Capítulo 30

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Meses depois


Aquela sala ampla, cheia, com a voz de um homem ecoando por todos os cantos enquanto todos faziam um silêncio desconfortável me dava um aperto no coração. Acontece que esse tal homem, o Juiz lia a sentença de Henry, em poucos minutos saberemos quanto tempo ficará longe de mim, em uma sela apertada com outros tantos criminosos.

Seu rosto pálido e abatido deixava visível o quanto tudo aquilo foi um desgaste para ele. Seu olhar atento posicionado à frente da grande bancada do juiz mostrava que Henry sabia que iria pagar por tudo que fez.


Ele  havia me confortado por todo esse tempo que esteve preso, dizendo que merecia e que tentaria tirar algum tipo de aprendizado com tudo que passaria de agora em diante. Ele havia aceitado o seu destino, mas não era nada fácil para mim vê-lo algemado, e atrás das grades, mesmo sabendo que era o preço que tinha que pagar.


-...E pelo crime de estelionato, falsificação de documentos e roubo.. o réu cumprirá em regime fechado, cinco anos de reclusão. -Fechei os meus olhos sentindo uma dor perpassar pelo meu coração.

Cinco anos é muito tempo, mas eu estaria lá para ele o quanto fosse necessário. Assim como estive ao seu lado todos esses anos.

Quando a leitura da sentença acabou colocaram algemas em seu  punho tão rápido que eu nem pude piscar. Seu terno amassado e cabelos desalinhadas condiziam com o abalo que teve. Corri para lhe dizer tudo que eu precisava.

Envolvi meus braços em seu pescoço e tomei seus lábios em um beijo forte, lhe mostrando todo o meu apoio.

-Estarei lhe esperando, sempre. Lhe visitarei todos os dias de vista e quando sair eu estarei  esperando do lado de fora pronta para abraça-lo. -O sorriso que me deu me garantiu que havia se comovido pelo que eu falei.
-Eu não vejo a hora de sair daqui e ficar com você. É tudo que eu quero nesse momento. Eu te amo Vick.
-Eu também te amo amor, e você sabe que é verdade. Porque você é esperto. -Ele sorriu de lado confirmando com a cabeça.
-Eu sei sim. -Respirou aliviado. -Acho que tenho que ir agora para minha nova casa. -Deu de ombros. E o olhei com um certo pesar.
-Jane virá, ok? -Tentei lhe dar esperança já que sua mãe não havia aparecido até então.

Provavelmente não queria ver o seu filho mais velho atrás das grades, contemplando em sua face a face de Bernad. Eu até que entendia sua reação, nenhuma mãe queria ver o seu filho nessas condições.

-Se não vier, ela tem os seus motivos. Oh se tem! -Henry se mostrava forte, mas eu sabia o quanto sua mãe fazia falta naquele momento.

Eu sei que queria falar com ela, lhe pedir desculpas por tudo que causou e lhe dizer que não teve culpa da morte do pai, não como pensa.

Os policiais indicaram a Henry para os acompanhar imediatamente, e eu tomei seus lábios mais uma vez como despedida.

-Até logo, Henry.
-Até, gracinha.

Um policial moreno e forte segurou no braço dele, o puxando de encontro a saída e mesmo assim continuamos nos olhando com aquela melancolia do momento, passando tantas coisas em minha mente... Como Henry passaria seus dias nessas condições? Se ficaria bem ou não? Se realmente iria mudar ou piorar? Mas eu estava confiante. Henry demonstrou mudanças e eu precisava confiar nele nesse momento. Até que ele sumiu pela porta, acompanhando os policiais até a penitenciária..

-Vamos? -Disse Luke atrás de mim.
-Sim. -Olhei para ele assentindo. -Vamos.

Sorri de lado e caminhamos juntos até o seu carro.

(...)

Eu estava morta de saudades de Henry, passei a morar em seu apartamento, não sairia daqui por nada, ficar perto de seus coisas me confortava um pouco. O seu cheiro impregnado por todo lugar, os seus lençóis, as lembranças de tudo que vivemos naquele quarto, naquela sala, naquele banheiro.

E sempre aos domingos, dias de visita, eu ficava ansiosa para reencontra-lo, beijar sua boca e lhe dizer o quanto eu o amo por muitas e muitas vezes.

E graças a Deus hoje seria o dia de visita e eu comecei a arrumar tudo que eu precisava para levar para ele. Frutas, comida, algumas revistas, livros. Era assim que passava o tempo e eu sempre passava em uma livraria para comprar o que me pedia.

A porta de aço, da sala de vistas, foi aberta e vi Henry em pé com um macacão laranja de presidiário em pé, ansioso por minha visita. Eu corri para os seus braços, beijando-o a boca, sentindo o seu toque de novo, suas mãos, o seu cheiro, sua pele. Por mais que estivesse por lá todos os domingos não era o suficiente de jeito nenhum.

