Não gostava nenhum pouco de estar na posição de coitadinha, de vulnerável, de olha lá a boba que caiu no conto de fadas do bandido.Muito se fala sobre sair de uma relação que não te pertence mais, que não te cabe mais, que não te conforta mais. Porém ninguém fala sobre como é difícil sair, de como é difícil dizer adeus a alguém que você não quer de jeito nenhum se despedir. Mesmo que seja a coisa certa.
Ela se permitiu uns dias para se recuperar de toda essa sensação horrorosa que crescia dentro do seu peito, se manteve trancada no quarto que infelizmente dividiam.
Giovanna praticamente não se alimentou nesses dias, as únicas vezes que comia era quando Ana brigava com ela ou Alexandre trazia algo na cama. Ela não entendia nada quando ele agia como um príncipe, mas logo depois que percebia isso mudava completamente com ela.
O sábado chegou e com ele o último dia do ano.
Um ano cheio de reviravoltas, mudanças, sentimentos.
Um ano que ela jamais esqueceria porque tinha estado com ele. Apesar de toda mágoa e humilhação não tinha mais aquele sentimento ruim por ele, não conseguia ter ódio como tinha antigamente pela culpa dele na morte de Leonardo.
Alexandre passou pela pior semana, perdendo apenas para a que ele descobriu a verdade sobre Giovanna. Sua mente insistia em lembrar do olhar que ela lhe deu antes de subir as escadas, a frase ecoava alto.
"por ter matado todo amor que
eu sentia por você."Se esforçava a levantar todos os dias e ignorar o rosto dela inchado e o corpo encolhido o mais longe possível dele na cama. Queria que ela sentisse a dor que ele tava sentindo, queria que ela sofresse do mesmo jeito que as informações que recebeu o fizeram sofrer.
Lembrou da fatídica noite em que Guilherme Valente contou tudo sobre a mega operação da polícia em total apoio com a secretaria de segurança. GV estava há anos infiltrado na polícia, teve todo o treinamento bancado e instruído por Alexandre para que pudesse estar no meio da polícia para descobrir tudo com antecedência.
Desde o dia que ela subiu o morro pela primeira vez a missão ja era um fracasso. Alexandre só foi informado quando Guilherme percebeu que ela estava balançada entre os dois lados e não passava mais informações pra polícia. Giovanna simplesmente deu chá de sumiço em todo mundo, se aliando ao bandido que ela jurou matar.
Mas as coisas deveriam ser muito bem feitas, não tinha como as informações serem passadas tão rápido porque geraria desconfiança e era uma operação sigilosa.
Guilherme sabia disso muito bem.
Alexandre passou a noite toda dentro do escritório com a garrafa de bebida nas mãos. Primeiro ele riu e recusou acreditar naquela situação, pensava no quanto conhecia a mulher que estava esperando pra dormir com ele, mas as provas chegaram em seu celular.
Fotos dela morena saindo da delegacia. Armada em uma operação fora do país, e até dirigindo uma viatura.
Sua primeira reação foi o ódio, arremessou a garrafa na parede sentindo a ira subir pelo seu corpo. Depois que a adrenalina foi diminuindo, ele sentiu a dor da traição da única mulher que fez com que ele pensasse deixar toda a vida do crime pra trás.
Se descontrolou quando as lágrimas desceram pelo seu rosto e passou a rir de si mesmo, de quão otario foi ao se iludir feito uma garotinha idiota. O seu sentimento foi o único verdadeiro, nada que saiu da boca dela foi verdade e isso o corroía por dentro.
Ela jamais ficaria com um homem como ele se tivessem se esbarrado em outro lugar. Se sentiu ofendido, a única coisa que queria era fazê-la sofrer tudo de volta.
Chegou de manhã e a viu dormindo na sala. O rosto todo amassado pelas almofadas que ela mesma escolheu para decorar o ambiente, os fios dourados caiam em cascatas pelo estofado. Se aproximou em passos lentos e sacou a arma da cintura, sentiu o coração palpitar e doer quase como se a dor fosse física. Mirou na cabeça dela e sentiu dor ao fazer isso, abaixou a arma fechando os olhos com a visão embaçada pelas lágrimas.
— Maldita. Maldita hora que eu permiti você entrar no meu morro, na minha vida, na porra do meu coração.
Jamais conseguiria machucá-la fisicamente, não tinha coragem. Amava muito ela, estava apaixonado demais para deixar a raiva falar mais alto mesmo sendo traído da forma que foi.
A partir dali começou a mudar com ela, faria com que ela sentisse a dor de uma mulher rebaixada a nada na vida de um homem que antes lhe dava tudo.
Porque foi o que ele fez. Deu tudo.
Quase desistiu de tudo quando viu a decepção no rosto dela na noite de natal, mas se manteve firme.
Faltava pouco para a virada do ano, sendo mais exato uma hora para abandonar o ano que descobriu o que era o amor e ao mesmo tempo a dor. Parecia que andavam juntos.
A festa no alto do casarão do morro rolava solta, música alta, comida e bebida da melhor qualidade. Pessoas com drinks nas mãos, conversando alto e agradecendo a ele o patrocínio daquilo tudo. Alexandre usava uma camisa de linho branca com três botões abertos, calça e sapatos da mesma cor seguindo a tradição de réveillon.
— Nero, aquele parceiro seu do morro do sapo chegou.
Ele não prestava atenção em mais nada, seus olhos só procuravam por ela, mas nada de ver a loira ali.
— Recebe ele bem, oferece tudo que ele quiser. Bebida, maconha, mulher.. Tudo. Eu tenho que sair. – ele deu batidinhas no braço de Wagner saindo dali.
Pegou a moto para conseguir subir as ladeiras mais rápido e passou pelo portão da mansão. A casa estava silenciosa e por um segundo sentiu a respiração faltar ao imaginar não encontra-la ali, nem suas coisas.
Subiu as escadas tentando se acalmar, entrou no quarto deles dois e enxergou a silhueta dela na sacada da parte externa. Giovanna usava um vestido branco com as suas costas de fora, seu cheiro sobressaía no ambiente e mais uma vez ele fraquejou.
— Saiu da festa que eu nem vi. Falta bem pouco pra meia noite, Ga. – ele se aproximou devagar.
Ela se arrepiou escutando o seu apelido saindo da boca dele depois de dias só falando o nome dela. Controlou a vontade de chorar e fingiu que nada poderia abalar suas emoções, colocando em si mesma a armadura de forte.
— E você saiu de lá pra que? Eu to bem aqui.
— Eu não quero passar sem você.
Giovanna riu magoada.
— Quando é que você vai parar de enrolação e descarregar a sua pistola no meio do meu peito?
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