"A vingança agrada a todos os corações ofendidos; (...) uns preferem-na cruel, outros generosa." - Pierre Marivaux
William tirou o celular da minha mão trémula. Lilian passou por mim perguntando do filho e eu não dei nenhuma moral, nem me preocupei, e agora ele pode estar em qualquer lugar, pode estar sendo torturado, pode estar morto.
O pensamento só fez mais lágrimas deixarem os meus olhos. Desesperada agarrei os braços de Will, o que nós vamos fazer?
- Temos que encontrar ele, Will. Nós temos que encontra-lo.
Ele acariciou meu rosto, secando as lágrimas. Seu olhar está mais perdido que o meu, mas pelo menos ele está calmo. Encarando o celular outra vez ele começou a escrever uma resposta.
Onde ele está?
Se a situação não fosse tão assustadora eu estaria rindo da pergunta, eles provavelmente não nos darão a resposta. Cinco minutos se passaram até o celular tocar outra vez.
Entre a água e a terra. Mas se vocês não chegarem em meia hora ele estará entre a vida e a morte.
Entre a água e a terra. O que isso significa? Ele está no mar? Não. Isso seria óbvio demais.
- Só pode ser na praia. - A voz de Will saiu confiante.
- Não, não é isso. Seria fácil demais. Tudo está fácil demais.
Andei de um lado para o outro, a frase se repetindo na minha cabeça. Entre a água e a terra.
- Mas Gaia, a água é o mar, a terra é a areia da praia. Agora só temos que descobrir qual praia.
Não dei ouvidos. Sei que não é isso. Não pode ser isso. Está fácil demais. Sentei na cama, exausta e assustada demais para pensar. Entre a água e a terra. Olhei ao redor, procurando por uma dica, qualquer dica. Meus olhos pousaram em um retrato em cima da minha cômoda.
Uma garotinha pequena, com seis anos, está abraçada a um garoto um pouco mais alto que ela, mas da mesma idade. Os dois estão com as roupas toda molhada e mostrando a língua para a câmera. Me levantei e fui até a foto, peguei o porta retrato na minha mão, acariciando o menino.
Me lembro quando essa foto foi tirada. Eu e Charles estávamos na casa dos meus falecidos avós. Nós decidimos pular no lago que tinha atrás da casa deles, de roupa e tudo. Eu estava usando um vestidinho vermelho novo.
Lembro da minha mãe, primeiro ela ficou brava porque eu tinha arruinado o vestido, depois todos começaram a rir. Meus avós sentaram na beira do lago e assistiram eu e Charles nadando a tarde toda.
Essa é uma das únicas lembranças que tenho onde meu pai está feliz. Enquanto meus avós nos assistiam ele conversava animadamente com a minha mãe o com os pai de Will. No final da tarde nós deixamos o lago, atravessamos o grande quintal e comemos bolo de chocolate.
Uma das coisas que eu mais sinto saudades é aquela Casa do Lago. Casa do Lago. Entre a água e a terra. É isso! Só pode ser isso. Levantei da cama, revirando meu quarto atrás da chave do carro.
- Gaia?
- Sei onde ele está, Will! - Achei a chave e sai correndo do quarto. Não tenho tempo para parar e explicar tudo.
Desci as escadas e assim que cheguei na sala empurrei todo mundo, tirando quem quer que seja do meu caminho. Várias pessoas me lançaram olhares com raiva, ignorei todas e continuei correndo.
Cheguei no carro, William correndo atrás de mim.
- Gaia!
- No carro te explico, se formos rápido chegaremos lá a tempo.
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Roleta Russa
Novela JuvenilGaia Marriott, uma garota de 16 anos, cresceu em uma das famílias mais ricas dos Estados Unidos. Ela mora com seus pais em uma metrópole na Califórnia chamada La Savior e estuda na melhor escola particular da região. Contudo, o dinheiro e o estilo...