-Como você está? -Perguntou preocupado.
-Eu estou melhor agora aqui com você, e sabendo que acabei de chegar, tendo mais cinco horas com você, me deixa muito feliz. -Ele riu.
-Eu também estou muito feliz. Queria ver você, ficar perto de alguém que realmente gosta de mim. Adoro os domingos. -Rimos.
-Como tem passado? -Suspirou longamente.
-Tranquilo, aqui não é tão ruim. Tenho academia, às vezes TV, jogos de futebol. -Deu de ombros. -Até que não é nada mal. Mas o que me mata é não poder ficar com você, transar com você sabe? Eu estou ficando maluco. -Gargalhei sabendo que tinha razão, pois eu também estava louca para ama-lo, senti-lo, ficarmos a sós.

Mas enquanto a isso naquele sistema era um pouco complicado quando se tratava de presidiário com suas mulheres. O sistema era bastante rigoroso e mesmo que havia uma saleta para visitas íntimas eu não me sentia confortável. Sabendo que Henry ficava o tempo todo com algemas quando recebia vistas e dois armários de um lado e outro naquela sala mediana, que se diz carcereiro observando tudo. Um saco.

-Nosso dia vai chegar mais rápido que pode imaginar. -Henry chegou seus lábios em meu ouvindo um pouco, para sussurrar.
-Diz isso para o meu pau. -Gargalhei de novo.
-Amor, para! -Dei uma bronca de leve.

Estávamos absortos em nossa conversa quando a porta de aço se abriu mais uma vez nos tirando atenção. Henry e eu olhamos para saber de quem se tratava. As vezes Luke aparecia por lá, mas sempre íamos juntos, nunca eu primeiro e ele depois. Até porque eu sabia que estava ocupado demais com a empresa.

Foi quando  a figura ansiosa e assustada de Jane despontou fazendo com que Henry se impressionasse com a sua presença depois de tanto tempo, e eu da mesma forma.

-Mamãe? -Sua voz foi um pouco arrastada por finalmente ver Jane diante de si.

Eu sabia o quanto havia sofrido por causa do silêncio da mãe nesses dias. E por mais que não falasse e não demonstrasse, eu sabia que era tudo que precisava. Ele queria conversar, queria lhe pedir perdão, confortá-la e seu distanciamento eu sabia que o matava aos poucos. Mas ela a amava, e isso era muito claro.

Jane caminhou até próximo de Henry, olhava com admiração para o filho. Um pouco desnorteada, parecia que havia chorado antes de chegar até ali.

-Eu precisava vir. -Começou ela. -Precisava olhar em seus olhos e dizer...- Havia lágrimas em seu rosto enquanto falava. -Que eu te amo tanto, Henry.

Henry aliviou sua expressão e lágrimas escorreram por seu rosto igualmente. Aquelas palavras significavam tanto para ele, tanto que o perturbava.

-Não foi culpa minha mãe, eu juro ele... -Henry  tentava se explicar, mas Jane colocou  a mão em sua boca fazendo-o calar.
-Eu sei Henry, e eu nunca o culpei por isso. Eu só tinha medo, medo de olhar em seus olhos e ver que meu filho era parecido com o pai. Aquele homem que me traumatizou.
-Eu fui mãe, eu fui sim. Mas hoje... hoje eu quero mudar, eu não quero ser esse homem, quero dar orgulho a você e principalmente ao Roy.
-Ao seu pai. -Corrigiu ela. -Porque Roy é o seu pai, assim como foi de Luke, ele sempre deixou isso bem claro. Ele só...só não conseguiu lidar com os traumas. Roy nunca pensou mal de ninguém, nunca ofendeu ninguém que quando fez... o que fez com Bernad, ele surtou.
-Ele surtou porque viu a minha imagem em Bernad, mamãe. -Consertou Henry com lamentação.
-Eu sinto muito, meu filho. -Jane foi sincera, dava para ver que sentia, dava para ver que queria que essa história se resolvesse de uma vez e eu o mesmo.
-Eu também sinto, mamãe. -A voz de Henry embargou. -Aquele desgraçado... te maltratou tanto... _O ódio de seu pai biológico aparecia em seu olhar e em sua forma de range os dentes.
-Shiu. Acabou, acabou meu menino. Para sempre está bem?

Henry se jogou nos braços da mãe a abraçando com ânsia, um verdadeiro encontro de reconciliação e perdão. Algo lindo que eu esperava por tanto tempo que eu tinha certeza absoluta que Henry também esperou a vida toda. Não fiquei imune àquela emoção, não teve como não chorar. Aquela chance maravilhosa que Henry teve na vida, algo descomunal.

Jane o perdoou de uma forma que eu sabia que nada mais importaria, as ações de Henry foram perdoadas por uma mãe com um anseio de amar o seu filho, de coloca-lo no colo e cuidar, como se todos os seus pecados fossem sido absorvidos. 


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Se você leu até aqui, muito obrigada. 

A parte um desta trilogia já está no final. Domingo já venho com os últimos capítulos, e então

iremos para a parte dois, Eu quero Você II - Obstinados. Onde Henry narra completamente. 

As coisas vão dar uma reviravolta bem brusca. Fiquem ligados nas emoções. 




Eu quero Você I - Ambiciosos (Sem revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora