Capítulo 10

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PIETRO SANTINELLE

Como mais um pedaço de panqueca sem conseguir disfarçar meu interesse na mulher sentada a minha frente. Ela parece tão encolhida que poderia desaparecer a qualquer momento, sou um homem alto - nem de longe uma parede de músculos como meu irmão - então quando Valentina se encolhe assim parece ainda mais delicada para mim, como se pudesse quebrá-la com apenas um toque e essa fragilidade me deixa louco de uma maneira nada boa.

Não a loucura do tipo "caramba, isso é foda para caralho. Um cazzo sexy", mas sim do tipo "por que cazzo esta merda está acontecendo?". Ela é uma mulher linda e inteligente, a timidez e a gagueira a deixam fofa aos meus olhos, mas isso ainda não parece certo. Talvez seja o resultado por vir de uma família com mulheres fortes que poderiam sustentar o mundo em seus ombros e estariam mais que preparadas para essa tarefa, agora olhar a situação de Valentina faz-me querer gritar de ódio.

Ela não percebe o quanto é poderosa? Poucas são as pessoas que teriam passado por tudo o que ela passou e se manteriam firmes como ela fez. Maldição, a cicatriz em seu rosto é a proa viva disso. Valentina sobreviveu anos sob a tirania de seu pai e não apenas conseguiu se manter viva, como também resistiu a todos os problemas. Caralho, a mulher é uma sobrevivente e não se dá conta de como isso é foda.

Vê-la encolhida na cama chorando, me pedindo desculpas e praticamente implorando para que eu não a devolva - como se eu estivesse disposto a deixá-la a cem metros do fodido pai - foi uma faca forte em meu peito. Enquanto relaxávamos na banheira, com ela entre minhas pernas e braços, Valentina não emitiu mais um único som. Permitiu que eu a limpasse quando a água começou a esfriar sem falar nada. A tagarelice tende a ser algo irritante para mim e considerando que tenho uma família extremamente faladora posso confirmar que já passei muita raiva, mas o silêncio de Valentina me deixa louco de preocupação.

Inferno, tenho deixado claro para ela desde que nos casamos que agora é diferente, ela não está mais sob o controle do fodido pai, que não a deixarei sozinha e que a protegerei da melhor forma possível, mas ela ainda não acredita. Cazzo, estou puto e frustrado. Ela também não tocou na comida. Maldição!

Salto da banqueta, abandonando o prato vazio sobre o balcão e dando a volta na maldita ilha longa da cozinha até parar ao lado dela. Seu corpo fica tenso e tenho a necessidade de furar alguma coisa para descontar minha raiva. Ela não deveria ser assim, inferno.

-Valentina, querida. Olhe para mim. - Espero pacientemente até que seus olhos esverdeados me encarem de modo hesitante, quase temeroso. Com uma bufada irritada seguro seus quadris e rodo sobre o assento, até que eu consiga estar entre suas pernas - O que aconteceu?

-E-eu o de-des-desa-desapontei. - Ela volta a abaixar o rosto e preciso segurar a maldição que tenho na ponta da língua - M-me p-per-perdoe.

-Eu não estou desapontado. - Seguro seu rosto em minhas mãos, obrigando-a a levantar o olhar e encarar meus olhos - Estou fodidamente preocupado. A culpa foi minha por ter te machucado, eu poderia tê-la preparada mais, ter feito algo melhor para você. Quanto mais tensa a moça estiver, mais dolorosa tende a ser a primeira vez. Você estava bem lubrificada e parecia relaxada o suficiente para mim depois de seu orgasmo. Foi um erro meu, não seu.

-V-vo-cê v-vai me ba-bater?

-Eu prometi para você no altar do nosso casamento, diante de Dio e diante dos homens, com toda a Famiglia como testemunha, de que arrancaria meu próprio braço antes de levantar a mão para você. Estou mantendo e cumprindo minha promessa até que a morte nos separe, como é o certo.

-V-você me-merecia u-uma es-esposa m-melhor.

-Eu já tenho a esposa perfeita, Valente. Você merecia um marido melhor, infelizmente o seu tem uma cabeça bem fodida e pode ser bem problemático, mas prefere morrer antes de te entregar para o seu pai. Ele é um bastardo de merda e não está chegando perto de você novamente, entendeu Valente?

-S-sim.

-Preciso que acredite em mim de agora em diante. As promessas que faço à você não são em vão, eu tenho a intenção de cumprir com cada uma delas. Eu não sou o seu pai, Valentina. Estamos bem?

Ela maneja a cabeça em concordância. Não é ideal, mas me contento com isso por agora. Sentindo um pouco da tensão em meus ombros se esvair, consigo dar-lhe um sorriso tranquilo e um rápido beijo na testa antes de me afastar.

-N-não está m-mesmo des-desapontado?

-Não, passione mio. Por que não come um pouco e se troca? Quero te levar para um passeio de jipe antes do sol se pôr, conhecer um pouco mais do rancho.

-Sério?

-Sim, farei uma ligação rápida para o meu irmão enquanto isso. Não tenha pressa, okay?

Satisfeito com mais uma concordância, dou meia volta a faço meu caminho até o quarto, pegando meu celular e digitando o número de Luca enquanto pego algumas roupas adequadas para a lama que enfrentaremos.

-Santinelle.

-Como estão as coisas?

-Melhor que o esperado, vocês saíram a pouco tempo, mas foi o suficiente. Bianca conseguiu hacker o sistema do celular do Barone e agora temos acesso a tudo, tem umas informações bem interessantes aqui.

-Mesmo?

-Oh, sim! Ettore não terá muito trabalho, o pai dele está fodido. São muitas rebeliões contra sua gestão de merda. Estamos tentando negociar com Lorenzo por uma maneira de trazer Barone para cá e matá-lo nós mesmos.

-Eu quero fazer isso. O figlio di puttana aterrorizou demais minha mulher.

-Não sabia que já estava tão apegado a sua esposa.

-Ela é da família agora, você deveria saber que explodirei o maldito inferno para protegê-la.

-Claro, claro. Esse não é discurso novo para mim. E você pensando que seria um Santinelle diferente, é quase uma piada.

-Me avise se tiver mais informações sobre ele ou alguma atualização importante.

-Não se preocupe, com um pouco de persuasão e muito uísque Lorenzo deixará que criemos alguma justificativa para que você mate seu sogro.

-É com isso que estou contando.


O Mestre - Contos Santinelle 02Where stories live. Discover now