VALENTINA SANTINELLE
-Gr-gra-grazie. - Agradeço a mais uma felicitação entre as centenas de convidados presentes. Pietro segue ao meu lado, sorrindo educadamente para as pessoas que se aproximam para nos felicitar, sua mão permanece em minha cintura e ele com toda a sua altura, parece me cercar como um casulo protetor. De alguma forma sua proximidade já não me causa tanto incômodo.
-Seu italiano não tem sotaque. - Meu marido observa com um sorriso brincalhão, mas seus olhos brilham de interesse. Me tocou que ele tenha esperado os convidados se afastarem de nós para iniciar uma conversa, gaguejar na frente das pessoas me deixa nervosa e acabo gaguejando mais. É incômodo para todos na situação e desconcertante para mim.
-Cr-cresci cer-cercada de it-talianos. - Respiro fundo, concentrando-me nas palavras para não gaguejar muito e tornar minha frase incompreensível - S-só uso m-meu inglês quando nes-scerário.
-Aí estão eles! - Um casal se aproxima todo sorridente, o homem é alto e musculoso e parece muito com meu marido, a mulher é pequena e curvilínea, um óculos empoleirado em seu nariz - É bom ter uma nova garota em nosso grupo, posso dizer que estávamos em desvantagens.
-Valentina, esses são meu irmão Luca e minha cunhada Bianca. - Pietro nos apresenta - É melhor ter cuidado com ela, Bianca está grávida e usa essa desculpa para conseguir tudo o que quer.
-Eu não faço isso. - Bianca abre a boca, ofendida pela acusação de Pietro - Eu sou uma mulher com necessidades, logo ficarei gigante e meu prestativo marido quer que seu bebê esteja seguro.
-Você está se aproveitando. - Pietro constata.
-Está sim, mas ela gosta de fingir que não. - Luca fala com um sorriso convencido no rosto - Sei que estão aproveitando o casamento e logo teremos a festa, mas preciso falar com Pietro. Você se importa Valentina?
Se eu me importo? Ele não deveria fazer o que quiser? É algum tipo de teste para saber se mereço punição? Sem saber como reagir, fico olhar para os três em busca de algum sinal. Não quero sofrer penitência por responder errado.
-Querida, não precisa se preocupar. - Pietro aperta minha cintura, atraindo minha atenção para si, seus olhos me mantendo hipnotizada - Você não corre perigo algum, lembra-se? Está segura agora.
-Eu n-não me impo-imp-importo que voc-você saia, se pr-precisam discutir alg-algu-alguma coisa imp-impo-ortante. -
-Grazie. - Ele beija a lateral da minha cabeça, não parecendo irritado ou impaciente sobre minha gagueira - Nós voltamos logo, okay?
-O-okay.
Os irmãos assentem para nós e saem rapidamente. Fico observando Pietro caminhar até o casarão ao lado de seu irmão, os traços de ambos são tão parecidos, mas tão distintos entre si. Pela semelhança sabe-se que são irmãos, porém Pietro é mais esguio que Luca, anda com uma graça quase predatória e parece estar constantemente analisando o ambiente ao seu redor. Ambos são pecaminosamente lindos, mas Pietro destaca-se aos meus olhos. Ele é diferente de tudo o que já vi.
-Eles conseguem prender a atenção, eu entendo. - Bianca fala, atraindo minha atenção para ela - Se apaixonar por alguém dessa família é um caminho sem volta. Você é sortuda, Valentina, Pietro é o mais calmo e controlado dos irmãos e desde que o conheço nunca vi uma grosseria de sua parte. Diferente de Luca, que pode ser um bruto e babaca ocasional.
-V-você o o ama m-mesmo se-sendo um babaca?
-Ele é um babaca diferenciado e tem um poder de convencimento dos deuses. - Seu sorriso malicioso, por algum motivo desconhecido, me causa riso e não medo ou receio - Luca poderia levar muitas mulheres a loucura, mas estranhamente é o homem perfeito para mim. Digamos que não sou uma pessoa muito convencional também.
-E Pi-Pietro?
-Ele é um homem tranquilo. Não sei muitas informações profundas sobre sua personalidade ou gostos, para descobrir isso você precisa conversar com Emma. Emma Santinelle é a melhor matriarca do país e ama fornecer detalhes privilegiados para as noras.
-Qu-quando po-poderei conhecê-la?
-Ainda hoje, creio eu. Ela está cuidados dos detalhes da festa, mas deve conversar com você antes de partirem para a Lua de Mel.
-T-teremos um-uma Lua d-de Mel?
-Claro que sim, é uma tradição dos Santinelle. Pietro não contou para onde pretende levá-la?
-Não.
-Uh, a surpresa será interessante. Você gosta de surpresas, não é? Há pessoas que detestam e não acho que Pietro gostaria de começar a vida de casado com uma falha dessas.
-E-eu nunca g-ganhei uma su-sur-supresa. N-no má-máximo a notí-tícia do meu ca-casamento.
Nem mesmo uma de aniversário, fora as visitas do meu irmão nós não comemoramos aniversários. Papa sempre considerou festividades fúteis e desnecessárias para perder dinheiro e tempo. Meu comunicado de casamento foi resumido ao meu pai dirigindo até a casa de interior onde ele me mantinha e comunicando que finalmente havia conseguido um interessado em mim. Claro que eu esperava um velho barrigudo em seu quinto casamento, não um jovem bonito e sedutor com incríveis olhos azuis. Depois de tantos anos recendo recusas eu havia perdido as esperanças e aceitado que passaria o restante dos meus dias escondida na casinha modesta que meu pai me mantinha.
Papa obrigou-me a seguir dietas rígidas e exercícios pesados para estar em forma e manter um corpo que chamasse atenção de interessados, há um número bom de capos, herdeiros e assassinos da Familia solteiros. No primeiro momento todos se impressionavam com minha aparência e até mesmo ignoravam a cicatriz chamativa no meu rosto, mas bastava que eu tentasse falar algo para desistirem das propostas.
-Eu posso garantir que estar com os Santinelle é garantia de emoções. - Bianca abre um sorriso brilhante e amigável - Eu não sei o que está acontecendo comigo, pensei que grávidas só tivessem necessidade de ir constantemente ao banheiro em estado mais avançado, mas aqui estou.
-Q-quan-quanto tempo?
-Dois meses. - Acaricia seu estômago, um olhar bonito que não sei descrever brilhou em seu rosto - Estamos esperando o período de risco passar para fazermos o anúncio oficial.
-Se pre-precisa ir a-ao banh-banheiro, eu nã-não quero te a-atra-atrapalhar.
-Mesmo? Eu não quero te deixar sozinha assim.
-V-vou fi-ficar bem.
-Certo, eu volto logo. Quando voltar terei comida para nós duas.
-T-tudo bem. O-obrigada.
Bianca praticamente corre para dentro do casarão e não posso deixar de sorrir ao vê-la. Ela é bem comunicativa e espirituosa, dói um pouco pensar que os membros dessa família têm se esforçado para falar comigo mais do que qualquer um - com exceção do meu irmão - já fez.
Não percebi alguém se aproximar, até que uma mão se fechou em meu braço com um aperto forte e comecei a ser arrastada para a lateral da casa, um canto mais escuro. O pânico fechou minha garganta e me preparei para o primeiro golpe. Tentei fazer tudo certo, mas devo ter cometido algum erro para ser castigada.
-Sua gaga, como conseguiu despertar o interesse dos Santinelle? - Giovanni me pressiona contra a parede, seu rosto perigosamente perto do meu e seu aperto começa a me machucar de verdade - Logo agora que eu estava a ponto de convencer seu pai a me dar você. Que grande problema você começou, não acha Valentina?
Um som de assobio rouco corta o ar, seguido por um barulho de soco. Giovanni se afasta com uma careta de dor, apenas o suficiente para sair do meu espaço pessoal. Das sombras atrás dele surge Pietro com uma expressão assassina no rosto e puxa um punhal ensanguentado das costas de Giovanni.
-Valentina, vá para dentro e comece a se trocar para nossa viagem, sim? Preciso discutir uma coisa com esse homem.
Concordo com um movimento de cabeça, correndo de volta para a área iluminada da festa, mas não fui rápida o suficiente para evitar o momento em que Pietro cravou a lâmina no ombro de Giovanni e ele gritar. Dios mio.
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O Mestre - Contos Santinelle 02
RomancePietro Santinelle não é o mais compreensível dos homens. Seu humor afiado, charme pecaminoso, olhar avaliativo e alma sombria são capazes de corromper até a mais pura das almas. Se preparando para assumir como o braço direito de seu irmão, Pietro pr...