Estilhaços

Uma semana depois

Uma semana depois

— Por que você terminou com ele? — Carrie perguntou enquanto retornávamos para a minha casa.

— É complicado — meneei a cabeça.

Não queria que as pessoas soubessem do motivo para eu ter brigado com Jason. Não queria que ninguém ficasse olhando para mim e pensando sobre William.

Eu só queria deixar todo o drama de lado e continuar vivendo, mas era difícil, pois tudo me lembrava de Jason.

Eu olhava para o lado e pensava em como eu gostava de tê-lo ali. Fechava meus olhos e lembrava-me do seu beijo. Ouvia uma risada e sorria por me recordar da dele. Fazia a lição e comentava comigo mesma como eu gostaria que ele pudesse me explicar tudo aquilo depois.

Instintivamente eu o encontrava em todos os lugares.

— Eu gostava de sair com vocês dois — resmungou Carrie parecendo uma garotinha que não conseguiu a boneca que havia pedido de natal para sua mãe.

Eu não estava mais conversando com Jason, ele também não procurava me cumprimentar no corredor ou segurar a porta caso eu estivesse andando logo atrás dele. Era como se eu nem ao menos existisse em seu mundo.

Scott estava sempre atrás de mim, perguntando se eu tive algum progresso enquanto ao assunto de seu celular, porém eu não tinha e não estava preocupada em procurá-lo tão cedo, ainda não tive coragem para falar com ela.

Isso seria o mesmo que ir conversar com Vanessa e eu não estava entusiasmada em conversar com ela enquanto queria perguntar o que mais ela sabia e eu não.

Meu orgulho me impedia, dizia que eu não poderia ser tão ignorante sobre a vida de meu irmão quanto ela pensava.

Eu queria não ser tão ignorante sobre a vida de meu irmão.

— Bem, ele mentiu para mim e eu não gosto de mentiras — isso era verdade, o mais verdadeiro que eu poderia deixá-la saber.

— Então isso não é temporário? — havia algo como esperança em sua voz e eu me senti péssima por ter que fazê-la destruir aquele fino fio de felicidade futura.

— Eu não sei, eu só preciso de um tempo, ele me magoou — virei meu rosto e me deparei com ele.

Nossos olhos se encontraram e eu prendi minha respiração com medo que ela fosse espantá-lo para longe de mim.

Então eu espirei e desviei meu olhar voltando a falar com Carrie como se nada tivesse acontecido. Como se meu coração ainda estivesse batendo normal. Como se minhas mãos não estivessem suando.

— Ficou sabendo de Jessamine Pietr? — ela me perguntou do nada.

— A descendente de russos? — tentei recordar-me da garota, porém seu rosto era um borrão não identificado em minha mente —há muito tempo eu...

— Exatamente — ela exclamou e eu saltei de susto — encontraram o corpo dela.

— Encontraram... o corpo? — prendi a respiração.

— Overdose, ela morreu.

Fiquei olhando para frente sem realmente prestar atenção no que eu estava vendo.

Como assim ela morreu?

No entanto eu não estava muito disposta a ouvir tudo o que Carrie tinha a dizer sobre o assunto, e, pelo rosto pálido dela, eu percebi que a fofoca havia terminado ali mesmo.

— Tudo bem, podemos passar na loja de minha mãe qualquer hora, ela está preparando uma nova receita para uma torta de framboesa que parece fabulosa — ela ligou seu braço ao meu e nós caminhamos até o refeitório enquanto ela falava sobre qualquer coisa, qualquer coisa que não se referisse a Jason — eu acho que ela desconfia que eu já estou em um nível avançado de piano e eu acho...

— Você está gostando! — exclamei.

Aquele comentário fez as suas bochechas ficarem rosadas.

— Não é exatamente isso, eu gosto de piano, ontem imprimi uma partitura com uma sinfonia de Beethoven... genial, apenas isso. Ele criou algo revolucionário ainda que surdo, eu não conseguiria imaginar aquilo mesmo depois de anos ouvindo sinfonias o tanto que ouço.

— Carrie, por que você não admite gostar de tocar piano e explica para sua mãe que não quer tocar órgão? Ou você quer...

— Não é isso — ela estava ainda mais vermelha, eu estava certa, de novo — eu só não quero que ela escolha por mim. Eu quero poder escolher se quero ou não tocar sem que ela insista e me influencie. Entende? Quero escolher por mim.

“Seu irmão não precisava de você para decidir o que queria ou não fazer.”

Eu entendia, por pior que fosse, agora eu entendia.