Capítulo 20: Não gosto de palhaços.

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Hannah Carson

Fiquei atrás de Luca e quando tentei me aproximar pra ver o que ele estava falando, ele me puxou para trás dele, se virando para me encarar com muita cautela. Já tinha visto o fio ligado a minha porta dentro do quarto, imaginando que meus irmãos tinham aprontado alguma coisa. Pela cara de Luca, não era uma coisa boa.

—O que foi? —Questionei, dando um passo para trás quando Luca tocou meus ombros e me fez encostar na parede do outro lado.

—Aranhas. —Falou, e eu senti meu sangue gelar dos pés a cabeça. Nem precisava ver elas pra sentir um buraco se abrindo no meio do meu estômago. —De mentira, Hannah. Mas são várias. Por que não fica aqui enquanto eu dou um jeito nelas? Pode mandar mensagem pra todo mundo avisando que acabamos de fazer mais um ponto, o que acha?

—Fizemos mais um ponto? —Repeti, franzindo a testa enquanto olhava para Luca sem piscar. Sabia do que ele estava falando, mas meu cérebro parecia estar travado.

—A gente encontrou as aranhas antes de elas te assustarem, né? —Luca ergueu as sobrancelhas e eu concordei com a cabeça, porque ele tinha razão. Tínhamos mesmo marcado um ponto. Nem precisava pensar muito pra saber que tinha tido a ideia de usar as aranhas. Meu Deus, eu ia matar o Peter quando o encontrasse.

Observei Luca dar um passo para trás, hesitando antes de me deixar ali, como se tivesse preocupado comigo. Provavelmente eu estava mais branca que papel, mas odiava mesmo aranhas e só de pensar nelas eu já não conseguia respirar direito. Mesmo que fossem de mentira, já era o suficiente pra mim.

Luca entrou no meu quarto e eu me virei e entrei no dele, caminhando até a cama para me sentar. Senti que minhas mãos estavam tremendo um pouco e apertei elas fechadas com força, porque não tinha motivos pra eu estar assim. Estava indo tudo muito bem antes. E Luca tinha me segurado, parecendo querer conversar comigo.

Talvez ele quisesse saber porque eu ainda não tinha o respondido ou tenha decidido que era a hora de conversarmos pessoalmente. Acho que não vou saber o que era agora, já que o momento simplesmente acabou. Fechei meus olhos com força, odiando a sensação amarga no meu estômago.

Puxei meu celular, enviando uma mensagem no grupo avisando que tínhamos encontrado as aranhas antes que elas assustassem alguém. Não demorou muito para Peter enviar uma mensagem reivindicando o trabalho com elas. Ele não parecia nem um pouco feliz por termos feito um ponto, mas eu torcia para que ninguém mais tivesse a ideia de usar aranhas.

—Hannah? —Ergui a cabeça quando Luca entrou no quarto depois de alguns minutos, olhando pra mim como se quisesse checar se estava tudo bem. —Eu as coloquei lá embaixo dentro de uma sacola. Não sei se vocês costumam jogar essas coisas fora ou guardam.

—Ah, Zack provavelmente vai querer guardar. Talvez pra usar no futuro. —Dei de ombros, me levantando da cama dele quando senti que podia estar invadindo seu espaço.

—Você está bem? —Questionou, e eu concordei com a cabeça, abrindo um sorriso meio sem fôlego, porque Luca ainda estava me encarando e parecia nem mesmo estar piscando. Já tinha notado que ele havia começado a perder a vergonha, porque me olhava e não desviava os olhos quando eu o pegava fazendo isso.

—Tô sim. Só odeio mesmo aranhas. Só a ideia já me deixa... —Balancei a cabeça negativamente, porque queria esquecer disso. Luca ainda estava me olhando, mas entrou no quarto e deixou uma sacola de papel em cima da mala dele, que estava encostada na parede ao lado da janela.

—Tudo bem ter medo de alguma coisa. Todo mundo tem. —Afirmou, e eu olhei pra ele curiosa, parando perto da porta.

—E do que você tem medo? —Questionei, e Luca hesitou, dessa vez desviando os olhos de mim como se eu tivesse tocado num assunto delicado. —Prometo que não conto para os nossos adversários.

—Não gosto de palhaços. —Falou, e a voz veio quase baixa demais, porque eu juntei as sobrancelhas tentando ter certeza de que tinha ouvido certo. —Não palhaços de filme de terror, mas esses palhaços normais que são só pessoas tentando fazer os outros rirem.

—Ok, isso foi bem específico. Posso perguntar porque não gosta deles? —Indaguei, e Luca se escorou no armário do quarto, passando a mão no rosto enquanto olhava pela janela.

Comprimi meus lábios quando ele ficou em silêncio, percebendo que talvez tivesse feito a coisa errada. Luca não dividia as coisas comigo assim. Talvez ele falasse pelas cartas, o que eu tinha me acostumado a receber e descobrir um pouco mais sobre ele. As vezes tinha a sensação que estava gostando de duas pessoas diferentes, mas as duas eram ele.

—Obrigado por cuidar das aranhas. Eu ia morrer se acabasse dando de cara com elas. —Afirmei, saindo do quarto e entrando no meu. Senti que Luca tinha se virado pra me encarar, mas fechei a porta atrás de mim e fui direto escrever uma carta pra ele, porque era a única forma de consertar as coisas, se eu tivesse feito alguma coisa errada mesmo.

Depois que terminei de escrevê-la, colocando algumas coisas que eu estava segurando pra fora, esperei a noite cair e os outros voltarem. Quando o jantar passou e todos já estavam deitados, passei a carta por baixo da porta dele, como estávamos fazendo desde a primeira vez. Tinha a sensação de que Luca só iria me responder amanhã, porque ele tinha passado o jantar todo sem olhar pra mim.

—Petúnia, eu te dei a chance de sair. Agora você vai ser obrigada a dormir comigo. —Afirmei, porque a gata estava me encarando do chão, como se me julgasse muito. Me deitei na cama, sentindo minha cabeça super cheia. —Vem deitar, gatinha.

Olhei para Petúnia quando ela foi pra porta, soltando um suspiro pesado quando pensei que ia ter que me levantar pra abrir a porta pra ela. Gatinha mimada. Assim que me sentei, o papel passou por baixo da minha porta e Petúnia correu tentando pega-lo, dando tapas na folha.

Fiquei parada uns minutos, sentindo minha pulsação ir nas alturas, porque havia uma única frase nele, que eu conseguia ver ainda da cama, mesmo que não conseguisse ler. Me levantei e me sentei no chão, passando a mão em Petúnia quando ela se esfregou nas minhas mãos quando acabei com o motivo do seu divertimento.

"Ainda acordada?"

Passei a língua nos lábios, sem saber se me sentia muito feliz ou se deixava a ansiedade falar mais alto. Soube que Luca estava esperando por uma resposta quando uma caneta passou rolando por baixo da porta. Abri um sorriso, porque nunca ia me acostumar com isso, mas gostava muito.


Continua...

A última jogada do coração/ Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora