Capítulo 35: Qual o seu irmão favorito?

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Hannah Carson

Me inclinei e deixei um beijo na bochecha de Luca, antes de escorar minha cabeça no ombro dele e voltar a ver todos os desenhos que ele já tinha feito ali. O caderno nas minhas mãos tinha desenhos de todos os meus irmãos, além dos irmãos dele e das crianças. O outro, que já estava todo completo, tinha desenhos que variavam de pessoas aleatórias e outras que eu reconhecia da universidade.

—Você gosta mesmo de desenhar. —Sussurrei, parando quando cheguei em um desenho que podia jurar que era eu, se não fosse pela roupa em estilo de época e o cara desenhado ao lado, que eu reconheci ser Wyatt na mesma hora. Ele tinha desenhado Hazel e Wyatt, vestidos pra peça que os dois tinham feitos juntos.

Não me surpreendi ao encontrar um desenho de Elisa e Caleb em outra página, assim como um de Taylor e Adam. Cada desenho parecendo mais realista que o outro, porque os traços dele eram absurdamente perfeitos. Luca era um artista. Ele conseguia encontrar o olhar perfeito, assim como a expressão que mais combinasse com o momento. Ele sabia capturar a essência das pessoas com um lápis e um papel.

—As pessoas costumam dizer que fotos guardam uma lembrança. Eu acho que desenhos guardam histórias. Cada uma contando alguma coisa diferente. —Luca afirmou, e eu parei quando cheguei em outro desenho meu, sentindo Luca ficar um pouco tenso ao meu lado.

Era um desenho de nos dois, na verdade. Meu rosto super próximo do dele, parecendo duas estrelas iluminadas. Já a expressão de Luca era susto misturado com ansiedade e constrangimento. Um desenho do dia da festa, quando me sentei em seu colo e ficamos perto demais um do outro pela primeira vez.

—E que história esse desenho está contando? —Questionei, virando o rosto para ver a reação de Luca. Ele engoliu muito lentamente. As bochechas ganhando aquele tom vermelho adorável que eu já estava acostumada a ver.

—Hannah... —Luca olhou pra mim, soltando meu nome tão baixo que quase não ouvi. Senti que ele queria dizer alguma coisa, mas simplesmente não tinha coragem pra isso. Abri um sorriso, fechando o caderno de desenhos e o deixando de lado, antes de me virar um pouco e inclinar meu rosto para perto do de Luca.

—Verdade ou desafio? —Indaguei, e Luca hesitou por um momento, percebendo o que eu estava fazendo. Meu coração martelou dentro do peito quando ele apertou minha mão que estava grudada na dele, umedecendo os lábios com a língua.

—Verdade. —Luca soltou, e eu senti que ele parecia muito hesitante com o que eu poderia perguntar ou não. Mas eu não iria deixa-lo ansioso, eu só queria que ele ficasse a vontade comigo.

—Qual o seu irmão favorito? —Questionei, e Luca torceu os lábios de leve, parecendo esconder um sorriso de surpresa. —Vamos, eu sei que tem um. Família com muitos irmãos é impossível não ter um favorito.

—Bom, eu e a Taylor somos muito mais próximos, no sentido de ser com ela com quem eu mais converso sobre as coisas que acontecem comigo. Mas se eu fosse escolher um deles pra ser meu favorito, a Jasmine, sem nem precisar pensar muito. —Luca afirmou, e eu assenti com a cabeça, sem evitar o sorriso, porque já podia imaginar porque ele tinha a escolhido. —Posso perguntar quem é o seu ou isso vai contar pro jogo?

—Não vai contar. —Soltei uma risada, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha. —Eu e Caleb as vezes quase nos matamos, porque eu o irrito demais e ele é superprotetor ao extremo, mas ele ainda é meu irmão favorito, porque ele me entende quando é preciso e sempre fica do meu lado, mesmo quando eu sou insuportável.

—Não gosto que você fique falando isso de si mesma. —Luca retrucou, torcendo os lábios em um claro incomodo. —Eu te acho incrível. De verdade, você conquista todo mundo por onde passa na universidade. Faz as pessoas sorrirem o tempo todo. Tem um talento incrível na patinação, além de ser mais corajosa do que posso imaginar.

—Obrigada, isso é fofo. —Eu acabei rindo, e Luca deu de ombros como se não fosse nada demais. Mas eu precisava me acostumar com ele me elogiando assim. —Ok, eu escolho verdade, mesmo que você não tenha perguntado.

Luca me encarou por um momento, antes de desviar os olhos e encarar os desenhos que ele tinha me dado que eu havia grudado na parede. A mente dele pareceu ir pra longe daquele quarto e eu me perguntei o que ele tanto pensava quando ficava assim. Apertei a mão dele de leve, vendo-o engolir em seco.

—Falando sobre o fato de você ser corajosa, você já se sentiu insegura com alguma coisa, alguma vez? —Questionou, e eu voltei a escorar minha cabeça no ombro dele, pensando no quão caótica minha vida era, em uma família grande como os Carson.

—Claro, muitas vezes. Fico insegura antes e durante as apresentações, porque me sinto obrigada a ser perfeita. Não porque alguém me pressiona a ser assim, mas porque eu mesma quero ser a melhor versão de mim mesma o tempo todo. —Afirmei, erguendo a mão para esfregar a bochecha, sentindo Luca escorar o queixo no topo da minha cabeça. —Depois que acaba, quando eu estou sozinha no vestiário, tenho mania de ficar repassando tudo na minha cabeça e achando coisas pra reprovar no que eu fiz ou deixei de fazer.

—Isso não me parece ser muito agradável. —Luca se remexeu, e eu me afastei para ver a expressão confusa no rosto dele. —Você não deveria fazer isso com si mesma. Pressão demais nunca faz bem.

—É, eu sei. Acredite, sou um saco em épocas de apresentações, porque não consigo controlar isso. —Torci os lábios de leve, porque pensar naquilo me lembrava da parte ruim de gostar tanto de patinação. —Minha treinadora costuma dizer que eu tenho mania de tentar me auto sabotar e que isso era péssimo pro meu futuro se eu não conseguisse controlar.

—Acho que gosto da sua treinadora. —Luca falou, e soou tão genuíno que eu acabei rindo, me inclinando para roubar um beijo dele. —Ei, eu estou falando sério. Meu treinador é chato pra caramba. Ele tem umas regras toscas que quer que a gente siga, como se nossa vida fosse apenas hóquei e mais nada além de hóquei.

—Deprimente. —Sussurrei, e fiquei surpresa quando Luca abriu um sorriso pequeno, antes de desviar os olhos e parecer sem graça. —Verdade ou desafio?

—Verdade. —Luca respondeu na mesma hora, e eu sentia que ele já estava bem mais tranquilo depois daquela conversa descontraída.

—Você se sente intimidado por mim, Luca? —Questionei, e dessa vez ergui a mão e toquei o queixo dele, fazendo-o olhar pra mim.

A expressão se tornando um pouco tímida, como sempre, mas havia uma coisa carinhosa no rosto dele quando confirmou com a cabeça, um pouco antes de se inclinar e encostar os lábios de leve nos meus. E, meu Deus, eu esperava que as coisas entre nós fossem reciprocas, ou Luca ia partir meu coração e eu sabia que ia doer pra valer.


Continua...

A última jogada do coração/ Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora