"Não é aos padres nem aos filósofos que se deve perguntar para que serve a morte...é aos herdeiros" - Francesco Petrarca
Acordei, ainda deitada no chão do banheiro e com a cabeça explodindo, fui até meu quarto e parei por um instante, olhando ao redor. Uma cama king-size se encontra exatamente no meio do aposento, coberta por um edredom roxo e preto e pelo menos seis almofadas lilás, feitas daquele material fofo que você quer esfregar seu rosto o dia inteiro.
No extremo direito do quarto tem uma escrivaninha de madeira, que sustenta meu MacBook e dezenas de livros, organizados em pilhas tão grandes que dão a sensação que com um sopro podem desmoronar.
Ao lado esquerdo um closet, cheio de roupas de grife que nunca usei. As roupas que uso se encontram em uma pequena pilha ao pé da minha cama.
Tirando os livros, nada deste quarto foi escolhido por mim, é como se ele nem fosse meu. Lentamente retornei ao banheiro, me despi, colocando cada pensamento nos meus movimentos, evitando pensar em qualquer outra coisa. Minhas costas doem e sei que a culpa é minha. Dormir no chão frio e duro nunca é uma boa ideia, mas a água quente ajudará a relaxar meus músculos.
Os novos cortes no meu pulso ardem com o toque do sabonete, me lembrando dos eventos da noite passada. Tento fazer meu cérebro esquecer tudo, mas quanto mais tento, pior fica.
Rolei os olhos e desliguei o chuveiro. Basta olhar no espelho para notar as semelhanças com a minha mãe. Meu cabelo tem o mesmo tom castanho claro que o dela, só que ao invés de longo, é na altura do ombro. Meus olhos são tão pretos como o céu à meia-noite. Minha pele clara, chega a ser pálida. Meus lábios, a unica parte do meu corpo que não me desagrada, são grandes e rosados.
Não tenho um traço do meu pai, que além de ser velho e baixo, é careca e gordo. Sou um pouco mais alta que ele, e magra. Devo admitir que meus seios são pequenos demais para uma garota de 16 anos e não tenho as curvas sexy que as revistas mostram. Sou extraordinariamente normal e sem graça.
Parei de me torturar com a minha imagem e me enrolei na toalha. Em menos de dez minutos escovei meus cabelos, passei uma grossa camada de rímel e delineador preto e coloquei o meu uniforme horrível da escola. Corri escada abaixo, rezando para não encontrar meu pai no meio do caminho.
- A Srta. Marriott não tomará café?
Reconheço aquela voz em qualquer lugar. Me virei, sorrindo pela primeira vez em algum tempo.
- Marta, quantas vezes preciso te falar para me chamar de Gaia?
- Desculpe Srta. Marri...quer dizer, Gaia!
Não consegui conter o riso. Sem falar nada beijei a bochecha dela e sai da casa. Marta Valquez, a única pessoa na minha vida que consegue me fazer rir, mesmo nos momentos mais difíceis. A única pessoa que admiro e a única que sempre cuidou de mim.
***
Ir para a escola não é melhor do que ficar em casa. Estudo na St. Michael Academy, a escola mais honrada e cara da grande La Savior. Todos os pais querem mandar seus filhos para cá, mas nem todos tem dinheiro suficiente.
Eu, pessoalmente, preferiria ir a uma escola pública onde não estaria rodeada por adolescentes ricos que apenas ligam para as suas aparências e se quem eles namoram são ou não de uma família nobre.
Não sou a garota mais amada da escola. No começo, todos queriam ser meus amigos, pois meu pai é o homem mais rico de La Savior, mas depois de um tempo eles perceberam que não dou a mínima para dinheiro, e não sobrou um. Talvez um. Mas ele já se foi a muito tempo.
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Roleta Russa
Novela JuvenilGaia Marriott, uma garota de 16 anos, cresceu em uma das famílias mais ricas dos Estados Unidos. Ela mora com seus pais em uma metrópole na Califórnia chamada La Savior e estuda na melhor escola particular da região. Contudo, o dinheiro e o estilo...