Vidro estilhaçado

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~{28}~

Lá estava ele.

Dazai se referia a ambos.

Dazai olhava para Chuuya com uma expressão que nenhuma palavra conseguia descrever por completo. Mas havia algo certo a se dizer: era genuíno. Não era uma máscara para esconder quem ele era ou disfarçar suas emoções. Era um olhar frágil e vulnerável, algo que Dazai odiava profundamente. Sentia como se sua caixa torácica estivesse sendo esmagada—como um dos métodos de execução que ele próprio já havia aplicado tantas vezes na Máfia...

Era como despir seu coração, forçando-o a enxergar que algo estava lá.

Algo que ele havia se acostumado a ignorar, algo ao qual ele havia se tornado insensível: o ritmo constante das batidas...

As lágrimas queimaram em seus olhos, e ele simplesmente as deixou cair, traçando padrões aleatórios em sua jaqueta até encharcar o tecido.

Chuuya o encarava, seus olhos brilhando com uma luz suave – o mais sutil vislumbre de esperança. Seu olho não estava escondido sob uma atadura carregada de um engano cruel, permitindo-lhe enxergar tanto o lado bom quanto o ruim da situação. As cicatrizes em sua pele eram imperfeitas de forma única, diferentes das de Dazai. Havia algo reconfortante nisso, mas também partia o seu coração.

Chuuya havia sido ferido de formas que Dazai podia imaginar — e não apenas durante aqueles quatro anos em que esteve ausente. Mori cravou bisturis em sua pele, esculpindo sua personalidade com precisão cruel. Mesmo quando Dazai tentava libertá-lo das correntes da máfia, Chuuya continuava sendo moldado, transformado em uma distorcida homenagem ao antigo Demônio Prodígio.

Dazai viu as cicatrizes no braço de Chuuya — marcas meticulosamente feitas por um médico para imitar automutilação — mas notou as imperfeições. Algumas eram profundas demais, talvez até atingindo artérias. As do pescoço, por sua vez, estavam perigosamente próximas de algo fatal para serem meros acidentes.

E se Mori o tivesse forçado a "enxergar a luz" novamente, levando-o à beira da morte apenas para que o Deus da Calamidade o arrastasse de volta à sombria escuridão da Máfia? Chuuya sempre temeu que Arahabaki não o deixasse morrer...

Dazai notou as cicatrizes finas, quase imperceptíveis, deixadas por unhas descendo pelas bochechas de Chuuya — marcas de uma reação involuntária à habilidade de controle mental de Q.

Dazai teorizou, e depois confirmou, que Mori havia forçado Q a usar essa habilidade nele repetidas vezes… Só de pensar no que Chuuya foi obrigado a reviver, vez após vez, sentiu o estômago revirar. Ele precisaria encontrar aquele pirralho e arrancar a verdade sobre o que havia feito.

E, por fim, as cicatrizes que atormentavam sua mente desde que ele tinha dezesseis — ou seria dezessete? (Quando foi que os Flags morreram? Deus, que tipo de parceiro horrível ele era, se não conseguia lembrar quando os amigos de Chuuya haviam morrido...)

Espirais de cicatrizes de runas ardentes se misturavam às sardas de Chuuya, um lembrete cruel da singularidade furiosa.

Chuuya estava coberto de cicatrizes... e todas elas levavam de volta a algo que Dazai havia causado ou simplesmente ignorado, sem se importar em ajudá-lo a enfrentar — porque Chuuya nunca quebraria.

E, para ser justo, Chuuya não quebrou. Chuuya se despedaçou. E, ao se despedaçar, deixou as mãos de Dazai ensanguentadas pelos cortes dos cacos de vidro quebrado.

"Sim, eu estou chorando..." Dazai finalmente sussurrou, tocando as lágrimas que escorriam pelo rosto.

Admitir aquilo doía — mas não como uma dor que apenas machuca. Era uma dor que fazia sangrar.

Imagens Distorcidas, Memórias Distorcidas {Tradução pt-br}Onde histórias criam vida. Descubra agora