Seis meses depois
O tempo é algo relativo.
Um ano de felicidade passa rápido.
Um segundo de agonia demora.
Ao menos foi o que as pessoas me disseram quando eu perdi Will.
Disseram que a princípio eu ficaria mal e depois tudo melhoraria. Disseram-me que eles sempre estariam comigo para qualquer situação.
Não acredito neles.
Eu sofri — sofro — pela sua morte, mas a última coisa que eu faria era ficar trancada no quarto ou em casa já que era um lugar que as memórias dele estavam tão recentes e frescas que eu poderia jurar ouvir sua risada ecoar pelo corredor.
Preferi sair, beber e afogar a minha dor na felicidade dos outros, tentando encontrar uma pessoa que não conhecesse meu nome e não se importasse com a morte de William.
Eu queria alguém que não quisesse nada de mim.
Fiz isso por meio ano e percebi que não estava me ajudando muito, apenas me afastando daqueles amigos que verdadeiramente estavam lá por mim, afastando-me até mesmo de minha família.
Essa época foi uma droga.
O natal foi o pior dia do ano.
William gostava de arrumar a árvore de natal comigo enquanto minha mãe cozinhava alguns biscoitos e meu pai desembalava os enfeites.
Naquele ano, o natal foi um dia comum com meu pai trancado na oficina, minha mãe lavando a louça e eu com as pessoas que não se importavam com a data.
Eu me perdi e não sabia se eu queria ser encontrada.
Então decidi o que iria me fazer superar a partida de Will, pois estava ficando muito caro sair todos os dias da semana, os sete, para beber tentando esquecer-me dele.
O dinheiro estava com os dias contados, talvez eu tivesse para mais duas semanas insanas.
O que eu iria fazer era...
Arrumar o seu quarto.
Entrei como se fosse qualquer outro dia de faxina, estava até com roupas próprias para organizar seus objetos empoeirados e limpar o chão.
Mamãe sempre disse que nós deveríamos nos livrar daquilo que poderíamos, deixar apenas o importante, pois desse jeito não conseguiríamos fazer o seu espírito ir embora em paz.
Comecei com o guarda-roupa.
Por semanas eu fui contra a venda e doação das roupas dele. Não pensava que ele poderia voltar, mas quando eu abria a porta do seu quarto para espiar, era como se ele nunca tivesse ido embora.
Comecei a dobrar, uma por uma, empilhando e separando-as entre calças, moletons, blusas e meias. Eu não iria entregar para ninguém as cuecas dele. Não era saudosismo, era higiene, ele nunca foi um garoto exemplar para seguir o horário do banho.
Não sei se havia passado muito tempo ou não desde que eu havia começado a limpeza geral, porém assim que terminei com as roupas, peguei os tênis, passei um aromatizante e os coloquei ao lado das roupas.
Tudo que fosse dispensável eu doaria. Embaixo do mesmo teto que eu estaria apenas a essência de William, o resto seria dos outros, pessoas quem não saberiam de sua história.
Eu esperava que as roupas fossem para o continente, não seria muito bom se eu encontrasse com alguém vestindo o mesmo moletom verde-musgo que eu lhe dei de presente de aniversário no ano anterior, ou algo assim.
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Estilhaços
Teen FictionPor que você precisa do amor? Você não precisa. Por que você sente saudade? Você não sente. Como seguir em frente? Você não segue. Elisabeth Marshall viu seu mundo despedaçar com a morte de seu irmão, Will. Cada. Pequeno. Estilhaço. Desapareceu bem...