Entre cadeias, sorvetes e o mar

274 20 0
                                    

"Não há liberdade sem rebeldia." - Magaiver Welington 

O vento gelado parece cortar meu rosto enquanto ando pela rua durante a madrugada. Não sei ao certo porque decidi ajudar William. Talvez pelo desespero que ouvi em sua voz quando estávamos ao telefone, ou simplesmente porque sei que ele não conhece mais ninguém na cidade além de mim.

Abri a porta da delegacia, não sabendo o que fazer. Estiquei meus dedos, tentando expulsar a dor que se instalara neles por conta do frio. Olhei ao redor procurando alguma dica sobre o que fazer em seguida.

A recepção é pequena, com um carpete preto todo destruído no chão. As paredes - que eram para ser brancas - estão amareladas e com cheiro de mofo. Três cadeiras verdes de plástico se encontram grudadas na parede em frente a uma mesa de escritório cinza, com um computador preto, daqueles bem antigos. 

Toquei a campainha que se encontra em cima da mesa e me sentei em uma das cadeiras. Sem música ambiente, sem revistas ou jornais, nada para me tirar do tédio. Peguei um panfleto que fala sobre "Os perigos que as drogas oferecem", mas logo o deixei de lado. Será que ninguém virá me atender?

- O que a senhorita precisa? - Uma mulher alta, bem magra (quase esquelética), com feições que lembram as de um rato e cabelos pretos, curtos e sedosos, entrou por uma porta que se encontra atrás da mesa. Seu tom não é amigável e sim monótono, quase tedioso.

- Hum - Pensei no que responder, a verdade é que não tenho ideia do que fazer sendo que sou menor de idade - Eu vim buscar meu primo. O nome dele é William Henri Hoffmann.

A mentira saiu de forma tão natural que me assustei. Primo? De onde tirei isso?

- E quantos anos a senhorita tem? - Os olhos da secretária grudaram em meu rosto e vagarosamente desceram até meu pé, me escaneando.

- 21 - Não posso falar que sou menor de idade, caso contrário eles não liberarão Will.

- Documento de identificação, por favor?

Peguei minha Carteira de Identidade falsa no bolso da grossa jaqueta de couro que estou usando e entreguei para a mulher. Essa não é a primeira vez que apresento o documento ilegítimo para alguém. O uso o tempo inteiro para comprar cigarros e bebidas. Sei que ela não achará nada de errado no documento, conheço o trabalho do falsificador que o fez para mim, ninguém que comprou algum documento dele foi pego.

- Tudo bem. Aguarde um minuto.

Ela se levantou, o mais devagar possível, e com passos de tartaruga sumiu pela mesma abertura da porta que entrou. Foi meia hora de espera até William ser liberado. Durante todo esse tempo pensei sobre o que vou falar para o meu pai quando ele descobrir que dois mil dólares sumiram da minha conta em uma noite.

Obviamente não falarei que usei este dinheiro para liberar um menino que conheço há uma semana da cadeia. Talvez fale que gastei em roupas, muito improvável ele acreditar, mas duvido que ele irá me encher o saco.

- Gaia! - William veio correndo em minha direção, e no segundo que entrei em seu alcance seus braços me envolveram. Saímos da delegacia, o táxi já a nossa espera. Esperei que estivéssemos acomodados dentro do carro e a salvo dos ouvidos apurados da polícia para falar.

- O que você estava pensando? Roubar uma loja de roupas, William? 

O que não entendo é porque ele precisa roubar uma loja de roupas? Seus pais são ricos, ele é rico. Sei que ele não quer ser sustentado, mas o que adianta negar o dinheiro e ir parar na cadeia? 

- Eu sei - Sua voz soa culpada, e olhando em seus olhos pude notar que eles estão banhados de vergonha.

- Eu entendo que você está tentando tornar a vida dos seus pais um inferno, mas há maneiras melhores de fazer isso do que ir para a cadeia, acredite! - Sussurrei as palavras, olhando de relance para o motorista para confirmar que ele não está ouvindo a nossa conversa.

Roleta RussaOnde histórias criam vida. Descubra agora