Capítulo 2

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VALENTINA BARONE

-Eu aceito. - O homem diante de mim declara com um pequeno sorriso no rosto, suas polegares esfregando pequenos círculos em minhas mãos. Ele está me acariciando? Por quê?

Não posso deixar de me impressionar com o homem que agora posso chamar de marido. Quando papa disse-me que havia encontrado um esposo para mim chorei por horas, sabia que ele procurou por um homem tão violento quanto ele. Não duvido que passarei meus dias chorando, sangrando e implorando para que pare com seus golpes. Não quero acabar como minha mãe, mas temo por mim mesma.

Só não consigo imaginar alguém como ele poderia ser violento. Ele é tão bonito. Os olhos azuis, de um tom que nunca vi antes, uma mistura de oceano profundo e céu limpo de primavera, mas meu pai também parece ser um bom homem e não hesita em bater nas pessoas.

-E você, Valentina Gianna Barone, aceita Pietro Arturo Santinelle como seu marido, honrando os votos que fizeste para com ele, diante de Deus e dos homens?

Tomo uma respiração profunda, repassando a palavra algumas vezes em meus pensamentos como pratiquei inúmeras vezes no espelho. A última coisa que preciso é de meu marido me espancando em nossa noite de núpcias por eu ter gaguejado em público, como meu pai sempre faz. Talvez ele permita que meu pai me puna. Dio, não poderei suportar.

-Ac-acei-aceito. - Fecho os olhos com vergonha, mais uma vez eu falhei. Ele deve estar tão bravo comigo agora, quando a cerimônia acabar ele me levará para um canto e fará sua correção. Só esse pensamento faz-me encolher.

-Pela autoridade concedida a mim em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo eu vos declaro marido e mulher. - O padre encerra seu discurso - Pode beijar a noiva.

Espero ele se inclinar e terminar com o espetáculo público de uma vez, mostrando a todos que me reivindica como sua possa agora, mas Pietro me surpreende segurando meu rosto entre suas mãos e se aproximando de mim, tocando nossos narizes praticamente. Ele não pode rejeitar o beijo, pode? Seria considerada uma humilhação pública. Eu sei que a cicatriz tende a afastar as pessoas e minha gagueira incomoda a todos, mas ele não seria tão cruel assim, seria?

-Você não precisa ter medo de mim, Valentina. Eu não sou como o seu pai. - Sua voz é baixa, sussurrando para que apenas eu escute o que ele diz - Juro por meu sangue, minha família, que é a coisa mais preciosa que tenho, que sua vida será diferente agora. Cortarei meu braço antes de levantar a mão para você. Aceita isso?

Não querendo falar e gaguejar para atrapalhar o momento, apenas manejo a cabeça em concordância. Eu não deveria confiar nele, vivi de perto como promessas podem ser vazias e infundadas, mas algo nele, na maneira como ele jurou olhando no fundo dos meus olhos me deu esperança.

Pietro então se aproxima, seus lábios macios tocam os meus com cuidado, quase exploratório. Ele começa a movimentá-los enquanto seus polegares massageiam minha mandíbula, incentivando-me a imitá-lo. Escuto os aplausos da multidão de convidados, mas me mantenho focada em seu beijo, não querendo estragar tudo e desapontá-lo.

Ele interrompe nosso beijo com um grande sorriso no rosto e as mãos firmes em minha cintura. Eu poderia desfalecer agora mesmo com um homem tão bonito. Eu não sei explicar, mas há esse sorriso malicioso e o brilho divertido em seus olhos que está me deixando fascinada e tudo o que eu disse até agora foi "aceito". Talvez seja uma consequência foi passar a vida trancada em casa e meu único contato com homens se resumir a meu pai e meu irmão.

Ettore é diferente do meu pai, ele não briga comigo ou me xinga, ele não me bate também. Disse que isso é errado e que se alguma coisa acontecesse enquanto eu estiver casada é para ligar para ele, que não importa quem seja meu marido, ele não me deixaria em qualquer situação perigosa. Mas se papa arranjou esse casamento, não acho que meu irmão possa fazer alguma coisa. Ele é a única pessoa no mundo com quem consigo conversar sem gaguejar tanto.

Pietro entrelaça nossos dedos e nos viramos para os convidados, todos nos aplaudem de pé e dou-lhes um pequeno sorriso. Não sei se gosto de toda essa atenção, porém ver a maneira que todos olham para Pietro com admiração me deixa curiosa sobre estar aqui. Caminhamos pelo corredor de pétalas acenando para a multidão até que meus olhos pousam em Giovanni e congelo no lugar.

Giovanni é o braço direito do meu pai, nas raras vezes que nos encontramos ele não vou gentil ou educado. Sempre se fazendo insinuações que me deixavam desconfortável mesmo sem entendê-las ao certo, seu sorriso parecia ameaçador e ele estava sempre invadindo meu espaço pessoal todas as vezes que ficávamos sozinhos no mesmo cômodo. Eu não sabia que ele estaria aqui, dois líderes não devem viajar juntos, devem? Papa não podia faltar, é o pai da noiva, mas o seu segundo? Ele não é necessário aqui e o olhar duro que ele está me lançando faz um calafrio percorrer minha espinha.

-Valentina, o que houve? - Pietro para ao meu lado, seus olhos procurando os meus e ele parece preocupado - Está tudo bem?

Aceno com a cabeça, me obrigando a ignorar a presença de Giovanni. Não estamos no Canadá, ele não pode criar uma cena em outro território e dizem que os Santinelle podem ser cruéis quando querem. Posso ser inexperiente sobre a vida, mas não inocente. Preciso me controlar, ele não é uma ameaça aqui, nada vai acontecer. Relaxe, Valentina.

-Eu gostaria de ouvir sua voz nas respostas de agora em diante, tudo bem? - Pietro volta a falar e olho para ele. Seu pedido é no mínimo estranho. Como ele quer que eu fale? As pessoas preferem que eu fique calada o máximo possível e fale quando é estritamente necessário - Valentina?

-T-tu-tudo bem, si-sim.

-Eu não vou deixar nada acontecer a você. - Pietro circula seu braço em minha cintura, trazendo-me para perto de seu corpo e servindo como apoio quando voltamos a caminhar - Eu prometo.

-Obrigada.

-Você é minha esposa agora, é uma Santinelle. Ninguém a perturbará outra vez.


O Mestre - Contos Santinelle 02Where stories live. Discover now