e para o meu tormento eterno, o desgraçado poderia ter pegado a adaga e a matado.
Se eu tivesse me atrasado mais alguns segundos e o maldito olhado para o lado. Inferno, eu sou o pior marido do mundo. Valentina poderia estar morta e eu jurei protegê-la, jurei cuidar dela e não fiz. O que eu esperava? Valentina não tem treinamento, não estávamos preparados para um ataque assim. Eu deveria tê-la levado para outro quarto e cuidado de todos sozinho. Cazzo, não acho que ela se quer percebeu que matou um dos seus atacantes.
Estive tão ocupado enfrentando o invasor que encontrei no quarto. Trocamos tiros até nossas munições acabarem e ele não estava em um ângulo que eu pudesse lançar lâminas então começamos um confronto corporal, golpeando um ao outro até que eu conseguisse cortar sua garganta, fincar uma adaga em suas costas e empurrá-lo para a janela.
Foi só depois de vê-lo morto e pendurado ali que me atentei para os grunhidos e barulhos vindo do banheiro. Que Dio me perdoe, mas eu estava aterrorizado pelo que poderia ter acontecido com Valetina. Se ela fosse violada eu nunca me perdoaria. Acho que a cena se repetirá em minha mente pelo resto dos meus dias.
Precisamos organizar tudo para que Valetina comece seu treinamento, assim que seus hematomas melhorarem. Ajudarei pessoalmente no que puder, não suporto a ideia de algo assim voltar a se repetir. Armas, facas, combate e todo tipo de defesa que ela puder aprender.
-Não sei se gosto dessa expressão. - Luca comenta, me trazendo de volta a realidade para encontrar meu irmão e meu pai me observando com olhares atentos.
-Eu vi o invasor a atacando.
-E esmagou o crânio dele contra a privada, nós entendemos isso. - Luca brinca, mas o olho sério. A cena repassando em minha cabeça mais uma vez.
-Consegue imaginar entrar no seu banheiro e encontrar um homem socando a sua esposa com uma adaga a poucos centímetros dos dois, no chão? Você viu como está o rosto dela, consegue imaginar como foi a cena?
-É um risco que todos estamos sujeitos, meu filho. - Meu pai aperta meu ombro, com aquele olhar conhecido de quem precisa acalmar um filho estressado - Faz parte do nosso mundo. Nós nascemos na Famiglia e morremos nela.
-Tutto per la Famiglia, eu sei. Eu só... Não deveria ser assim.
-Sim, não deveria. Você está casado com uma garota inocente que viveu reclusa e submetida a muita violência por toda a sua vida. Você quer protegê-la e ela se machuca durante um ataque, a possessividade e o instinto de proteção fará você se sentir o pior dos homens e você pensará que falhou, também jurará a si mesmo que não deixará isso acontecer outra vez. - Luca suspira cansado, como se soubesse exatamente como é - Você não tinha controle algum sobre a situação, Pietro. Estavam em desvantagem.
-Tudo o que você precisa agora é descontar essa frustração e agora é a hora perfeita. - Meu pai sorri e aponta para um dos soldados que estão camuflados pelos cantos sombrios do galpão -Busquem Barone.
-Não vou usar as correntes hoje, coloque-o na mesa.
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O Mestre - Contos Santinelle 02
RomancePietro Santinelle não é o mais compreensível dos homens. Seu humor afiado, charme pecaminoso, olhar avaliativo e alma sombria são capazes de corromper até a mais pura das almas. Se preparando para assumir como o braço direito de seu irmão, Pietro pr...