Roleta Russa

Happy Halloween

"Quase todos podemos suportar a adversidade, mas se quereis provar o caráter de um homem, dai-lhe poder" - Abraham Lincoln 

Ouvi os primeiros convidados tocando a campainha. Me sentei na cama, ainda nem coloquei a fantasia. Não estou com um pingo de vontade de participar da festa de Halloween do meu pai. Só de pensar em descer e ficar no meio das centenas de corpos e da música alta me da dor de cabeça.

Além disso, Charles está vindo com os pais deles. A presença daqueles três é obrigatória em toda e qualquer festa que o meu pai organizar. Olhei meu celular, ainda não recebi nenhuma mensagem de William, ele disse que me avisaria assim que chegasse.

- Senhorita? - Marta entrou no meu quarto, tentando falar mais alto que a música. - Você ainda não está pronta? Os convidados já estão chegando!

Olhei para a fantasia dela, todo ano ela veste a mesma coisa, somente com algumas alterações. Esse ano ela é a empregada zumbi. O ano passado ela foi a empregada vampira, e no anterior a empregada múmia.

- Já estou indo, Marta. Me de mais alguns minutinhos.

Ela balançou a cabeça negativamente, obviamente brava com a minha falta de entusiamo, e saiu do quarto. Suspirando, despi o meu pijama e coloquei a fantasia. Parei em frente ao espelho, encarando o meu reflexo.

A fantasia ridícula de Mulher Maravilha que Marta escolheu para mim chega a ser engraçada. O Halloween é para ser assustador, não para se vestir de super herói. 

Ano passado me vesti de vampira sedenta. Minha mãe me xingou o tempo inteiro, falando sobre como garotas tem que se comportar de uma certa forma, como eu deveria ter escolhido uma roupa mais delicada. Ela provavelmente teria amado essa fantasia.

- E ai, encrenqueira!

A voz de William me assustou e pulei em cima da cama.

- Será que você podia parar com essa mania idiota de chegar de fininho e quase me matar de susto?

Ele sentou no chão, rindo da minha reação. Olhei para a fantasia dele. Super homem. Só pode ser uma piada!

- Como você sabia!? - Eu gritei, o volume da música está no ultimo.

- A Marta me contou. 

Rolei os olhos. Agora todos vão achar que somos um casal, não acredito que as nossas fantasias estão combinando. Desci da cama, dei um tapa na cabeça de William e fui para o andar de baixo.

A música aqui é quase insuportável, posso sentir meu corpo pulsando no ritmo da música. A sala já está cheia de pessoas vestidas com as mais diversas fantasias. Reconheci alguns alunos da escola, mas não cumprimentei ninguém. Tentei andar pela multidão e chegar até o bar, já que estou em uma festa é melhor me divertir.

Assim que cheguei ao balcão fui atendida por um homem alto e musculoso. Ele está fantasiado apenas com uma cueca de couro e orelhas de coelho. Meu pai provavelmente escolheu a fantasia.

- Quero vodca com energético! - Já estou cansada desta coisa de ter que gritar para outras pessoas me ouvirem.

O garçom fez um sinal negativo com os dedos e foi atender outra pessoa. Mas que mer...?

- Ei - Gritei mais alto. - Você não ouviu o que pedi?

Ele me encarou outra vez e franziu a testa, obviamente sem paciência.

- Desculpa, Srta. Marriott. Mas seu pai me disse que não é para servir nada alcoólico para menores de vinte e um anos. 

Ótimo, meu pai acaba de ganhar, pela centésima vez consecutiva, o prêmio de pior pai do mundo. Com raiva sai do balcão e fui até o quintal. Por incrível que pareça ele está quase vazio. Vi William sentado em uma das cadeiras de sol perto da piscina. Me dirigi até lá e me sentei ao lado dele.