Capítulo 31: Foi isso que eu fiz?

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Hannah Carson

Bia não voltou a cair até que estivéssemos no final da colina, onde ela caiu de bunda na neve assim que paramos. Ajudei ela a se levantar, antes de Zack já estar em cima de nos duas, querendo saber se ela estava bem. As vezes eu sentia um pouquinho de inveja de como ele cuidava tão bem dela, porque queria ter alguém que cuidasse de mim da mesma forma.

Luca se manteve afastado o tempo todo, como se eu tivesse o assustado de alguma forma. Aquilo não me deixou hesitante, porque eu estava me divertindo muito ao ver o rosto dele ficar vermelho sempre que eu o olhava e o pegava me observando com uma expressão meio perdida. Era muito fofo. Isso me lembrava do porquê eu tinha me interessado por ele.

—Ah, eu daria tudo por um chocolate quente agora. —Bia afirmou, tirando o óculos de proteção e depois o capacete. O nariz super vermelho, assim como as bochechas. —A gente podia comer alguma coisa antes de voltar pra casa.

—Eu acho uma ótima ideia. —Zack falou, enquanto Luca se aproximava de nos e ficava ao lado dele, evitando olhar pra mim. —E lembrem-se de tomar cuidado quando voltarmos pra casa. Passamos uma boa quantidade de horas fora, o que significa que alguém pode ter passado lá enquanto estávamos fora.

—Adoro o espírito natalino dessa família. —Bia soltou, fazendo Zack sorrir e pegar a mão dela, antes dos dois seguirem até o restaurante e café que havia mais pra frente, depois que a colina terminava.

—Você sabe esquiar muito bem. —Falei, me aproximado de Luca quando nos dois ficamos para trás. Ele começou a andar do meu lado, apertando o óculos entre os dedos, visivelmente nervoso. —Acho que eu não estou muito surpresa com isso. Deve ser um pré requisito esquiar super bem pra ser jogador de hóquei.

—É um pré requisito pra ser patinadora também? —Indagou, e eu soltei uma risada baixa com o elogio que estava escondido naquela frase. —De onde saiu esse seu gosto por patinação? Ninguém mais da sua família está ligado a isso.

—Pois é, acho que meus pais esperavam que eu seguisse o mesmo que a Hazel. Mas Hazel se apaixonou por atuação desde o primeiro momento que viu um filme na tv e soube que era isso que queria fazer quando nossa mãe nos levou em um teatro pela primeira vez. —Abri um sorriso, lembrando de como Hazel ficou eufórica da primeira vez. —Só que não era pra mim, sabe? Eu não queria atuar, eu queria ser eu mesma quando fizesse alguma coisa.

—E você consegue isso sendo patinadora. —Luca afirmou, e eu concordei com a cabeça, sentindo minhas bochechas doerem quando pensei na primeira vez que pisei numa pista de gelo.

—Nosso pai ensinou a gente a patinar bem cedo. Eu me apaixonei na mesma hora, mas nunca pensei que poderia seguir com isso, até conhecer uma patinadora de verdade. —Olhei para Luca, vendo que ele prestava bastante atenção em mim. —Já ouviu falar da Grace Bailey, certo? Ela é uma das maiores patinadoras do país, com o parceiro dela. Eu a conheci aqui em Aspen. Ela mora com o marido aqui. E ela é simplesmente incrível. Já assisti todas as apresentações dela.

—Mas você não patina em dupla, não é? —Luca questionou, mas pela forma que falou já tinha me visto se apresentando e sabia como era.

—Não. —Soltei uma risadinha baixa e um pouco envergonhada. —Digamos que eu tenha algumas opniões meio fortes e isso faz com que a maioria dos parceiros não queiram continuar comigo. Em outras palavras, eu sou insuportável, então é melhor patinar sozinha mesmo.

—Você não tem nada de insuportável, Hannah. —Luca rebateu, e eu acabei rindo do tom ofendido dele, como se ele se incomodasse mais com aquilo do que eu.

—Ah, eu tenho sim. Pode apostar. —Afirmei, balançando a cabeça negativamente quando Luca torceu os lábios em resignação. —Eu sou super perfeccionista quando o assunto é patinação. Difícil encontrar alguém que não canse de mim em algum momento e que concorde com meu jeito de pensar. Achei que patinando sozinha eu tinha muito mais chances do que se ficasse pulando de um parceiro pra outro.

—Você é incrível patinando. Sério, já assisti quase todas as suas apresentações. Você brilha quando está no gelo, Hannah. —Luca falou, e havia tanta sinceridade e calor naquelas palavras que senti meu rosto esquentar um pouco. Já tinha recebido milhares de elogios de várias pessoas diferentes, mas não era a mesma coisa que receber um elogio de Luca, quando passei tanto tempo querendo que ele olhasse pra mim.

—Também já vi vários jogos seus. Você é o melhor pra mim do time. —Abri um sorriso quando foi a vez de Luca ficar envergonhado, como se não estivesse esperando receber esse elogio. —Pra ser sincera, eu prefiro beisebol e basquete a hóquei, porque estava acostumada a assistir meu irmão e Adam jogando. Mas passei a ver todos os jogos de hóquei depois que vi você jogando pela primeira vez.

—Hannah... —Luca parou de andar, focando meu braço como se quisesse muito me dizer alguma coisa. Mas ele não foi em frente, porque desviou os olhos de mim quando percebeu que tínhamos chegado na entrada do café, que estava um pouco movimentada.

—Ei, vocês vão querer alguma coisa? —Zack questionou, e Bia apareceu atrás dele com um copo de chocolate quente, parecendo quase feliz demais com ele.

—Não, obrigada. —Falei, e Luca apenas negou com a cabeça, comprimindo os lábios enquanto olhava ao redor com uma expressão pensativa.

Nos quatro seguimos até o teleférico. Bia parecia animada enquanto conversava com Zack. Na verdade, os dois estavam sussurrando um com o outro, enquanto eu e Luca estávamos andando em silêncio um ao lado do outro, em um clima meio estranho. Fiquei curiosa pra saber o que ele pretendia me dizer, ainda mais que ele parecia frustrado por não ter conseguido falar.

Os dois foram primeiro depois que a fila chegou na nossa vez. Luca me olhou de relance quando ficamos sozinhos, e eu fiquei me perguntando se ele estava nervoso por precisar subir no teleférico só comigo. Ele estava fazendo um ótimo trabalho em fingir que eu não tinha roubado um selinho dele, mas ele também era péssimo tentando disfarçar que não tinha ficado balançado.

—Zack disse que ele e a Bia tem uma história nesse lugar. —Luca falou, assim que nós dois deixamos os equipamentos para trás e entramos no teleférico. Olhei pra ele enquanto ajeitava o gorro na minha cabeça, abrindo um sorriso de leve.

—É, o primeiro beijo deles foi aqui, subindo no teleférico. Sempre que vamos esquiar os dois preferem subir sozinhos pra ter um momento só deles. —Expliquei, e Luca me observou com uma expressão seria, me vendo dar de ombros. —Eu acho super fofo.

Ele não disse nada e eu comecei a ficar sem graça pela forma que ele me olhava sem parar. Meu rosto esquentando consideravelmente enquanto eu caminhava até a janela enorme e observava o horizonte. As montanhas pintadas de neve e o céu branquinho de onde alguns flocos caiam.

Minha pulsação disparou quando Luca parou ao meu lado e eu percebi que ele não olhava pra vista, mas sim pra mim. Me virei pra encara-lo, erguendo o queixo e abrindo um sorrisinho que o fez engolir em seco. Ele estava visivelmente envergonhado, mas havia uma coragem brilhando naqueles olhos bonitos.

—Por que está me olhando assim? —Questionei, e minha voz saiu super baixa, porque por algum motivo eu estava começando a ficar ansiosa com o jeito dele. Uma ansiedade que deixava minha barriga gelada.

—Por que você... —Luca engoliu em seco, erguendo a mão para esfregar o rosto em um ato de nervosismo. —Por que você fez aquilo quando estávamos caídos? Eu acho que sei porque, mas quero ouvir você falar.

Puta merda, eu não estava esperando ouvi-lo falar sobre aquilo, daquele jeito. Meu corpo inteiro ficou tão quente que eu soltei uma respiração pesada, sentindo minha pele se arrepiar quando Luca umedeceu os lábios com a língua, piscando lentamente enquanto esperava por uma resposta minha.

—Pode me falar, Hannah? —Indagou, com um tom de voz suave que fez uma sensação elétrica atravessar minha pele, se concentrando no meu peito.

—Pode ser mais específico? —Questionei, me inclinando para perto de Luca, vendo que isso o fez oscilar um pouco, com a respiração se acelerando. —O que eu fiz quando estávamos caídos?

—Você sabe. —Sussurrou, e eu mordi o lábio inferior, ficando sem fôlego quando Luca encarou minha boca com os olhos um pouco pesados. Fiquei na ponta dos pés, com o ar preso na minha garganta quando roubei outro selinho dele.

—Foi isso que eu fiz? —Indaguei, e Luca se inclinou para perto de mim quando me afastei, como se eu fosse um ímã o puxando para perto. Aproveitei que ele fez aquilo para roubar outro selinho dele e dessa vez fiz questão de morder o lábio dele quando me afastei. —Era disso que você estava falando?


Continua...

A última jogada do coração/ Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora