— Ele abriu o bico? – Guilherme perguntou após soltar a fumaça do cigarro.Estava do lado de fora do galpão que ficava cercado por um matagal abandonado. Os outros dois policiais ali já estavam cansados daquilo tudo também e só queriam ir pra casa descansar.
— Claro que não, o cara é duro na queda. Parece que nem sente dor mano. Por muito pouco outros já teriam falado tudo. – um deles confessou.
— Nem tem o que falar, quem comandava a porra toda lá no morro era ele. Nem sei pra que esse show todo.
— Eles querem saber sobre os elos que ele tinha com os políticos e até mesmo policiais aqui do rio. O cara tinha conchavo com muita gente, nem sei como ainda tá aqui.
Guilherme olhou as horas em seu relógio e constatou que faltava muito pouco para o espetáculo começar, o seu único receio era ter que contar ao chefe sobre o que tinha acontecido com Giovanna.
Minutos depois eles perceberam uma movimentação de um carro preto blindado e uma van cinza. O único que já sabia sobre o que se tratava ignorou o alvoroço, pegou as chaves do galpão para abrir a porta.
— Mais que caralho é esse. – se entreolharam, mas não havia muito o que ser feito.
Antes que pudessem raciocinar eles foram rendidos e jogados dentro da van. Guilherme empurrou a porta de ferro com os pés fazendo um barulho alto ecoar dentro do lugar escuro e úmido.
— O resgate chegou patrão.
O chefe da equipe que estava liderando toda a tortura foi golpeado na nuca com força e caiu no chão desmaiado.
Otaviano e Wagner se aproximaram dele que tinha seu rosto machucado e coberto de sangue.
— Que se foda vamo matar esses filhos da puta tudin que fizeram isso com você. – Moura expressou todo o seu ódio.
— Eu quero saber da Giovanna. – foi a primeira coisa que ele disse.
Levantou da cadeira logo que Otaviano desamarrou suas mãos das cordas e alcançou a arma que Guilherme já lhe oferecia. Limpou o sangue da boca e se virou querendo e exigindo saber sobre ela.
— Eu fiz como você mandou, levei ela pro aeroporto com todo o protocolo de que ela seria ouvida no exterior por ser uma agente especial do governo dos estados unidos.
Alexandre escutava tudo com atenção.
— Ela não queria aceitar, relutou comigo de todas as formas e ainda me deu uma joelhada. – Alexandre abriu um sorriso de lado. (— essa é a minha garota, pensou.
— Mas quando eu disse que fazia parte do plano pra te tirar da cadeia, ela aceitou. Só que tivemos um pequeno probleminha com a federal que não permitiu a saída.
— Como é? E onde minha mulher está? – ele já tinha o rosto fechado, o cenho franzido.
Os três trocaram olhares preocupados.
— Fala porra, vocês estão surdos?
— Ela foi encaminhada pra delegacia mais próxima do aeroporto, mas conseguiu resolver com alguém lá dentro que provavelmente devia algum favor a ela. Saímos de lá pensando em deixá-la escondida na casa de Angra, mas ela nos deu um perdido. – Wagner parecia com medo de assumir aquilo.
Alexandre ficou parado olhando para os três patetas que foram passados pra trás. Não poderia julgar tanto assim já que ela realmente era foda em tudo que se propunha a fazer, tinha ficado impressionado ao ler a ficha dela.
Metade do seu corpo foi tomado por raiva, o outro foi de puro orgulho que era difícil de admitir na hora, mas que corroeu seu íntimo com o mais profundo sentimento de tesão ao saber que a melhor de todas estava atrás dele com tanta sede.
— Vocês estão dizendo que a minha delegada deixou os três bocós de cara pro alto e fugiu? – ele apoiou uma das mãos na cintura e abaixou a cabeça rindo.
— Ela tem treinamento, Nero. Fingiu que queria ir no banheiro enquanto a gente colocava gasolina e fumava um cigarro. De repente a gente só viu o carro cantando pneu e deixando só poeira na nossa cara.
A história ficava cada vez melhor.
— Eu não acredito que deixei na mão de vocês e foi tão fácil pra ela fazer vocês de besta. E agora? Eu quero que vocês se virem para resolver e encontrar ela.
Guilherme esfregou a barba. Era engraçado vê-lo com a farda da polícia, mas graças a ele muita coisa aconteceu para beneficiar seu lado.
— Fiquei sabendo por uns amigos que alguns dos seus bandidos do morro tentou entrar no apartamento dela pra tentar te vingar. Tão querendo a cabeça dela.
Alexandre sentiu a ira subindo pelo seu corpo todo.
— Se encostarem um dedo se quer nela eu acabo com um por um. – soltou o verbo com o tom de voz ainda mais rude. — Acha ela pra mim agora. Agora.
Saíram dali com o carro, enquanto Guilherme ficava responsável por sumir com os polícias na van.
— Pra onde vamos, chefia?
Wagner dirigia enquanto Nero apoiava o braço esquerdo na porta do carro olhando para o lado de fora. Só queria encontrar Giovanna, queria se ajoelhar e pedir perdão a ela por ter acabado com a carreira dela na polícia.
Mas infelizmente não conseguia negar seu lado criminal e não sabia se aguentaria viver uma vida certinha, mas o sacrifício sempre valeria a pena por ela. Só por ela.
— Pro morro. Quero agir umas coisas lá antes de sair pra nunca mais voltar. – ele virou o rosto ao passar do lado de uma viatura da polícia parada em frente uma padaria.
Nem se deram conta de nada, óbvio. Rj tem dessas.
Como a mídia ainda não sabia de nada sobre os detalhes da invasão no morro por causa da tortura que queriam fazer com ele, — que pela lei era proibida, não seria um problema subir outra vez.
Os olhares curiosos e assustados ao vê-lo chegar foi uma coisa da qual ele nunca se esqueceria. Rapidamente uma aglomeração se formou em volta dele, os moradores que já estavam ali por muitos anos e gostavam dele.
— Eu preciso trocar uma ideia com os caras. Valeu pela preocupação rapaziada, eu tô de boa. – ele garantiu, já que as senhorinhas queriam passar remédio nos seus ferimentos.
Em pouco tempo estava dentro do casarão com quase todos os bandidos ali em volta. Alguns morreram no dia da invasão, outros desceram atrás de Giovanna e os que esperaram ele cair pra tentar assumir o morro se deram muito mal.
— Eu quero deixar uma coisa muito bem esclarecida aqui. – ele pôs os pés em cima da mesa e cruzou os braços.
Antes que pudesse continuar a porta foi aberta com um safanão, todos ali presentes se viraram com as armas na mão apontadas para a pessoa que ousou entrar ali.
Giovanna respirou fundo olhando para o homem que também parecia impactado com a imagem dela.
— Ora ora se não é a infiltrada patrão. Poupou o nosso trabalho de ir atrás dela. – um dos criminosos sorriu de forma agressiva e se aproximou da loira.
Alexandre foi rápido em abrir a boca num tom rouco que ecoou por todo lugar.
— Quem quiser morrer aqui e agora é só tentar fazer alguma coisa com a minha mulher.
Giovanna sentiu um frio na barriga ao ser chamada desse jeito, e a saudade dos dias que ficou sem saber se ele estava vivo ou morto tomou conta do seu corpo.
Quando viu ele de braços abertos, não se controlou mais e pulou no colo do homem que virou sua vida do avesso.
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