Sete horas depois

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Sete horas depois

Meus pais não sabiam onde eu estava e provavelmente eles não se importariam.

Cada um sofreria com a perda de Will da sua maneira e eu não aguentava mais ouvir o choro da minha mãe! Não aguentava mais o silêncio de meu pai — não depois que ele disse que ele seria forte por nós dois, que ele estaria ao meu lado.

Eu acreditei nele.

Não deveria ter acreditado.

Eu estava sentindo minha vida rachar, pequenos trincos em mim, partes já haviam desaparecido. Eu não queria assistir quando a brisa soprasse um pouco mais forte e em estilhaços eu desaparecesse.

Seria o fim de mim.

Eu não existiria mais.

Não mais.

Nunca mais.

Elisabeth desapareceria para sempre.

Entrei no bar, avistei algumas pessoas da escola, retirei minha capa de chuva e a coloquei de lado.

As pessoas estavam me assistindo atentamente, algumas delas me abordaram perguntando se eu estava bem, se eu precisava conversar e disseram a grande mentira de todas: disseram que elas estariam ali para mim, por mim.

Três pessoas me ligaram constantemente naquela tarde, porém nenhuma delas entenderia o espaço que eu precisava naquele momento. Eles queriam que eu falasse, queriam tentar arrancar qualquer verdade que pudessem tirar de mim.

Eu não queria falar sobre William.

Não queria e não iria.

— Olha o que a chuva nos trouxe — Vanessa, a garota mais popular da escola, disse me olhando dos pés a cabeça e assentindo em minha direção.

Eu sabia o que ela estava olhando; medindo o tamanho de minha saia, o decote de minha blusa, a altura de meu salto, o estado de minha maquiagem e as ondulações de meu cabelo.

Ela estava me avaliando e eu estava preparada para aquilo.

Eu apareci consciente do que me esperava e era isso o que eu queria. Isso e nada mais.

Eu queria futilidade, banalidade, ignorância, superficialidade, queria não ter que pensar e não ter que sentir.

Eu...

“Eu já sabia daquilo há um tempo, mas dizê-lo em voz alta dava outro efeito.”

William foi meu tutor na arte de não se importar. Ele me ensinou uma valiosa lição que eu não ousaria me esquecer.

Amar não valia a pena.

Sentir não fazia sentido.

Viver a margem da sociedade o tornaria invisível aos olhos de todos menos daqueles que se importavam.

Ninguém realmente se importava comigo.

Amar é sofrer.

— Eu quero um shot de tequila — eu sabia que era a mais forte, afinal eu já a havia experimentado, mas não queria ficar bêbada aos poucos, eu só queria acabar com o vazio do meu peito antes que as pessoas o vissem.

— Você é maior de idade? — o garçom perguntou me encarando.

Ele realmente poderia estar em dúvida, eu havia caprichado na maquiagem para aparentar ser mais velha do que era.

— Ela está comigo — Vanessa colocou um braço ao redor do meu ombro e ele assentiu na direção dela preparando um shot para mim — o que você está fazendo aqui?

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