A minha vida inteira foi um fingimento e você não estava muito diferente de mim. Achávamos que tudo era preto e branco, bem e mal, mocinhos e vilões, até nos encontrarmos. Sempre fomos o lado feio, o lado ruim, assustador e rejeitado, então por que...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
LISSE ROSSI
Acordo escutando o barulho do seu coração. Acordo sentindo o seu cheiro inebriante. Acordo me sentindo quente e protegida, abrindo um sorriso sincero e depositando em seguida um beijo em seu peito nu.
Me levanto com um pouco de dificuldade, reparando nos curativos em meu corpo. Se o sangue russo não tivesse escurecido minhas vistas, eu estaria dispensando a ida ao médico. Eles estão bem feitos. Estão perfeitos. Ter essa percepção me faz encarar o homem adormecido. Me faz parar com os passos até o banheiro e olhar sua figura adorável e apagada.
As lembranças da madrugada conturbada, me tiram um sorriso melancólico. Seus toques estão fresco em minha memória, me fazendo sentir os arrepios que suas mãos cuidadosas e sua voz rouca tirou de mim. Kaillan me tocou com medo de me machucar, com receio de piorar minha situação, ele me sufocou com sua atenção e zelo. Eu não estava reclamando. Eu queria mais do sufoco. Queria mais dele.
Fechando os meus olhos, posso sentir novamente a quentura de alguma horas atrás. Posso sentir ela voltar a me atormentar. Ela me queima cada vez mais que encaro seu corpo adormecido, ela se agita em meu peito, me mostrando que não está indo tão fácil. Ela me pede para que eu volte para seus braços. Ela implora pela sensação do seu corpo e o batimentos do seu coração. Eu quase deixo que ganhe a batalha.
— Você não tem noção do que arrumou para sua cabeça, lutador — digo baixo, seguindo meu caminho.
Tranco a porta do banheiro não querendo interrupções. Eu não sou de negar um pouco mais de Kaillan, mas sou humilde para admitir o quão merda estou. Encarando o espelho em minha frente, confirmo que não é exagero.
Os lugares não enfaixados mostram às contusões. Roxo por todo lado, me dizendo que terei trabalho com a maquiagem. O cabelo parecendo um ninho mal feito de algum passarinho. Quanto mais me encaro no espelho, mais o rancor e o ódio cresce em mim.
Papa, eu tenho que ser esperta com você, não é? Eu não posso voar para Rússia e te mandar para o inferno ainda. Não se eu querer tudo o que você tem. Não se eu me importar com o homem dormindo em minha cama. Não se eu gostar da minha vida.
Me afastando e ligando o chuveiro, deixo a água terminar de me acordar, enquanto minha mente vacila entre lembrar do meu lutador e da conversa com Nikolai. Ele quer detalhes. Ele quer ajuda para acabar com o meu monstro. Sorrio fraco por todas as palavras desnecessárias.
Ele quer mais do que isso. Ele é mais do que capaz de acabar com o Italiano. Aquela é minha máfia também, mas não vou mentir dizendo que não precisamos de ajustes. Acontece que o fodido do Nikolai quer uma parceria, ele quer saber que estaremos aliados quando aquilo tudo estiver em minhas mãos.
Bom, saber que o desgraçado não menospreza minha inteligência, é bom.
Massageando meu couro cabelo, penso no longo dia que terei pela frente. Condicionando os fios loiros, estipulo uma quantia gorda para o meu vencedor. Ele merece algo cheio por toda a cena. Ele merece mais do que sua última luta e eu não estarei sendo paciente caso queira recusar o dinheiro outra vez.
