Os minutos passavam enquanto eu permanecia abraçada a Henry, até notar que havia parado de soluçar e estava mais calmo agora olhando para o nada, talvez refletindo. Aquele dia foi cheio demais e eu não pude deixar de perceber que foi a primeira vez que vi aquele homem sofrer tanto do jeito que estava sofrendo. A capa que usava para se manter forte havia caído exatamente como eu sabia que seria.
-Você perguntou o que eu queria dizer com aquela frase, que disse segundo antes de ir, não é? -Cortou aquele silêncio de repente e eu fiquei ansiosa pela sua possível revelação, mas sinceramente eu preferia que relaxasse, que descansasse um pouco e não se aborrecer mais.
-Não precisa, só quero que descanse.
-Eu preciso dizer. -Enfatizou. -Esses dias foram decisivos para mim. Comecei a pensar sobre quem eu sou, e sobre quem eu fingir ser. E em todos esses súbitos de pensamentos, percebi que você estava lá.. acreditando em mim quando ninguém estava. -Ele riu. -É, eu sei que é piegas e eu devo está parecendo um idiota sentimental agora ao qual irei me amaldiçoar pelo resto da vida, mas eu preciso dizer. -E eu estava doida para ouvir. -Quando fiquei com você pela primeira vez eu quis atingir Luke. -Novidade... - Você pareceu querer conhecer a minha história e eu quis ser sincero, pois eu não tinha nada para esconder mesmo, coisa que eu sempre vivia falando, mas que só você acreditou e confiou. Vi em você uma aliada, uma parceira que podia estar ao meu lado quando a solidão batia... E acredite ela batia demais. Você estava lá quando todos viravam as costas para mim inclusive minha mãe, por achar que tinha matado o meu pai, e Luke que também achava a mesma coisa. Ninguém faz ideia de como é horrível ser acusado de uma coisa que jamais fez, da qual você nunca seria capaz de fazer, por simplesmente você não é assim, pelas pessoas que você ama. Mas a culpa foi minha, eu me tornei esse homem de fachada por sobrevivência. Era mais fácil ser o vilão forte e invencível do que o mocinho chorão que todos sentem pena. E você Vick. -Segurou em minhas mãos e eu comecei a chorar de novo pela emoção que aquele homem estava me dando. -Você enxergou de alguma forma o lado que eu mais lutei pra esconder. Eu simplesmente não pude deixar que pagasse por uma coisa que eu fiz, eu fiz isso com a minha própria vida, e você não tinha nada a ver com isso...Quando achei o diário do meu pai eu quis queimar, quis apagar aquele passado que me matava, mas uma coisa me puxou até ele e me fez ler. Uma coisa que você havia dito uma vez. "Há uma razão para Roy ter sido assim, você não pode ser cem por cento culpado quando ainda era uma criança" aquilo me deu coragem para finalmente ler e encontrei esse trecho que havia escrito alguns dias antes de sua morte. E isso me libertou Vick, de uma forma que eu não achei que me libertaria. Você não faz ideia do quanto foi libertador saber que você não foi um erro na vida de ninguém. E essas mesma libertação eu vejo em você, quando olho em você. Vejo uma segunda chance, um forma de amar de novo. Então Victória... gracinha, baby, gatinha. -Demos um risinho com o seu tom divertido. -Sim eu amo você, amo tanto que eu me tornei um idiota. -Franziu o cenho pensando sobre o caso. -Mas um idiota liberto, livre para ser o homem que eu sempre deveria ser, quero fazer as coisas certas e dar um rumo a minha vida e preciso. Não... eu exijo que faça parte disso.
Acariciei o seu rosto tendo orgulho demais daquele homem, o homem que eu amava da mesma forma, o homem que eu me apaixonei com desespero.
-Eu também amo você. -Sorri em um choro de emoção, sabendo que finalmente eu poderia dizer as palavras que estavam presas dentro de mim a tanto tempo. -Amo tanto que eu faria tudo de novo se fosse preciso. -Segurei seu rosto com carinho, já pronta para tomar sua boca em um beijo. O beijo de amor que eu tanto quis dar, o beijo que finalmente dizia o quanto nos pertencíamos. -Obrigada por me dizer a verdade.
Foi então que ouvimos alguém batendo na porta já aberta, interrompendo aquele olhar terno que dávamos, para ver de quem se tratava.
-Luke? -Perguntou Henry surpreso com o irmão parado na porta.
-Eu ouvi toda a conversa. -Luke estava tonto um pouco, talvez pelo baque que teve ao ouvir tudo que ouviu, seus olhos verdes avermelhados denunciavam sim que havia ouvindo toda a conversa.
Luke começou a andar cambaleando até próximo a nós.
-Precisamos conversar mano. -Henry falou de um modo que queria sim deixar as coisas as claras e finalmente acerta-las.
-Vou deixa-los sozinhos. -Só achei que precisavam ficar a sós para poder conversar.
-Não Vick! -Impediu Henry. -Quero que fique. -Assenti respeitando o seu pedido.
-Quando se é um garotinho de dez anos e ver o seu irmão mais velho sendo quase um adulto cheio de ódio no olhar, você também pensa o que foi que fez de errado. -Luke começou a falar e eu percebi que seria uma longa conversa de esclarecimentos.
-Eu fui um idiota, não é? -Lágrimas enchiam os olhos de ambos e eu vi que aquela seria a hora dos irmãos se entenderem finalmente.
-Agora eu entendo. Eu era a pedra do seu sapato, o seu maior empecilho. -Henry interrompeu.
-Não Luke, não... é só... -Gaguejou as palavras, buscando a melhor forma de falar, mas Luke o interrompeu também.
-Eu s..s...só....o que...-Também gaguejou as palavras passando a mão na cabeça controlando as lágrimas enquanto tentava reformula-las. -Eu sempre quis ser como você. Você sempre pareceu tão destemido enquanto eu parecia um idiota medroso. Papai colocou todas as expectativas que tinha em cima de mim sendo que eu sabia que quem corresponderia seria você.
-Papai confiava em você, porque você sempre foi a pessoa certa pra isso. A pessoa mais confiável e eu não.
-Será? Eu daria tudo pra ser como você, Henry. Eu sempre achei que tinha inveja de mim por ter o amor dele, mas eu que sempre tive inveja de você por ser tão forte, e saber ligar com as coisas dele quando eu que deveria fazer isso.
-Minha fortaleza vai me levar alguns anos para a cadeia, Luke. -Riu.
-Você foi meu herói, o cara que queria ficar perto o tempo todo se fosse necessário. O cara que assistia desenhos comigo, que me ensinava a andar de bicicleta, que me abrigava no seu quarto todas as vezes que o bebê chorão tinha medo de trovões ou bicho papões, sem nunca jogar na cara que eu era um homem que tinha que ser forte. -Pensei naquela cena singela ao qual ele descrevia sentindo que os dois irmãos tinha tudo para ser os melhores amigos.
-Você mijou por diversas vezes na minha cama, cara. -Henry brincou reclamão e nós rimos, com as lágrimas ainda no nossos olhos. Luke mordeu as dobras de seus dedos como um gesto de nostalgia. -Podemos recuperar o tempo perdido, se quisermos. E se me perdoar por tudo que fiz, principalmente por ter ficado com sua noiva. -Sua expressão foi de culpa e rimos mais uma vez.
-Vick ama você, e isso está mais claro do que nunca para mim. Acho que precisou mais dela do que eu... Sofri muito, eu confesso. -Rimos. -Mas acho que devo algo pra você por causa do papai.
-Você não me deve nada, nunca me deveu. Eu quis muito Luke, muito tirar essa mágoa de mim e finalmente consegui, queria ficar perto de você... Me perda?
-Você é meu irmão mais velho, Henry. É claro que perdoo. Somos filhos da mesma mãe ainda. -Um sorriso genuíno despontou dos lábios de Henry.-Então vem cá cara. -Ele chamou Luke para um abraço e em fim os dois se perdoaram de uma forma linda diante dos meus olhos.
-E você Vick? Me perdoa? -Eu acho que não cabia mais mágoa ali, o negócio era seguir em frente.
-Só se me perdoar por ter ficado com o seu irmão. -Riu.
-Como eu disse, você fez bem ao Henry, se não fosse essa traição, não estaríamos aqui hoje. Vou adorar ser seu cunhado. -Caminhei até Luke e nós abraçamos.
-Ei, ei, ei. Já tá bom esse abraço aê né? -Henry bradou. -Minha mulher pow. -Rimos todos juntos aproveitando aquele momento de descontração.
Finalmente tudo voltava aos eixos e eu presenciei tudo aquilo. Era algo tão maravilhoso que até perdoei Luke pela câmera escondida. Não havia mais mágoa, havia somente uma família se reencontrando, por conta de um momento trágico e perdido lá atrás.
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Eu quero Você I - Ambiciosos (Sem revisão)
Chick-LitSinopse: Nunca pensei que poderia entrar no meio de tudo isso. As coisas pareciam fáceis para mim. Eu tinha uma vida, um noivo. Estava feliz, realizada, tudo parecia bem e normal. Eu fui avisada, já tinha uma opinião formada sobre tudo, mas assim qu...