"Primeiro passo para a paz: reconciliar-se consigo próprio. É o que a gente pode fazer de mais concreto, por mais abstrato que pareça." - Martha Medeiros
Os últimos dias não foram fáceis. Na quarta-feira a única coisa que todo mundo falava na escola era sobre Lottie. A saída dela deixou todo mundo, inclusive as suas amigas, aliviados.
***
- A Lottie se mudou?
- Não é possível, vi ela ontem!
- Ouvi dizer que ela está na reabilitação por abuso de drogas.
- Eu acho que ela teve um colapso nervoso depois que Charles terminou com ela.
- Tenho certeza que ela está grávida!
- Meu pai disse que o pai dela foi demitido da empresa, talvez eles não tenham mais dinheiro para pagar a escola.
Andei pelos corredores com a cabeça baixa, tentando não ouvir as fofocas sobre Lottie. Será que ninguém tem nada melhor para fazer além de fofocar sobre a vida de alguém? O mais engraçado é que ninguém acertou um palpite.
Todos amam a desgraça alheia, é só sobre isso que eles fofocam, desgraça e mais desgraça. Ninguém espera o melhor de ninguém, sempre estão esperando a outra pessoa dar um passo em falso para que eles tenha algo sobre o que fofocar.
Por um momento, no meio daquele ninho de cobras, fiquei com dó da Lottie, mas o sentimento desapareceu assim que me lembrei que cada um colhe o que planta. Todos a odiavam, só tinham medo demais para falar alguma coisa. Imagino o que falariam de mim se não voltasse para a escola.
Virei a direita, indo para o meu armário, mas parei quando vi Charles e William lá. Os dois não estão conversando, na verdade eles estão parados lado a lado, com os corpos rígidos e os olhos congelados, como se estar na presença do outro fosse a pior coisa que poderia acontecer.
Respirei fundo. Sei que estão preocupados comigo, principalmente William. Passei a noite inteira chorando no quarto dele, e de manhã, como se nada tivesse acontecido, me despedi e voltei para casa, pronta para esquecer cada detalhe da noite anterior.
Assim que eles me viram os dois deram um passo para frente e ergueram as mãos, como se fossem me abraçar. Fiquei tentada a rir da situação, mas continuei com a cara sem emoções.
- Você está bem? - Os dois falaram ao mesmo tempo.
- Estou.
William deu outro passo para frente e pegou a minha bolsa.
- Precisa de ajuda com alguma coisa?
- Não, Will. - Rolei os olhos. - Estou bem, de verdade. Agora devolve a minha bolsa, posso carregar ela sozinha.
Olhei para Charles, ele deu um pequeno sorriso, como se não tivesse certeza do que falar.
- Podemos conversar? - A voz dele saiu baixa e incerta.
- Hoje não, Charles. Não estou com cabeça. Vocês dois podiam me deixar sozinha? Eu estou bem.
Eles olharam um para a cara do outro e sem falar nada cada um saiu andando para um lado, finalmente me deixando em paz.
***
Na quinta Charles me encurralou. Não estava com a mínima vontade de discutir o nosso relacionamento. Ainda não tinha me recuperado da conversa que tive com o meu pai. Só queria ficar sozinha, pensar.
***
Podemos conversar hoje?
Li a mensagem de Charles e suspirei. Já é a quinta mensagem que me manda em menos de duas horas. Contra a minha vontade respondi um "sim" e na hora do intervalo ele apareceu na porta da minha sala.
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Roleta Russa
Teen FictionGaia Marriott, uma garota de 16 anos, cresceu em uma das famílias mais ricas dos Estados Unidos. Ela mora com seus pais em uma metrópole na Califórnia chamada La Savior e estuda na melhor escola particular da região. Contudo, o dinheiro e o estilo...