Capítulo 5

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VALENTINA SANTINELLE

-Vamos lá, só mais uma vez. - Pietro incentiva e o olho receosa.

Estamos a horas no avião particular dos Santinelle. Que essa família é poderosa, conhecida e temida todos sabem, mas não imaginei que possuíssem tanta riqueza. Tentando ignorar o excesso de luxo ao meu redor, algo com o qual não estou habituada, volto a olhar para o meu marido. Dio Santo, eu tenho um marido agora.

Assim que embarcamos no avião, Pietro sugeriu um jogo para testar meu controle sobre minha gagueira. Não que esteja dando certo, mas repetir a frase em troca de detalhes sobre sua vida tem sido divertido.

-N-não está fu-fun-funcionando. - Me encolho no banco, frustrada por não conseguir agradá-lo. Pietro está confiando em mim e estou o desapontando.

-Está sim, confie em mim Valente.

-Va-Valente?

-Não é esse o significado do seu nome? Combina muito com você. - Pietro segura minha mão, entrelaçando nossos dedos e olhando no fundo dos meus olhos - São poucos os que teriam conseguido passar por tudo o que você passou, passione mio. Agora vamos, diga a frase outra vez.

-S-sou Va-Valentina San-Santinelle, é um p-prazer co-conhecê-lo.

-Muito bem. - Me elogia como um enorme sorriso - O que gostaria de saber agora?

-N-não f-foi tão b-bem assim.

-Estou dizendo, Valente. É claro que foi. Não confia em mim?

Eu não deveria. Ser meu marido não o torna confiável, papa é a prova viva disso. Pietro, no entanto, sabe do que houve comigo antes - apenas tanto quanto meu irmão sabe - e tem feito de tudo para me deixar confortável em sua presença. Ele não representa perigo para mim ou não teria me punido no lugar de Giovanni, alegando que eu o havia tentado de alguma forma. Vivi papa fazer isso com minha mãe diversas vezes. Pietro tem se mostrado completamente diferente.

-Con-Confio.

-Então faça uma pergunta, você tem a direito a uma curiosidade.

-Qu-qual é seu m-ma-maior dilema, n-na vida?

-Meu maior dilema?

-S-sim, todo m-mundo te-tem um.

-A medicina, eu acho. Pensei que a vida na Famiglia não era para mim e que meu negócio era salvar vidas. - Pietro abre um sorriso de canto, como se estivesse debochando de si mesmo - Eu não poderia estar mais errado. Gosto dos meus deveres na Famiglia e estou muito feliz por estar de volta à ativa.

-V-você é s-sang-sanguinário, então?

-Uma nova pergunta? Para ter a resposta preciso que tente dizer a frase outra vez. - Seu sorriso agora é doce, quase inocente e não me engana nem por um único segundo.

-S-sou Valentina San-Santinelle, é um pra-prazer conhecê-lo. - Falo com ceticismo e só dou-me conta de como falei quando a expressão de Pietro torna-se vitoriosa.

-Eu não falei? Você está indo muito bem.

-Mi-minha pergun-gunta.

-Sou, usar minhas lâminas nas pessoas é extremamente satisfatório. Meu pai queria ter uma menina para enchê-la de adagas, mas minha mãe sofreu um bocado no meu parto e não queria mais filhos, meu pai respeitou a decisão, é claro. Quem sofre para dar a luz é ela, afinal de contas. Curiosamente sempre gostei muito de facas e lâminas, armas de fogo nunca foram meu forte como é de Luca.

-C-Como decidiu qu-que queria us-usar armas br-brancas?

-Essa é uma nova pergunta. - Pietro cantarola e não posso deixar de revirar meus olhos para meu gracejo, sinto um sorriso bobo em meu rosto também.

-S-sou Valentina S-Santinelle, é um p-prazer conhecê-lo.

-Perfeito! - Seu sorriso orgulhoso volta a aparecer e começo a me sentir orgulhosa de mim mesma também - O fato de seu saber atirar, não significa que sou ótimo nisso. Luca passava horas nos galpões da Famiglia praticando tiro e aperfeiçoando sua mira. Eu preferi estar em casa testando e afiando lâminas, as facas são minha habilidade de verdade. Com o passar dos anos fui aperfeiçoando e criando empunhaduras diferentes para que a adaga não escorra pela minha mão enquanto eu estiver ferido alguém.

-Por que?

-Mais uma pergunta.

-D-Dio Santo. - Respiro fundo, organizando a frase em minha mente e me preparando para falá-la pausadamente - S-sou Valentina Santinelle, é um p-prazer conhecê-lo.

-Incrível! - Ele acaricia minha mão, sorrindo daquele jeito que descobri bagunçar meu raciocínio - Quando se começa a esfaquear alguém, o sangue banha a faca, adaga ou seja lá o que se está segurando. O sangue deixa a empunhadura mais escorregadia e facilita para que o atacante se corte também ou que a lâmina escorregue de sua mão.

-E você gosta da sensação de ferir alguém? - Balanço a cabeça quando olho para sua expressão divertida, é claro que ele cobrará a frase novamente - S-sou Valentina Santinelle, é um pra-prazer conhecê-lo.

-Gosto muito. Não que eu vá te ferir algum dia, cortarei meu próprio braço antes disso acontecer, mas ferir nossos inimigos me deixa em êxtase, como uma droga necessária em meu sistema. Pensei que eu estava acima disso, que não havia puxado ao gene assassino da família, mas a verdade é que adoro meu trabalho e me não deveria ter passado tanto tempo longe.

-Longe?

-Fiz faculdade de medicina, exerci a profissão por alguns anos, mas meu pai está se aposentando e assumirei a liderança com Luca. Eu não poderia estar dividido entre os negócios da família, a Famiglia e o hospital. Tive que abandonar o jaleco, parte de mim sente um pouco de falta, mas fugir do juramente médico e voltar as atividades da Famiglia é uma alegria que não posso descrever.

-Senhor e senhora Santinelle, nós pousaremos logo. - A comissária fala da porta de ligação que leva a pequena cozinha da aeronave - Por gentileza, coloquem seus cintos.

-Está bem, obrigado. - Pietro a agradece e a moça some de nossas vistas novamente - Tente mais uma vez, a frase.

Ele se inclina sobre meu assento para afivelar meu cinto, deixando-me admirada por seu pequeno ato de cuidado, antes que ele volte a se estabelecer na própria poltrona e fecha a pequena peça.

-S-sou Valentina Santinelle, é um prazer conhecê-lo.

-Vê? Você consegue, Valente. Confio na sua capacidade e estarei aqui para apoiá-la em tudo que precisar, passione mio.

Apenas assinto com a cabeça, um sorriso tímido em meus lábios quando sinto o avião começar sua decida. Foi inevitável olhar pela janela, tudo o que pude ver foi um longe e extenso pasto verde; não sei a exata localização desse rancho, mas sem dúvida é um refúgio de privacidade para eles.


O Mestre - Contos Santinelle 02Where stories live. Discover now