"O mais terrível não é termos nosso coração partido (pois corações foram feitos para serem partidos) mas sim, transformar nossos corações em pedra" - Oscar Wilde
- Charles?
Eu entrei na enorme sala de recepção da casa dos Walton. Só tem um lugar no qual Charles pode ter ido, a própria casa.
- Charles, eu sei que está aqui!
Subi as escadas que levam até as suítes. O quarto dele fica ao final do corredor. Cruzei meus braços, tentando afastar o medo do escuro. Com passos largos e rápidos me dirigi até a ultima porta, não me importando em bater antes de entrar.
Ele está deitado na cama, ainda com as roupas do evento e com o fone nos ouvido. Fiquei parada na porta, sem saber o que dizer agora que estou aqui. Eu sei que as minhas atitudes, desde que começamos a namorar, não foram as melhores. Também sei que dei a William uma abertura maior do que deveria, e que as vezes, parecemos ser mais do que só amigos. Mesmo sabendo disso, não consigo me arrepender de nada que passei com ele até hoje.
Ele virou a cabeça e seus olhos me encontraram. A surpresa de me ver parada aqui é visível em seu rosto.
- Como você entrou aqui? - Ele se sentou na cama.
- Você me deu a chave da sua casa. - A minha intenção era falar alto e confiante, mas as palavras saíram baixas demais, como se elas tivessem saído da boca de um mentiroso.
- E o que você quer?
- Não sei.
Seus olhos se fecharam por um instante. Sei que devo pedir desculpas, mas também sei que assim que as palavras saírem ele verá que não estou sendo verdadeira.
- Então pode ir embora. - Curto e grosso, sem um pingo de emoção. Eu vi as palavras deixando a boca de Charles, mas a frieza com que elas saíram, tão diferente do modo como ele sempre fala, me fez sentir como se talvez não fosse ele que tivesse falado.
- Não.
- Gaia, vá embora.
- Não. - Me sentei ao lado dele, por um momento achei que ele iria levantar, mas ele não se mexeu. - Não até você me dizer por que está tão bravo.
Ele riu, como se a resposta para a minha pegunta fosse óbvia, e realmente é. Mas mesmo assim, quero ouvir ele falar.
- Porque, claramente, você prefere o seu novo amigo a mim. E por favor, não venha me falar que é mentira porque sei a verdade. Vocês dois são muito parecidos. Os dois tem problemas com os pais, os dois tem uma tendencia a serem rebeldes, os dois gostam de viver o hoje, e não dão a mínima sobre o que vai acontecer amanhã.
"Eu não sou assim. Eu obedeço os meus pais, não bebo, não uso drogas, não concordo com metade das coisas que você faz ou fala, gosto de planejar cada detalhe da minha vida e da vidas das pessoas que estão ao meu redor. Nós somos muito diferentes. Você tem que ficar com ele, não comigo."
A verdade nas palavras dele me atingiu. Sou mesmo compatível com William. 99% do tempo nós estamos pensando a mesma coisa, mesmo que muitas das vezes eu fale que ele está errado, a verdade é que concordo com tudo o que ele fala.
Já eu e Charles somos completamente opostos. Eu odeio quando ele quer falar do futuro, ou quando ele tenta me dizer o que fazer, até mesmo quando ele me pergunta dos meus planos. Eu odeio que depois de acabarmos a escola ela não vai embora comigo, ele ficará aqui e fará o que os pais deles esperam que ele faça. Ele vai desistir do que quer para agradar outras pessoas. Mas mesmo assim, sendo teimosa como sou, e sabendo que William seria a escolha perfeita, eu continuo querendo Charles. É ele que amo.
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Roleta Russa
Roman pour AdolescentsGaia Marriott, uma garota de 16 anos, cresceu em uma das famílias mais ricas dos Estados Unidos. Ela mora com seus pais em uma metrópole na Califórnia chamada La Savior e estuda na melhor escola particular da região. Contudo, o dinheiro e o estilo...