Quase Noivado

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"O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não" - Mahatma Gandhi

Sabe quando você tenta avisar que determinadas atitudes não darão certo mas a pessoa insiste em tampar os ouvidos e ignorar os seus conselhos, e depois quando ela quebra a cara e você diz, "eu te avisei" você que é visto como o vilão? É exatamente o que está acontecendo agora.

Eu tentei avisar (de um jeito sarcástico e nem um pouco educado, confesso), mas isso não quer dizer que não tentei. 

O Sr. Dowling (ou Sebastian), ficou a semana inteira andando de um lado para o outro da casa, importunando a coitada da Marta para fazer os preparativos do noivado. Não vou mentir que ele é uma pessoa agradável de conversar, chega até a ser engraçado, mas durante todas as conversas que tive com ele não pude deixar de manter a hostilidade. Ainda lembro que ele é um dos motivos pelo qual a minha mãe não está aqui.

Fiquei impressionada com o tempo que meu pai concordou com essa conversa toda de "sair do armário" e virar noivo do meu não tão amado professor de literatura. Juro que por um momento achei que ele iria adiante com a história toda, mas então chegou o dia de mandar os convites da festa, que seria realizada amanhã, e meu pai surtou.

***

Foi ontem de manhã, tinha acabado de acordar e descido para tomar café. Estranhei quando cheguei na cozinha e Sebastian não estava sentado lá com um copo de café e um livro qualquer na mão, ao lado do meu pai, que sempre tem o jornal enfiado em baixo do nariz durante a refeição matinal.

Marta demostrou estar mais confusa que eu. Então acontece.

- Eu sabia que você iria acabar desistindo. Fui um idiota por cultivar esperança.

A voz de Sebastian chegou até a cozinha como um grito. Olhei para Marta e dei de ombros, sabia que essa história ridícula de noivado não iria durar muito. 

- Sebastian, espere!

As vozes agora vinham da escada, em questão de segundos Sebastian apareceu na cozinha, com uma mala pendurada no ombro.

- Já esperei o suficiente, Cornel!

Os dois estavam tão imersos na briga que nem perceberam a nossa presença.

- Você precisa entender a minha situação. Eu te amo, mas tenho uma reputação! Imagina o sofrimento que Gaia irá enfrentar na escola quando todos descobrirem que eu, o pai dela, sou gay!

Estava tentada a rir da coisa toda, até ouvir o meu nome. Pigarreei alto o suficiente para os dois notarem a minha presença. Assim que a atenção deles estava em mim me levantei, pegando a mochila da escola e a chave do meu carro em cima da mesa.

- Pare de fingir que você se importa com o meu bem estar e conte a verdade para ele de uma vez, pai. Você não quer tornar o relacionamento público porque a sua empresa e a sua reputação são mais importantes do que ele, ou qualquer outra pessoa. Além disso, você é o maior covarde que já conheci!

Pelo canto do olho vi Marta cobrindo a boca com as mãos indignada com o que acabei de falar, mas não parei. Virei para Sebastian, com dó - pois ele foi iludido - mas também com satisfação, porque ele teve o que plantou.

- Quer saber qual foi o seu erro, Sr. Dowling? Foi se apaixonar por um babaca narcisista que só ama uma coisa na vida: dinheiro. Se fosse você, desistiria antes que estragos maiores sejam feitos na sua vida.

Peguei um maça da fruteira, dei um beijo na bochecha da Marta e fui em direção a porta. A cena que deixei atrás de mim não era inesperada. Desde que meu pai me falou desse maldito jantar de noivado eu estava esperando pela explosão. Ela só demorou mais do que o previsto.

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