Ressaca

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"Afinal, se a gente não se divertir o que é que a gente vai fazer" - Elis Regina

Senti sua mão apertando o meu quadril, puxando-me para mais perto dele, fazendo com que minhas costas fiquem pressionadas contra seu peitoral, apesar do desconforto e do sentimento de culpa, não me afastei. A mão, que antes estava na minha cintura, desceu para a minha perna, tão macia e firme. Joguei minha cabeça para trás enquanto nós dois movimentamos nossos corpos no ritmo da música alta. 

Abri os olhos, o clube está cheio de pessoas, a maioria na pista de dança. É difícil distinguir o rosto de alguém, mesmo daquelas pessoas que estão bem perto, já que a luz não para de piscar. Antes de vir para pista de dança, fiquei uma hora chorando no ombro de William e reclamando do meu pai. Devo confessar que depois da terceira dose de tequila e de tomar um copo de vodca com energético não consigo lembrar o que meu pai fez dessa vez.

Dançar, beber, dançar, beber. São os únicos pensamentos na minha cabeça agora, e pra falar a verdade, a única coisa que importa. Não sei como Will achou um clube aberto em plena segunda-feira. Também não tenho ideia de como ele conhece clubes em La Savior já que se mudou para cá há exatamente uma semana, mas não importa, depois de hoje vou força-lo a me passar o nome e endereço de todos os clubes que ele conhece nessa cidade tosca.

- Gaia!

Se não tivesse tão bêbada talvez conseguisse saber de onde veio a voz que está me chamando, mas o simples ato de virar a cabeça para o lado me causa um tontura tão grande que prefiro nem tentar. Fechei os olhos e escapei mais uma vez para o mundo da dança.

- Gaia, o que você está fazendo?

A voz está cada vez mais perto de me alcançar. Talvez deva fugir, mas não tenho para onde ir. Então continuo dançando, fingindo que não escutei.

- Meu Deus, Gaia! Venha comigo.

Uma mão se fechou em torno do meu braço, me puxando para longe do meu parceiro de dança. Abri os olhos outra vez, pronta para gritar com quem me tirou do meu momento feliz, mas assim que o rosto de Will entrou em foco me aliviei.

- Will - Estiquei o "i" no nome dele o máximo que pude, fazendo ele sair meio cantado. Em seguida soltei um soluço e comecei a rir.

- Está na hora de ir para casa.

- O que? Não! Vamos dançar mais.

Ir para casa? Do que é que ele está falando? Acabamos de chegar, e nem comecei a me divertir ainda.

- Já dançamos o suficiente.

Pude sentir a raiva me inundando. Pedi para ele me ajudar a esquecer, não para bancar a babá. Tentei me soltar do aperto de suas mãos, mas levando em consideração a quantidade de álcool no meu sistema e a superioridade da força de Will, o máximo que fiz foi tropeçar, esbarrando em uma mulher e fazendo o copo de cerveja dela cair na minha roupa.

Antes que ela pudesse me xingar, William se abaixou e me jogou em cima do seu ombro, me deixando em uma posição não muito confortável já que eu estou de saia. Assim que consegui posicionar minhas mãos nas costas dele e levantei a cabeça, o mundo pareceu girar.

Tentei avisar, mas antes das palavras deixarem a minha boca senti o meu estomago contraindo e todos os alimentos e o álcool que consumi durante o dia jorraram para fora, sujando o chão e a camiseta de Will.

O pedido de desculpa, que pretendia dizer assim que vomitei nas costas do meu amigo, também nunca saiu, porque em seguida vários pontinhos pretos surgiram nos meus olhos deixando o meu corpo mole. No segundo seguinte mergulhei na escuridão.

Roleta RussaOnde histórias criam vida. Descubra agora